segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Super 8 (crítica)


2011 está (pelo menos até ao momento) a ser um dos anos mais medíocres em termos de cinema (Hollywood). Depois de fiascos absolutos como “Sucker Punch” e “Transformers 3”, e desilusões como “Tron Legacy” e “Piratas das Caraíbas 4” já começa a tornar-se difícil abrir a carteira para pagar mais um bilhete de cinema. Mas quando aparece um novo filme de J. J. Abrams, produzido por Steven Spielberg, e rodeado de secretismo e suspense... uma pessoa fica com a pulga atrás da orelha. Afinal, J. J. Abrams é um dos realizadores/produtores que de momento mais crédito me merecem (então depois do colossal “reboot” de Star Trek em 2009...).
“Super 8” é essencialmente um tributo de Abrams aos primeiros filmes de Spielberg, aqueles que nos anos 70 e 80 enchiam o cinema de magia. As semelhanças com “E.T.” e “Os Goonies” são muitas, e propositadas. Não vou falar muito do filme, mas confesso que tanto secretismo em redor do mesmo acabou por resultar num “então mas afinal era só isto”? O argumento (também escrito por Adams) não é muito original, nem propriamente criativo. Tem, isso sim, uma densidade/profundidade muito enriquecedora em termos das relações humanas, que exploradas magistralmente pelos jovens actores valorizam bastante o filme. A história roda em torno de um grupo de miúdos que, no final dos anos 70, se entretém a fazer um filme de zombies. No meio desta aventura, um comboio descarrila e... meia hora depois a Força Aérea Americana chega à cidade...
A realização característica de Abrams está, como de costume, muito boa, e a forma como consegue arrastar o suspense durante mais de hora e meia é cheia de mérito. Mas, quando ao fim dessa hora e meia chega “a verdade” é difícil não ficar com a sensação de “bah, esperava-se algo menos cliché”.
A crítica tem recebido muito bem o filme, e de facto é uma das excepções ao que o ano 2011 tem oferecido em termos de cinema.
Há ainda algo em que o filme merece nota 20: os jovens actores. Não me recordo de ver um grupo de miúdos (quase todos desconhecidos) a fazer um conjunto de interpretações tão marcantes. E aqui, indiscutivelmente, o Oscar vai para Elle Fanning. A miúda é soberba, e dá lições de interpretação a muitos actores veteranos de Hollywood. O filme tem duas cenas em que ela arrasa por completo a objectiva. Uma delas, dramática até dizer “chega”, deixa uma pessoa de boca aberta a deliciar-se com o nível de perfeição da rapariga. Os três minutos que dura a cena em que ela vê uma projecção de um filme de família antigo são de bradar aos céus, e justificam bem um Oscar.
Posto isto, é um filme interessante, que não desilude, mas que também está longe de encher as medidas. Há excessos perfeitamente desnecessários, como o idiótico descarrilamento do comboio em que J. J. Abrams fez questão de fazer uma sequência explosiva para cada um dos vagões do comboio. Dá a sensação que são 10 comboios diferentes a descarrilar/explodir cada um de forma mais espectacular (no mau sentido) do que o anterior.
Somente no final, já quando os créditos estão a rodar, é que se percebe o resultado do filme dos zombies, que tem momentos e referências deliciosamente hilariantes (“Romero Chemicals” é divino).

Pelo melhor: a química esplêndida de um grupo de jovens actores com menos de 15 anos, que é coroada por mais uma confirmação do talento daquela que antigamente era conhecida apenas por “a irmã da Dakota Fanning”.

Pelo pior: o sentimento de “faltou aqui qualquer coisa”, motivado pelo mistério que os produtores quiserem criar em redor do filme.

“E.T. phone hooooooooooooome”

“I would like to thank the Academy...”

 “Eu já disse que não me chamo Frodo Baggins... e NÃO sou um hobbit!”