quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O Livro de Reclamações


Antigamente vigorava aquela máxima “o cliente tem sempre razão”. Apesar de ser obviamente um exagero denotava o cuidado e atenção que existia para com os clientes. Infelizmente, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, e os clientes são cada vez mais tratados como números (ou como bichos). Falta de educação básica por parte de quem atende está muitas vezes na origem das queixas dos clientes, mas a fraca qualidade da prestação de um serviço não deve ser de modo algum deixada em branco.
Muitas vezes indignamo-nos com certas atitudes, mas como somos um país de brandos costumes, acabamos quase sempre por encolher os ombros e assumir a postura de “não vale a pena uma pessoa chatear-se”. Errado. Quanto menos mostrarmos a nossa indignação, mais vão abusar da nossa boa-fé.
É para isso que existe o “Livro de Reclamações”. Infelizmente as autoridades Portuguesas nunca se preocuparam muito em informar os cidadãos quanto aos seus direitos, e quanto ao recurso ao Livro. Limitam-se a exigir que seja colado um poster na parede a dizer “neste estabelecimento existe livro de reclamações”.
Um cidadão não deve hesitar ou “ter vergonha” de exigir o Livro de Reclamações quando confrontado com uma situação que entenda ser lesiva para a sua dignidade, nem deve vacilar quando alguém “vai chamar um qualquer chefe” que cheio de paleio tenta dissuadir a pessoa de apresentar a reclamação, ou até mesmo intimidá-la. Se for esse o caso, o cidadão até deve apresentar duas queixas distintas no Livro.
A Lei obriga a que uma reclamação seja declarada no espaço de cinco dias úteis à autoridade competente (e que erradamente, a meu ver, não é apenas uma autoridade, mas varia consoante o sector). Aquando do preenchimento, este é realizado em triplicado, sendo que uma cópia é para o queixoso, outra é para o estabelecimento/serviço sobre o qual pende a reclamação remeter à autoridade, e a terceira cópia fica sempre no livro, não podendo ser removida.
Antes de um cidadão preencher uma reclamação deve fazer um rascunho, enunciando claramente os motivos da sua queixa, e deve fazê-lo num texto curto e objectivo. Devem ser evitadas quaisquer “adjectivações feitas com a cabeça quente”, ou juízos de valor. Posteriormente, o reclamante pode (e deve) enviar uma cópia da folha que ficou consigo para a administração da empresa e para a autoridade competente.
Sempre que possível e necessário devem ser guardadas todas as facturas, e anotadas todas as datas, horas, e outras informações relevantes. Se o caso for particularmente grave, devem ser procuradas testemunhas, ou contactado um advogado.
As autoridades competentes irão então avaliar o caso e, se assim o entenderem, poderão multar a entidade sobre a qual recai a reclamação.
Esta é a única forma de garantir que somos respeitados, e que os abusos de que fomos alvo não se repetem com outras pessoas.
Eu já apresentei reclamações relativas a um fornecedor de energia, a uma grande superfície comercial, a um operador de comunicações, a uma empresa pública de estacionamento, e a uma câmara municipal, entre outros. A conclusão a que cheguei é simples: dirigir uma reclamação à administração de pouco ou nada serve, porque não se dignam a responder, ou fazem-no com aquelas cartas pré-formatadas onde nos garantem que “o nosso contacto foi alvo do mais alto interesse e que nos estão gratos por blablablablabla”. Na queixa que apresentei no referido operador de comunicações até tiverem a “nobilíssima atitude” de mandar um desgraçado do call centre telefonar-me, para dar resposta à minha queixa, mas onde o pobre coitado nem sequer tinha tido acesso à carta que eu enviara, e portanto nem sabia ao certo do que tratava o assunto. Eu agradeci-lhe a atenção, respeitando o trabalho dele, e disse que não valia a pena continuar com o telefonema.
Moral da história: se acham que a reclamação merece a devida atenção, peçam o livro.
Mais informações a respeito deste procedimento podem ser consultadas no site da Deco: link
Para pedir informações ou aconselhamento, pode ainda ser contactada a ASAE, autoridade que fiscaliza boa parte dos sectores em questão.

Nota: Este blogue NÃO dispõe de Livro de Reclamações.


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Carcassonne


O quê? Existem mais jogos de tabuleiro para além do Monopólio? Sim, existem!
É curioso ver as voltas que a sociedade dá, e constatar que o que há uma dúzia de anos era uma “coisa de totós”, hoje em dia é algo “cool”. Os jogos de tabuleiro têm conseguido ganhar uma expressividade notável nos anos mais recentes. Numa altura em que os comuns mortais parecem cada vez mais vegetar em casa em frente aos computadores a fazer “likes” e “pokes”, as actividades de grupo que promovem – espanto! – a interacção entre pessoas conseguem conquistar adeptos.
Há um ano, alguns dos comuns mortais que têm o distinto prazer de ser meus amigos ofereceram-me o “Carcassonne”. É um jogo fascinante, onde os jogadores constroem um mapa de cidades medievais, e onde através dos seus cavaleiros, camponeses, ladrões, monges (etc.) ganham pontos. Cada jogador vai colocando peças de cenário, e reclamando cidades, estradas, quintas e por aí fora, ganhando pontos no processo. O jogo torna-se tão mais divertido quando se joga com a expansão “Catapulta”, que traz regras adicionais ao jogo, entre as quais a possibilidade de seduzir os peões dos nossos adversários, ou atirar-lhes tartes ao focinho até caírem para o lado (no sentido figurado, entenda-se). Tudo isto feito com uma pequena catapulta de madeira que faz voar peças para o meio da mesa de jogo (literalmente, entenda-se).

As regras do jogo são simples, o que torna Carcassonne bastante mais interessante, pois qualquer jogo de tabuleiro que traga um “manual” é seguramente para ninguém pegar nele. As regras ocupam uma folha (ok, ok, dobrada ao meio!!!), e garantem uma hora de jogo e de paródia. Podem ser vistas em PDF no site oficial do jogo: link
Já agora, a título de curiosidade, Carcassonne é o nome de uma cidade real, situada em França, conhecida pelas características torres do seu castelo.
Para além do jogo de base existem umas quantas expansões que adicionam regras especiais. Tornam-no mais interessante, é certo, mas dificultam a aprendizagem a jogadores novos.
Só há uma coisa em “Carcassonne” de que eu não gosto, que é o facto de eu nunca ganhar. Não percebo. Acho que as regras têm uma falha qualquer...

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Revista Bang! Nº 11

Face ao seu mercado muito reduzido, Portugal nunca teve grande capacidade de produção de revistas dedicadas à divulgação de ficção-científica, fantasia ou terror, quer em termos de edições profissionais, quer em termos de fanzines. A editora Saída de Emergência ao longo da última década apostou em força no lançamento de títulos destas temáticas, indo buscar os grandes clássicos e ao mesmo tempo acompanhando a evolução de novos escritores. Pelo meio criou a Revista Bang! (que também se assume como uma espécie de movimento), dedicada à discussão e divulgação de FC, fantasia e horror. Após algumas fases de indefinição, em 2010 fechou uma parceria com a FNAC para a distribuição em massa, de forma gratuita, da revista.
Devo começar por dizer que a qualidade é verdadeiramente surpreendente, para mais tratando-se de um produto gratuito. Todas as revistas, que são lançadas trimestralmente, oferecem uma série de contos, tanto de autores consagrados, como de novatos, juntamente com entrevistas e artigos de excelência em redor destes universos.
Um pormenor curioso da revista é o facto de ter entre alguns dos colaboradores regulares Fernando Ribeiro, o vocalista dos Moonspell.
Este número 11 mantém a linha gráfica espectacular das revistas anteriores, e centra-se maioritariamente na ficção-científica, dando espaço obviamente para os outros temas. Um dos artigos que a meu ver merece destaque tem a ver com o percurso da saga “As Crónicas de Gelo e Fogo”, onde é apresentada uma interessantíssima viagem pela faceta editorial desta saga plena de sucesso a nível mundial (e da qual já aqui falei), e da relação entre editores, tradutores, e o papel crucial do marketing em todo este cenário.
Para além disto, há também um artigo interessante sobre o movimento da literatura “pulp” em Portugal, de autores Portugueses durante o século XX, e como passou praticamente silenciado durante anos de ditadura e censura. O artigo serve de lançamento para uma colectânea de contos neste âmbito que a Saída de Emergência conta lançar antes do final de 2011.
Na minha divina opinião, esta é uma iniciativa excelente, cheia de mérito, e rezo a mim próprio para que esta parceria entre a FNAC e a Saída de Emergência se prolongue por muitos e bons anos.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Contágio (crítica)


 
Um elenco de fazer cair o queixo: Laurence Fishburne, Gwyneth Paltrow, Matt Damon, Jude Law, Kate Winslet e Marion Cotillard;
Um realizador com provas dadas: Steven Soderbergh (Ocean's Eleven, Traffic);
Estes dois elementos são suficientes para fazer um grande filme?
Sem um argumento sólido: não.
"Contágio" tem um ponto de partida muito promissor: um retrato do comportamento humano na presença de uma epidemia à escala global. É notório que o filme foi roubar a inspiração ao que se passou em 2009 com a Gripe A.
Se fosse um documentário, seria muito bom, mas tratando-se de um filme, deixa um sentimento de "faltou aqui qualquer coisa".
O "crime" principal de "Contágio" é a total ausência de ritmo no filme, o que aliado a um argumento muito pouco trabalhado dá cabo do que poderia ser um bom drama cinematográfico. O filme arranca bem, e desde logo apresenta um ambiente muito realista, inclusive do ponto de vista científico. Mas pouco depois disso parece "desligar-se". Há cenas que se arrastam sem nada acrescentar à história; as personagens não são alvo de qualquer desenvolvimento (a empatia entre o espectador e qualquer personagem é nula); o "medo" que serve de tema ao filme nunca é visível; o caos começa de um momento para o outro, e logo a seguir desaparece.
Mesmo do ponto de vista informativo o argumento é pouco explorado. Exceptuando uma referência a "tocamos na cara entre 3 a 5 mil vezes por dia", e uma ou outra nota de rodapé sobre o número de vítimas da gripe espanhola, nada mais há a referir. Há personagens que entram e saem do filme sem se perceber o que lá estão a fazer.
É pena sair da sala de cinema com esta sensação de "vazio", porque alguns elementos deixam a entender que o filme podia ter sido mesmo muito bom, mas ficou-se pelo "podia".
Vale por ser um tema actual, e por saber sempre bem ver um grupo de actores extraordinários. Mesmo Gwyneth Paltrow que apenas tem direito a cerca de 10 minutos de ecrã deixa um contributo muito bom.
Enfim, a minha tese continua a provar-se correcta: 2011 é mesmo o ano mais desinteressante do cinema nos últimos 4999 anos.

Pelo Pior:
O ficar quase tudo por cumprir. A história, o cariz informativo, o entretenimento.

Pelo Melhor:
Kate Winslet. Sempre, sempre, sempre. Esta mulher é divina, e não é capaz de interpretar uma personagem que seja sem o fazer de forma magistral. Até aqui, completamente descaracterizada e a aparecer como a mulher mais normal e mais incógnita do mundo, consegue brilhar.
Marion Cotillard. Não percebo o que ela faz no filme, mas é como a Monica Bellucci... fica sempre bem em qualquer filme.
 "AAAAACHOOO! Tag, you're it!"
 “I haz immunity! Nha-nha-nha-nha!”