quinta-feira, 26 de maio de 2011

Piratas das Caraíbas: Por Estranhas Marés (crítica)


“Piratas das Caraíbas: Por Estranhas Marés” é mais um daqueles filmes que nos deixa com aquela dúvida: “Então mas não tinham nada melhor onde gastar o dinheiro?”.
Depois de três filmes de aventura e acção absolutamente extraordinários, com Johnny Depp e Geoffrey Rush a criarem duas das personagens mais deliciosas do cinema contemporâneo, este quarto título da série é de uma banalidade confrangedora. Culpa do realizador e dos argumentistas.
O argumento é mesmo o pior que o filme tem. Não tem qualquer interesse, qualquer reviravolta, qualquer emoção. Parece uma ida ao supermercado para reabastecer a despensa... A história é enfadonha, e desprovida de personagens interessantes. Penélope Cruz é apenas mais uma redonda asneira no filme. Há quem a ache bonita (mau gosto!), há quem a ache boa actriz (nem inglês sabe falar!), eu acho-a simplesmente bah!. O próprio Johnny Depp parece andar aborrecido no filme inteiro, muito longe das tiradas geniais que nos puseram a idolatrar Captain Jack Sparrow.
Deixo uma nota de ressalva para Ian Mcshane por conseguir fazer um brilhante Barba Negra – completamente desaproveitado no filme. Creio que é a primeira vez na série que um actor consegue fazer sombra a Johnny Depp.
Pelo meio, temos o clérigo e a sereia, que ninguém percebeu para que serviram no filme (é “isto” que é suposto substituir o Orlando Bloom e a Keira Knightley? Antes o Mickey e a Minnie....), e que toda a gente percebeu que “vão voltar no próximo filme”.
De resto, temos personagens espanholas a falar inglês com sotaque (vergonhoso), tentativas de repetição de partes do primeiro filme, cenas tão prolongadas que causam bocejos (Johnny Depp cinco minutos a saltar por cima de carruagens, ou espadachins que passam dez minutos a dar voltas ao mesmo cenário).
Até mesmo os temas de recorrência que deram alma à saga foram postos de parte. Não se fala de “sea turtles”? Não aparece “o cão das chaves”? Nem uma única referência ao chapéu do capitão? Nada? Nadinha de nada?
Se ainda não disse mal o suficiente do filme, acrescento que... é em 3D! (Morre James Cameron, morre, morre, morre!)
O coup-de-grace chega quando dois dias depois decidi rever o primeiro filme da série...  aí então...
Quero os meus € 6,70 de volta!

Pelo melhor: Os cenários sempre deslumbrantes, e Ian Mcshane.

Pelo pior: Tudo! E ainda ser 3D, e ter Penélope Cruz.
 "Porque no te callas?"

 "Ó Elsaaaaaaaaaaaaaa..."

 "Um quinto filme?!!? Só se me arrastarem..."

domingo, 22 de maio de 2011

Panteão: Hans Zimmer

Se um dia THE PSY escolhesse outros deuses para se juntarem a si no Panteão... quem escolheria?
Hans Zimmer!
O meu fanatismo por Hans Zimmer iniciou-se no já muy longínquo ano 2000 AD, à saída de uma sala de cinema. Tinha acabado de ver o “Gladiador”, e alguns minutos mais tarde estava a comprar a banda sonora do filme. Já nessa altura eu era um consumidor ávido de bandas sonoras, muito graças a outra entidade divina de seu nome John Williams. Mas o que Hans Zimmer fez no Gladiador foi algo verdadeiramente inovador. A música tinha uma força que já não era explorada desde os tempos de outro alemão, de seu nome Richard Wagner, porventura o músico mais importante para o que viria a ser a evolução musical no século XX.
Zimmer conseguiu aperfeiçoar aquilo que John Williams já usava com inigualável genialidade, e que nos leva de volta a Wagner. O leitmotif. Uma técnica de composição  que gera acordes poderosos e que são repetidos de forma intensa, deixando o ouvinte mesmerizado, associados a uma determinada personagem ou situação. Que me perdoem os estudiosos de música a imperfeição da minha linguagem...
Se o meu amigo, e agora colega de panteão, se tivesse limitado a ser um criador de temas operáticos cheios de intensidade, já seria um dos maiores compositores dos últimos cem anos, mas o meu deutsche freund teima em ser muito superior a isso. Zimmer tem uma carreira variadíssima, onde se dá ao luxo de explorar todos os ambientes, e conseguindo sempre inovar, e criar novos temas que são tão viciantes como trufas de chocolate belga. Criou um tema cheio de humor enérgico para “Madagáscar”, criou duas bandas sonoras quasi-religiosas para “O Código DaVinci” e “Anjos e Demónios”, e deu vida a um “Dark Knight” negro, soturno, capaz de transparecer todo o ambiente desolador das histórias de Batman, contadas por Christopher Nolan, e também acompanhar o mesmo realizador na fenomenal epopeia “Inception”, com um dos temas mais assombrosos da história do cinema. Já agora, convém não esquecer o comovente “O Último Samurai”, apenas ao alcance eclético de alguns.
Quando um dia destes a Humanidade decidir compor uma sinfonia para homenagear THE PSY, será o meu amigo Hans a fazê-la.
Por agora, sugiro que espreitem o youtube para se deixarem render pela mais extraordinária música que a Humanidade produziu nos últimos 15 anos: “Chelaviers de Sangreal” – link


segunda-feira, 9 de maio de 2011

“A Catedral do Mar”, de Ildefonso Falcones


Barcelona, século XIV: Arnau é um jovem “bastaix” que ganha a vida a carregar os portentosos pedregulhos que darão vida a Santa Maria do Mar, a enorme catedral construída pelo povo da cidade. Acompanhamos Arnau desde que nasceu, e que fugiu com o seu pai aos abusos do nobre que governava as terras em que habitavam. Vêmo-lo crescer nas pulsantes ruas de Barcelona, descritas por Ildefonso Falcones (um maldito espanhol!) com uma mestria comovente. As profissões que ganham vida pelos bairros de Barcelona são caracterizadas exaustivamente, mostrando o enorme trabalho de investigação que o autor conduziu para conseguir fazer nascer esta obra grande da literatura. A própria constituição do interior das casas não escapa ao desenho que as palavras formam. As relações entre nobres, membros do clero, povo, judeus, cidadãos, tudo é minuciosamente pintado pelas letras de Falcones. A vida de Arnau é dura – muito dura! – e passamos todo o tempo a torcer pelas pequeninas vitórias desta magnífica personagem que nos enfeitiça com o seu carácter, cheio de falhas, audácia, e, tantas vezes, ingenuidade.

Nunca um livro me conseguiu fazer navegar de forma tão realista pelas ruas de uma cidade, tal como Ridley Scott nos fez navegar por Roma, recriada em 3D no maravilhoso “Gladiador”. Os edifícios, as pessoas, as profissões, as igrejas, a conduta moral muito diferente dos dias de hoje, as regras impostas por nobreza e clero, as ordens profissionais e as suas exigências, o árduo trabalho de um jovem que desde que o sol nasce, até que o sol se põe, carrega blocos de pedra para criar a catedral do povo, e que aguarda pelo momento em que as suas costas descansam apenas para beber um pouco de água, e comer uma malga de arroz.

Para escrever bem, é preciso talento. Para escrever bem ficção histórica, é preciso talento, e muito trabalho de cultura e investigação. Para escrever “A Catedral do Mar”, é preciso tudo isso, e ainda uma dose generosa de dedicação e entrega a um projecto de dimensões proporcionais a uma catedral. Este maldito espanhol está, portanto, autorizado pela minha ilustre pessoa a pedir a nacionalidade Portuguesa.

Ainda vou na página 400, das 818 que o livro oferece (Bertrand, 2010), e não tenho qualquer pressa de o acabar. Quero que este livro seja como o coelhinho da Duracell, que dura, e dura, e dura...

Agradeço ao muy estimado Dom Nuno I por me ter sugerido esta preciosidade. Quando tiverem um amigo que faça anos, ofereçam-lhe “A Catedral do Mar”. Se ele não gostar, partam-lhe os dentes.

Uma pequenina nota final para o condecorável trabalho de tradução por parte de Ana Duarte.

Ide agora, meus caros, pois eu tenho uma catedral para acabar de construir...