quinta-feira, 16 de junho de 2011

“Dune”, de Frank Herbert

Durante várias décadas a ficção científica e a fantasia foram considerados géneros literários menores. Entre o legado que o século vinte deixa para a História, fica o crescimento e afirmação destes géneros, embora ainda tenha sido no século anterior que surgiu aquela que talvez tenha sido a obra que mais importância teve para a ficção/fantástico: o inestimável “Drácula”, de Bram Stoker.
“Dune” foi escrito por Frank Herbert nos anos 60. É, porventura, uma das obras maiores de toda a Literatura. Creio que a sua dimensão ainda não foi inteiramente assimilada, mas estou certo que a Humanidade um dia chegará lá...
A história de Dune decorre no futuro, numa era onde existe um império galáctico, governado pelo Padisha Emperor Shaddam IV, e composto por várias Casas Nobres, povoadas por duques e barões. A base de toda a economia galáctica reside na exploração de “especiaria”, uma substância que, entre outras coisas, permite as viagens interplanetárias.
He who controls the spice, controls the Universe.
E a especiaria só existe num único planeta em todo o Universo: Arrakis, o planeta desértico também conhecido como Dune.
A história inicia-se com a chegada da Casa Atreides a Arrakis, para tomar nas suas mãos o controlo da exploração da especiaria, retirando-o à Casa Harkonnen. A densidade da intriga política que se esconde por trás desta decisão do Padisha Emperor Shaddam IV é apenas uma das múltiplas riquezas de Dune.
Política, Profecia, Ecologia e Civilização, estes são os quatro pilares que definem a saga. Raras vezes um livro se concentrou tanto na ecologia de um planeta. Arrakis é a verdadeira personagem principal da história. Todas as personagens que entram em Dune são meros figurantes, com excepção de Paul e da sua mãe, Jessica. Frank Herbert não era um escritor por aí além, mas a perfeição com que conseguiu caracterizar o planeta desértico, habitado pelas impressionantes minhocas gigantes que vivem nas areias de Dune, e pelos enigmáticos Fremen, que olham para a água como o bem mais precioso do Universo, e que têm os olhos toldados por uma névoa azul, efeito da exposição à especiaria, garante-lhe um lugar de destaque na literatura fantástica.
Toda a obra é imersa numa forte profecia, misturada por uma mitologia muito peculiar, tendo conseguido produzir algumas das frases mais marcantes da ficção científica.
Fear is the mind killer.
The sleeper has awakened!
He is the Kwisatz Haderach.
A juntar-se a este património há ainda a riqueza de termos, muitos de inspiração árabe, que povoam o livro, como desde logo “a jihad”.
Dune é filosofia, religião, ciência, mito, uma viagem profunda pela criatividade que faz dos humanos a espécie dominante, não de Arrakis, mas do planeta Terra.
Quando vos perguntarem que livro levariam convosco se fossem para uma ilha deserta, respondam “Dune”, sem hesitar. Aproveitem para levar uma garrafinha de “Water of Life”, para quando o terminarem...
 
The beginning is a very delicate time. Know then that it is the year 10191. The Known Universe is ruled by the Padishah Emperor Shaddam IV, my father. In this time, the most precious substance in the universe is the spice Melange. The spice extends life. The spice expands consciousness. The spice is vital to space travel. The Spacing Guild and its navigators, who the spice has mutated over 4,000 years, use the orange spice gas, which gives them the ability to fold space. That is, travel to any part of universe without moving.
Oh, yes. I forgot to tell you — the spice exists on only one planet in the entire universe. A desolate, dry planet with vast deserts. Hidden away within the rocks of these deserts are a people known as the Fremen, who have long held a prophecy that a man would come, a messiah who would lead them to true freedom. The planet is Arrakis, also known as Dune.
- Princess Irulan

terça-feira, 14 de junho de 2011

X-Men: First Class (crítica)

Os filmes de super-heróis estão na moda. E isso são boas notícias? Nem por isso...
Desde que os dois gigantes dos comics americanos - Marvel e DC - se aperceberam que as vendas das bandas desenhadas de super-heróis se estavam a afundar arriscaram numa aposta inteligente: o cinema. Não só já têm um longo património construído (quer em termos de histórias, quer em termos de fãs), como conseguiam uma espécie de “co-geração”: tinham receitas com os filmes, e aproveitavam para fazer publicidade aos seus históricos heróis.
Depois de ter sofrido com os inenarráveis “X-Men 3” e “Wolverine” a minha vontade de ir ver “X-Men: First Class” não era por aí além. Mas um grupo de vilões intergalácticos acabou por me arrastar para o cinema, e logo no Dia dePortugal!
O filme está bastante superior ao que era expectável, o que é muito bom. Mas não é menos verdade que já nos habituámos a não esperar muito de Hollywood... Nos dias que correm, é preciso ir cinco vezes ao cinema para conseguir apanhar um filme decente. A criatividade é um recurso escasso. Os argumentos são cada vez mais substituídos por “efeitos digitais” (na minha perspectiva, nem merecem ser considerados efeitos especiais na maioria das vezes). E quando uma pessoa está sentada numa sala de cinema, e já antecipa os próprios diálogos que se vão desenrolar... torna-se aborrecido. Outrora, uma ida ao cinema era uma excitação grande. Actualmente, é como ver a abertura das notícias às 20h: passados os primeiros 2 minutos começamos a fazer zapping...
Mas vamos aos pontos positivos do filme. Em primeiro lugar, um monumental destaque para um filme que é falado em nada menos do que cinco línguas. Para ser perfeito só faltou que uma dessas línguas fosse a de Camões. Inglês, Francês, Alemão, Espanhol e Russo. Depois da vergonha que foi ver no “Piratas das Caraíbas 4” os espanhóis a falarem “inglês com sotaque”... Palmas de pé para quem teve o arrojo de colocar os actores a falar tantas línguas! E aqui há aquele que a meu ver é o outro destaque do filme: Michael Fassbender. Não faço ideia quem é este gajo. Não me lembro de o ter visto em qualquer outro filme. Mas consegue criar um Erik Lehnsherr (vulgo Magneto) com dimensão, identidade, e muita categoria. Todo o elenco está muito bem, mas Fassbender está simplesmente brilhante. James McAvoy interpreta um Professor X muito diferente do habitual, mas que consegue um bom resultado. A parceria com Jennifer Lawrence (toda giraça, mesmo quando está azul - Mystique) dá uma química muito própria, e cheia de dinâmica, ao filme.
Não irei revelá-lo aqui, mas há ainda um “convidado especial” no filme, porventura inesperado, que faz “o momento do filme”.
Entre os pontos negativos do filme, uma clara referência aos previamente mencionados “efeitos digitais”. Gastam milhões de dólares em efeitos de computador para termos um submarino a ser arrancado do mar, a ser arrastado ao longo de uma praia, e depois temos um quarto de hora de cenas passadas na praia, com o submarino em pano de fundo, e a praia toda limpinha, e arranjadinha, como se nada se tivesse passado... Era preciso assim um génio tão grande para notar isto?

Pelo melhor: a interpretação marcante de Fassbender, e o facto de, pasmem-se!, o filme não ser em 3D!

Pelo pior: o “Fera” que parece um boneco de peluche azul com brilhantina, cruzado com um dos macacos originais de “O Planeta dos Macacos”.
 “The Force is strong with you, young Skywalker... mesmo que tenhas um balde da Tupperware na cabeça.”
“Acredita... se apagares a luz, debaixo dos lençóis nem dás por eu ser vermelho e ter cauda...”