segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Elysium


Neill Blomkamp. Fixem o nome deste sul-africano. Em 2009 alcançou o reconhecimento do público com o fabuloso “Distrito 9”, um filme que não está ao alcance de muita gente (como sabem, o Q.I. não é distribuído de forma equitativa por todos). Em Distrito 9, Blomkamp recorreu à ficção-científica para metaforizar o Apartheid, escrevendo um argumento fabuloso e realizando o filme de uma forma muito crua e quase suja, longe dos takes limpinhos e bonitinhos a que Hollywood está habituada.
Dito isto, as expectativas que levava para este Elysium estavam um pouquinho altas (se é que nos dias que correm é possível ter expectativas elevadas em relação a qualquer coisa que chegue ao cinema…). Assustei-me de início ao ler a maioria das críticas, que arrasavam o filme. Mas enfim, tal como referido, o Q.I. quando nasce não é para todos
É Elysium uma obra ao nível de Distrito 9? Não, não é. Mas não deixa de ser um belo filme. Algo que caracteriza o trabalho de Neill Blomkamp é a sua capacidade de pegar em grandes temas problemáticos da Humanidade, e “falar” deles em linguagem cinematográfica acessível às massas. Se alguém fizer um filme a falar da segregação racial ou das diferenças entre ricos e pobres, ninguém perde tempo a vê-lo. Ah, mas se o filme tiver naves espaciais! Ok, aí já pode ser.
Vamos então ao filme. A história passa-se num século XXII onde o excesso de população no nosso planeta levou os cidadãos mais ricos a construir uma base espacial chamada Elysium, para onde foram habitar de forma a poderem manter o seu modo de vida. A Terra, essa, ficou reservada para as favelas e para os pobres e indigentes. Ora, não só Elysium é uma espécie de mega resort turístico, com casas de sonho, amplas piscinas e jardins luxuriantes, como a tecnologia é tão avançada que cada pessoa tem em casa uma maquineta médica que cura todas as doenças em menos de 30 segundos. Escusado será dizer que a premissa do filme é fácil de antever: um dos pobretanas das favelas fica gravemente doente e necessita de chegar a Elysium para se pôr bom. A história em si é bastante simples. Não há grandes reviravoltas, não há “coisas surpreendentes”, não há acontecimentos apocalípticos. Boa parte da negatividade com que o filme está a ser recebido justifica-se por isso. Onde é que já se viu fazer uma história simples? Então não há invasões alienígenas, ou o Sol está a explodir e vamos morrer todos, ou… ou… tipo, sei lá… cenas! Pois é, mas o filme é mesmo simples. É um tipo que está doente, e procura desesperadamente enganar a morte. Que estranho, não é?
Pois bem, o tal senhor doentinho é interpretado por Matt Damon, do qual eu não sou grande, grande, fã, porque acho que é um daqueles actores que “fazem sempre de si próprio”. Vê-lo aqui ou na saga “Bourne” é um exercício de “descubra as diferenças”. Aliás, recordo-me de há algum tempo ele referir numa entrevista que não gosta muito de sair deste registo. Está no seu direito. Digamos que cumpre o papel, mas não cria qualquer empatia com o espectador.
O mesmo “pecado” é cometido por Jodie Foster. O papel que faz no filme é possivelmente o mais fraquinho da sua carreira. Faz duas coisas durante o filme todo: ou está sentada numa cadeira e dá ordens, ou anda por corredores… e dá ordens. Mas sempre de uma forma muito pouco convincente.
Felizmente existe Sharlto Copley, que ninguém conhece, mas que foi o protagonista de Distrito 9, que faz uma das personagens mais cativantes de que me lembro de ver no cinema recente. Este tipo é mesmo muito bom. É o actor-fétiche de Blomkamp, e são ambos sul-africanos (daí falarem tanto afrikaans nos dois filmes, e haver tantas referências à África do Sul).
Não vou falar de todos os actores secundários, mas há que deixar uma nota positiva para todos, que são um excelente complemento ao filme (Alice Braga, Wagner Moura, Diego Luna, William Fichtner).
Passemos à realização. É magnífica. Há cenas de “inspiração visual”, há cenas de câmara lenta, há cenas de acção explosiva, todas elas conseguidas na dose ideal, no ritmo perfeito, com tudo no sítio. A direcção artística é um sonho, os cenários são… literalmente elísios!
O filme não está isento de falhas e excessos. Muito pelo contrário. Sinceramente, toda a parvoeira do exo-esqueleto/armadura é uma idiotice. Se a história ficasse pela simplicidade de um homem normal a lutar para chegar ao destino, só tinha a ganhar. Mas, enfim, há que vender explosões, senão os teenagers do Tio Sam não vão ao cinema comer pipocas e beber Pepsi XXL. Fiquemo-nos pelo essencial: a história foca-se nos desfavorecidos, e Elysium aparece quase apenas como um adereço. A exploração do ambiente de favela está muito bem feita. Denota-se na perfeição o que o realizador quer mostrar, daí a primeira parte do filme ser muito melhor do que a parte final, que serve essencialmente para garantir a quota mínima de explosões e efeitos especiais.
Guardei, propositadamente, para o fim a banda sonora. Ryan Amon, diz-vos alguma coisa? Pois, a mim também não dizia. Blomkamp foi buscá-lo para assinar a fabulosa música electrónica que tem temas deslumbrantes. Um misto de electro, com a típica música épica que costuma pontuar os trailers. E é daí que ele – Ryan Amon – vem: da composição de música para trailers. E em boa hora veio, com esta estreia muito promissora. Há semelhanças grandes com outras bandas sonoras (nomeadamente Oblivion), mas há um toque pessoal deste jovem compositor que me apanhou desprevenido. Pesquisem no youtube pelo tema “Heaven & Earth”, mas entretanto deliciem-se com este fenómeno:

“You Said You’d do Anything”

(Para quem tiver curiosidade, encontrei uma entrevista interessante com ele, onde entre outras coisas fala da forma suis generis de como chegou a este projecto: link).

A ficção científica este ano tem estado em grande destaque na Sétima Arte. Oblivion, Batalha do Pacífico, Star Trek – Para Além da Escuridão (meh!), e agora Elysium. No caso deste último, eu atrevo-me a remar contra a maré. Não entro no “bota abaixo” generalizado. Acho que Neill Blomkamp tem um talento considerável de disfarçar de ficção-científica os temas sociais importantes da actualidade, levando os cinéfilos a pensar neles sem se aperceberem de que o estão a fazer. E isto também é parte da magia do cinema. Este filme é sustentado numa história mesmo muito simples, mas cuja mensagem(ens) é digna de reflexão. É provável que no final do filme toda a gente saia do cinema a pensar “Ah, mas existe um buraco gigantesco no argumento! Se curar as doenças é assim tão rápido, então por que razão não curam a população toda?”. Mas é aí que está a importância da história. Hoje em dia também temos os meios para acabar com a fome no mundo, e erradicar a pobreza. Então porque não o fazemos?
Dá que pensar, não é verdade? Venham mais filmes, Sr. Blomkamp.

Pelo Melhor:
A cena onde o jovem Max fala com a freira do orfanato, e ela lhe diz a frase mais emblemática do filme, mostrando-lhe uma fotografia do Planeta Terra. “Lembra-te que, vistos lá de cima, quando olham para nós, também somos tão bonitos.”

Pelo Pior:
Os excessos desnecessários que por momentos silenciam a beleza do filme. A armadura é mesmo uma coisa sem razão de existir, e que serve apenas para o efeito “ena, que fixe, explosões!”


quinta-feira, 22 de agosto de 2013

“Da Corrupção À Crise – Que Fazer?”, de Paulo de Morais


O maior antro deste tráfico de influências é a Assembleia da República. São várias dezenas os deputados que, de forma aparente, potencial ou real, estão em conflito de interesses. (…) Há dezenas de deputados que acumulam a função parlamentar com a de administrador, director ou consultor de empresas que desenvolvem grandes negócios com o Estado.

Nunca, até hoje, tinha lido um livro que me deixasse doente.
Paulo de Morais começou a aparecer nos anos mais recentes em alguns programas de televisão a denunciar a corrupção responsável pela destruição de Portugal. Logo de início percebia-se que este não era mais um daqueles comentadores que “cospem para o ar” e dizem que andam por aí umas bruxas, mas depois não é nada com eles. Paulo de Morais foi vereador na Câmara Municipal do Porto, e teve oportunidade de ter contacto directo com “o polvo”. O livro resume com uma eficácia bárbara TUDO aquilo que, infelizmente, vamos esquecendo no mediatismo. E, meus amigos, esse TUDO é avassalador.
O autor não se limita a lançar umas frases para dizer “há corrupção”. Nada disso. Ele conta os casos, aponta o dedo, e refere os nomes. São 145 páginas que deixam qualquer pessoa séria à beira de um ataque de nervos. Aqui se desmistifica sem complacência a tão falada “Crise”.
Todos os casos são públicos, conhecidos, amplamente falados na comunicação social, mas que o tempo fez esquecer. Tal é o caso da Lusoponte e do ex-ministro das Obras Públicas que quando saiu do governo garantiu que os proveitos da cobrança de portagens das duas pontes (25 de Abril e Vasco da Gama) ficassem sequestrados durante as próximas décadas pela empresa para a qual foi assim que largou o cargo de governação.
Especial cuidado é dado à promiscuidade que existe entre os deputados e os grupos económicos poderosos, bem como alguns escritórios de advogados.
«Há dezenas de deputados que acumulam a função parlamentar com a de administrador, director ou consultor de empresas que desenvolvem negócios com o Estado.» Muitos destes deputados que integram as comissões que atribuem subsídios fazem parte das mesmas empresas que beneficiam deles.
Causa mal-estar ver a forma liminar com que Paulo Morais desmonta a vergonha que é o dito “centrão”, que ao longo de 20 anos tem servido para roubar o que é nosso, e através das PPP (e outros artifícios) distribuí-lo por interesses imobiliários. É revoltante. Como, por exemplo, ficar a saber que as famosas Fundações recorrem a esquemas para não pagarem IRC, IMI, ou as próprias viaturas que lhe estão associadas.
E não é por acaso que boa parte dos deputados, governantes, e ex-governantes que representam PS, PSD e CDS estão ligados às poderosas firmas de advogados. A firma que «produziu o Código da Contratação Pública e, desde que este diploma entrou em vigor, ganhou já quase 10 milhões de euros em pareceres. Apreciações em que explica aquilo que andou a legislar.» As leis são propositadamente dúbias, para garantir que as firmas terão rios de proveitos financeiros em Pareceres, e ao mesmo tempo garantir que há sempre uma excepção para servir os amigos.
Os nomes estão lá todos. Quem os quiser saber, só tem de ler o livro.
E, por fim, o livro tem ainda um toque de consciência social. Não se limita a apontar as negociatas e a dar o nome de quem lhes dá vida. Fala, por exemplo, nos custos que isso tem para a sociedade, como no caso do desinvestimento em transportes públicos que levou ao aumento dos preços, e que deixou os idosos cada vez com menor mobilidade (urbana), e da limitação da oferta cultural a que cada vez mais somos sujeitos, ficando boa parte desta vocacionada para algumas elites (obviamente subsidiadas por quem nós sabemos). O autor finaliza o livro com uma profunda reflexão social sobre o que é o Portugal de hoje, destruído pelos “nomes grandes” deste infame centrão – não nos façamos de ingénuos, todos sabemos quem eles são – chegando inclusive a dissertar sobre os perigos da exposição à publicidade a que as crianças pequenas estão sujeitas, e como isto pode levar à indisciplina e a comportamentos violentos.
Enfim, não pretendo dispersar-me no texto. O livro é esmagador. Aconselho-o vivamente a quem tem decência e é honesto. Demonstra com uma crueza pura como fomos manipulados e enganados por quem elegemos. Há ainda que elogiar a coragem deste homem, pois ele enfrenta os mais poderosos do país, e arrisca-se seriamente ao expor de forma tão directa a podridão que grassa na maldita classe política que destruiu este país.
De uma coisa tenho a certeza: qualquer pessoa que leia este livro dificilmente na sua vida voltará a votar em PS, PSD ou CDS.
Gente como Paulo de Morais merece todo o apoio dos cidadãos de bom nome. Temos a obrigação moral e a responsabilidade social de acarinhar quem ousa insurgir-se contra quem tem garantido que os portugueses se mantêm como os mais pobres da Europa, enquanto um punhado de gente sem escrúpulos continua a dizer “se não têm pão para comer, então comam bolos”.
Este é um livro que eu gostaria de ter escrito.

Da Corrupção À Crise – Que Fazer?, Paulo Morais, Gradiva, 2013

terça-feira, 13 de agosto de 2013

The Wolverine


Best Movie Ever. Nunca pensei sair de uma sala de cinema depois de ver um filme de super-heróis e dizer para comigo “Zoh-my-God, este filme é fenomenal, um clássico à altura de «O Padrinho», «Blade Runner», ou «2001, Uma Odisseia no Espaço»”. Acreditem, este filme é mítico!
Pronto, agora que já gozei com os cretinos que lêem apenas o primeiro parágrafo, e não levam o texto até ao fim, passemos a coisas sérias. Este filme é um pedaço de caca que nem para adubar urtigas serve.
Durante a minha infância (ou seja, quarta-feira passada) passei largas horas a devorar as revistas de banda desenhada da Marvel, sempre fascinado pelas suas histórias imaginativas e que desafiavam a realidade. Se as contas não me falham, este será já o sexto filme em redor do título “X-Men”. Já em 2009 a Marvel tinha-se dado ao luxo de fazer um filme dedicado em exclusivo à personagem Wolverine, e esse também foi um daqueles Best Movie Ever, que de tão bom que é não tenho dúvidas que marca presença em todas as listas dos piores filmes de todos os tempos. Mas enfim, lá me conseguiram apanhar distraído e inocentemente dei comigo numa sala de cinema a pensar “bom, pior do que o anterior não pode ser…”. Ao menos aí acertei. Não é tão mau como o anterior, mas faz um sério esforço para estar à altura desse título.
Nem sei por onde começar. Esperem, já sei! Não vejam o filme! Acreditem no Psy. Poupem os vossos 5 euritos, e guardem-nos para coisas mais importantes. Por exemplo, para comprar um par de cuecas novas. É sempre bom ter cuecas lavadas em casa.
A premissa do filme até era boa: explorar a ligação de Wolverine ao Japão, à yakuza, e à sua esposa, Mariko. Tudo isto faz parte do mythos de quem cresceu a ler “revistinhas aos quadrinhos”. Só que o problema está no facto de que quem escreveu este Best Movie Ever perceber tanto de cultura Japonesa como eu, que basicamente se resume ao Dragonball, ao Songoku e às sete bolas de cristal. Os energúmenos de Hollywood acham que basta meter uma armadura samurai em cena, umas quantas espadas penduradas na parede, e umas moçoilas bonitas vestidas com kimono, et voilá! Temos algo ao nível de um Kurosawa! Não, lamento. Tudo neste filme é tão reles, que qualquer pessoa que tenha um mínimo de respeito pela tradição Japonesa vomita três vezes antes do filme chegar ao intervalo.
O filme começa precisamente no dia em que é lançada a bomba sobre Nagasaki, com o Wolverine e um soldado nipónico a sobreviverem à explosão. É pena. Se estas duas personagens estivessem entre as vítimas da bomba, o filme terminava ao fim de dois minutos, e assim não seria tão mau. A propósito, sabem que a cidade de Nagasaki foi originalmente fundada pelos Portugueses? Ora, nem mais. Estão a ver como neste blogue, até a falar de um filme que é um pedaço de cocó, aprendem coisas de jeito?
Mas continuando, depois da bomba o filme (infelizmente) continua. Embora eu não saiba muito bem o que se passa, porque o argumento é tão convincente, e tão bem escrito que a única coisa que “faz sentido” (subentenda-se o sarcasmo) é que aparecem ninjas e há uma viagem num comboio de alta velocidade. E ambos estes tópicos são muito importantes para a qualidade do filme. O Ninja das Caldas consegue ser mais convincente do que estes ninjas, e as cenas no TGV são tão boas que este filme merecia um Oscar “de qualquer coisa” só pelo conceito. O pessoalzinho de Hollywood continua a acreditar que no tejadilho de um comboio que vai a 400 km/h é plausível dar pulinhos e brincar aos espadachins. Bom, ao menos este filme tem o mérito de não ser tão ridículo como o “Missão Impossível”, onde para além dos pulinhos e das facas há ainda um helicóptero preso ao comboio por um cabo. Estão a ver? Eu consigo sempre encontrar coisas positivas em todos os filmes. Mas este até tem uma série de coisas positivas! Por exemplo, dura menos de três horas (o The Dark Knight Rises nem isso); tem intervalo, o que também é positivo, pois significa que das duas horas que estamos dentro do cinema há pelo menos cinco minutos em que o filme não está a correr; e além do mais, não entra o Super-Homem. Eu odeio o Super-Homem.
Nem me vou dar ao trabalho de falar da monumental estupidez que é toda a história desta magnífica obra da Sétima Arte, pois um chimpanzé de três meses consegue perceber quão estúpido e inverosímil e sem pés nem cabeça é TODO o argumento. Anda toda a gente muito preocupada com as notícias de haver cada vez menos espectadores a ir ao cinema. Epá, às tantas é porque já chegámos à conclusão que 9 em cada 10 filmes que lançam valem menos que um par de cuecas lavadas. Ou mesmo sujas, como é o caso deste. Aliás, lanço daqui um apelo a todos os internautas: não façam o download ilegal desta coisa. Respeitem a vossa largura de banda! É um crime ocupá-la com isto…
Ao menos como filme de comédia é extremamente eficaz. Consegue fazer-me rir mais do que todos os filmes do Ben Stiller e do Adam Sandler juntos (outros que também Best Movie Ever). É tudo tão ridiculamente mau neste filme, que uma pessoa chora a rir. Cada vez que eu estiver deprimido, basta-me pensar nos yakuza deste filme, e fico logo curado.
Geralmente, até consigo dizer “bom, mas ao menos a banda sonora safa o filme”. Não! Não, não, não, não, não! Foram buscar alguém (Marco Beltrami) igualmente mau para “fazer uns barulhos”. Em suma, se este fosse um filme mudo, sem som, e onde os gajos morressem com a bomba nos dois minutos iniciais, até era capaz de ser uma coisa decente! E ainda há quem tenha ficado surpreendido por eu dizer bem dos “robots gigantes à porrada com dinossauros” (e vão onze! Hehehe! Aposto que chego às 20 antes do fim do ano!).
No meio disto tudo, só tenho pena do Hugh Jackman. Acho-o um bom actor, e um artista fenomenal (viram-no na apresentação dos Oscares há uns anos?), e acaba por ter que ficar conotado a estas coisas. Não tenho dúvidas que nenhum outro actor assentaria no papel de Wolverine melhor do que Jackman, mas é pena que esteja sempre fadado a participar nestas caganeiras. Ao menos as actrizes Japonesas que contracenam com ele não são com o peixe-morto de que falei no “Batalha do Pacífico”.
Terminando, caso ainda haja alguém que esteja a hesitar e a considerar ir ver o filme, lembrem-se que os conselhos do Psy são sempre úteis. Optem pelas cuecas novas.

Pelo Melhor:
Os trailers que passaram antes do filme começar foram giros… Vá, vá, vamos tentar ter uma postura construtiva. Ok, no filme aparece um arco Japonês (torii) que resistiu à explosão da bomba atómica, e há fotografias históricas excepcionais a assinalar esse facto. E o que é que isto tem a ver com o filme? Absolutamente nada, mas ao menos quem teve o mérito de ler este post na íntegra sai daqui a saber uma coisa nova. Vêem como vos trato bem?

Pelo Pior:
LOL, é mesmo preciso escrever mais alguma coisa? Vá, ok, postura construtiva! O filme tem mais de dois minutos. Essa é a parte pior. Tem algumas cenas memoráveis, pela sua qualidade, como uma onde os maus vão atrás dos bons, e entram aos tiros numa casa de jogos, onde estão muitas pessoazinhas a jogar em slot machines… e que assim permanecem, como se nada se passasse.


P.S. Isto é tão mau que até o próprio trailer tem mais de dois minutos… As minhas sinceras desculpas. Gomenasai!

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

A Gata Telma e os Telminhos

AVISO: Este post contém gatos!


Pois bem, este post é dedicado à Sôdona Xana, a fã nº 1 deste blogue, que anda sempre por aqui em modo ninja. Ora, a Sôdona Xana decidiu baptizar como Gata Telma a gata vadia que me vem cravar comida todos os dias à porta de casa. Recentemente, eu disse que esta cigana deslavada sem-vergonha devia ter dado à luz nova quantidade de criaturas felpudas, que cuidadosamente mantinha escondidas dos olhares de toda a gente (até do meu, que tenho Visão Raio-X). É portanto com muito agrado que venha anunciar que aquela vaca tresmalhada multicolorida se dignou finalmente a apresentar ao mundo no passado fim-de-semana… os Telminhos!




P.S. Cada vez que olho para aquele extraterrestre preto e branco dá-me vontade de entrar em “modo Elmira”:

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Batalha do Pacífico


Pergunta: o que é que espera quem vai ver um filme de robots gigantes à porrada com dinossauros? Resposta: espera ver robots gigantes à porrada com dinossauros! Quem vai à espera de ver outra coisa é porque entrou na sala de cinema errada.
Mas antes de falar deste “Batalha do Pacífico” há que falar de duas coisas.
Coisa Número 1: Filmes de Monstros Gigantes. Desde os primórdios do cinema que os filmes de acção/espectáculo com monstros gigantes fazem parte das obras de culto. São prova disso King Kong (EUA, 1933) bem como Godzilla (Japão, 1954), sem contar com as suas inúmeras sequelas e remakes. A sensação de fragilidade do pequeno humano a enfrentar o monstro gigante sempre foi um aliciante para o cinema-espectáculo. É a oportunidade dos cineastas contarem grandes histórias de coragem e sacrifício face a “impossible odds”. E, ao mesmo tempo, é a oportunidade dos malucos dos efeitos especiais fazerem rebentar todos os cenários e mais alguns sem qualquer contenção ou remorso.
Coisa Número 2: Anime/Animação Japonesa. Os desenhos animados japoneses têm produzido ao longo das últimas décadas as criações mais fantásticas em termos de ficção-científica. A originalidade de séries como “Space Battleship Yamato” (anos 70), seguida de todo o BOOM dos anos 80 e 90, basicamente criou todo o imaginário de quem cresceu nessas décadas (e que faz dos trintões de hoje eternos adolescentes). Os “anime” lançaram centenas de títulos espectaculares onde não escapa obviamente a presença dos robots gigantes que lutam contra monstros igualmente gigantes.
E é aqui que entra Guillermo del Toro. O realizador mexicano tem vindo a cimentar o seu nome entre os ases de Hollywood, muito graças aos dois filmes de Hellboy (dos quais não me confesso particular fã) e ao memorável O Labirinto do Fauno. Este último é, na minha opinião, o filme fantástico por excelência da última década, e digo-o sem receios, e metendo na competição “O Hobbit”, “Prometheus” e tantos outros.
Ora, del Toro quis fazer um filme de robots gigantes à porrada com dinossauros, e conseguiu demonstrar que, hoje-em-dia, já é possível fazer em cinema “ao vivo” todas aquelas sequências de acção alucinantes que estávamos habituados a ver somente em desenhos animados. Batalha do Pacífico é precisamente isso: uma gigantesca obra de espectáculo cinematográfico digital. Há que começar, indiscutivelmente, pelo ritmo do filme. A história não interessa, estamos aqui para usar os nossos robots gigantes e matar dinossauros fluorescentes que vêm do mar. Ponto final. É só isso. Se querem uma história bem estruturada, com personagens bem desenvolvidas, e intensidade dramática, queiram por favor passar para a sala do lado e ir assistir a O Labirinto do Fauno. Aqui temos muitas luzes, muitas explosões, e um ritmo alucinante que não dá espaço para o espectador respirar. E a “coisa” resulta bem. As sequências de acção não são nada aborrecidas (ao contrário do que acontece com grande parte dos filmes deste género), todas as personagens são interessantes e fazem sentido. Nem perdem tempo a apresentar as personagens, ou a explicar a premissa do filme, ou a sustentar o que quer que seja. Os dois minutos iniciais são assim: apareceu uma brecha xpto interdimensional do fim-do-mundo e o diabo-a-sete, de onde começaram a aparecer dinossauros gigantes cheios de cores giras que desataram a atacar as cidades costeiras, e portanto nós agora construímos robots gigantes com pilotos humanos para lhes dar nas fuças. Queiram por favor apreciar as próximas duas horas de puro cinema espectáculo. E sim, até estão autorizados a comer pipocas durante o filme.
Voltando às personagens, estas estão bem enquadradas na história. Até mesmo os dois “cientistas” (atenção às aspas) que servem de comic relief no filme acabam por ter o seu espaço. Todos os pilotos dos robots estão bem pensados, e representam as grandes nações (americanos, chineses, russos… espera lá!!! Onde é que está o Silva?!? Então e o piloto da Lusofonia?!!? Ultraje!!). Os actores, não sendo grandes estrelas, cumprem os requisitos mínimos, exceptuando a japonesa, que é a actriz principal, e que mais parece um peixe morto durante o filme todo – mas enfim, estamos aqui para ver robots gigantes à porrada com dinossauros! O destaque em termos de actores vai mesmo para uma miúda japonesa de 9 anos, Mana Ashida. Está apenas um ou dois minutos em cena e consegue transparecer na perfeição suprema o que é uma criança aterrorizada, conseguindo inclusive mimicar as tradicionais expressões das personagens na animação japonesa.
Como é sabido (pelas 4 ou 5 pessoas que ainda se dão ao trabalho de ler as idiotices que por aqui escrevo), é impossível eu falar de um filme sem falar da sua banda sonora. E este era um dos aliciantes maiores que levava para o filme, pois a música ficou a cargo de Ramin Djawadi. Este irano-alemão é o super-génio responsável por uma das maiores criações musicais dos últimos anos, a banda sonora da série Game of Thrones. Já fiz por aqui algumas referências ao dito cujo, mas sempre no contexto da série (apesar de andar a adiar há bastante tempo um artigo focado exclusivamente nas brilhantes bandas sonoras). Ora, se em Game of Thrones ele faz uma obra puramente clássica, com orquestra, aqui dedica-se ao electro-rock (ou algo parecido, já que eu não sou propriamente perito em classificar estilos musicais). E o resultado é fenomenal. É a música mais-que-perfeita para este filme. Cheio de ritmo, intensidade épica, e a salientar cada uma das cenas de acção. Fixem o nome deste animal, pois é alguém que tem muitas cartas a dar no futuro próximo, e com esta versatilidade… o Mestre tem concorrência à altura!
E no fundo é isto. Quem quer ver um bom entretenimento com robots gigantes à porrada com dinossauros tem aqui um festim. O sentimento de dimensão está bem presente em todo o filme. Del Toro faz um trabalho magnífico de esmagar o espectador com cenários absolutamente magníficos e com uma escala digna de cinema. Ver este filme na televisão não é certamente a mesma coisa, e seguramente perde-se muito do seu impacte. Há ainda que destacar a atenção aos detalhes que o realizador demonstra. Há alturas em que dá vontade de berrar no meio do cinema “carrega no botão de pausa!”, para que possamos ficar meia hora a babar-nos com a riqueza de cada cena. É uma espécie de Avatar, mas com robots e dinossauros (espera lá, mas isso não era a mesma coisa que aparecia no Avatar??).
E a parte boa de escrever uma crítica sobre este filme é que não se corre o risco de fazer spoilers! É simples: não há spoilers! É um filme de robots gigantes à porrada com dinossauros. Adivinhem quem ganha no fim? Não acreditam em mim? Então espreitem aqui: link. Não há spoilers!
E o potencial de merchandise deste filme… ui! Se for feito por gente competente, paga três ou quatro vezes o filme.
Para terminar, fui ver este filme na tal nova sala IMAX do Colombo. Já que andava por aí a ser tão badalada, vamos lá dar uma espreitadela. Começou logo bem, depois de comprar os bilhetes e ao entrar para a sala: Hum? Óculos 3D? … Como assim, o filme é em 3D? Só mesmo um gajo muito bronco é que compra bilhetes para um filme 3D sem dar por isso. Ainda por cima um gajo muito bronco que se assume como o maior cruzado anti-3D no planeta inteiro (e na brecha oceânica de onde vêm os dinossauros). Mas enfim, devo dizer que o 3D até estava muito bom, se bem que, mantenho a minha opinião: nada acrescenta aos filmes.
Mas vamos ao cerne da questão: vale a pena ir à sala IMAX do Colombo? Não! Primeiro, porque o preço do bilhete são 10 Euros, e depois porque as mentes acéfalas que gerem o centro comercial cobram 3,5 Euros para estacionar o carro no interior do Colombo. Se já é estúpido pagar para estacionar num centro comercial onde vamos gastar dinheiro, ainda mais estúpido é praticar preços que nem nas áreas vermelhas de Lisboa os parquímetros cobram. Em suma, pagar quase 15 Euros para ver um filme, o triplo do preço em qualquer outro lugar. Portanto, senhores do Colombo, vão roubar o Godzilla que vos pariu, que eu não estou para sustentar chulos. Há centenas de boas salas de cinema no país todo, dispenso as do Colombo.

Pelo Melhor:
BOOM! CRASH! ZOING! KABOOM! SCREEEEEEK! SMASH! BANZAAAAAAAI! E dinossauros a voar aos pedaços. Cinema-espectáculo de alto nível. Entende-se por que razão Peter Jackson foi buscar del Toro para O Hobbit. Esqueçamos o quotidiano, e dediquemos duas horas a deliciarmo-nos a ver robots gigantes à porrada com dinossauros. A propósito, ficam a saber que nesta crítica escrevi oito vezes robots gigantes à porrada com dinossauros.

Pelo Pior:
Aquele peixe morto que faz de piloto japonesa. Nem num filme de robots gigantes à porrada com dinossauros (ha-ha, e vão nove!) se consegue aturar alguém com tamanha falta de presença no ecrã.

P.S. Só mesmo para que não restem dúvidas: robots gigantes à porrada com dinossauros. E assim chegamos a dez! :)





quinta-feira, 1 de agosto de 2013

“História da Segunda Guerra Mundial”, de Claude Quétel


A Segunda Guerra Mundial é um dos temas que mais fascina o mundo. Aqui se viu o melhor e o pior da Humanidade. Quer em termos políticos, quer em termos militares, quer em termos sociais. Os temas que orbitam em redor da 2ªGM são, cada um deles, um colosso académico. Todo o avanço industrial e militar, todas as estratégias, a ascensão do fascismo, o ódio religioso e racial, a bomba atómica, a hipocrisia, a indiferença. O momento em que nos esquecemos de ser Humanos.
Este foi, verdadeiramente, o único confronto na História entre o Bem e o Mal.
Este livro de Claude Quétel (Edições Texto & Grafia, 2010 – que obscenamente o publica com o acordo ortográfico…) pretende ser uma pequena introdução a todo o tema, fazendo-o desde as suas raízes até ao término da guerra em apenas 100 páginas. Cronologicamente, somos conduzidos pelos principais momentos do ocorrido.
É extraordinariamente eficaz na sua organização. Lê-se com uma facilidade deslumbrante (li-o em 3 dias, alternando com outros livros), e nunca se perde o fio à meada. É o livro perfeito para quem quer ter um conhecimento ligeiro sobre o tema. Foca os acontecimentos essenciais, de forma muito bem estruturada, encadeado na perfeição, sem perder tempo com palha ou informação supérflua. É uma perspectiva abrangente, que permite entender – essencialmente do ponto de vista político-militar – o que se passou nos cerca de 15 anos que englobam este período (porque, obviamente, isto não se limitou a 39-45).
O livro ajuda nomeadamente a recuperar alguns pontos que foram branqueados ao longo dos anos, como por exemplo o facto de Hitler e Estaline serem aliados no início da guerra (hoje em dia toda a gente acha que os russos sempre estiveram do lado dos bons). Ou o facto de a Suécia ter sido o principal fornecedor de minério dos nazis. Ou ainda as inúmeras facções apoiantes dos nazis que existiram em muitos dos países ocupados. Não esquecendo, obviamente, a indiferença com que os americanos olharam para a destruição a que a Europa esteve sujeita durante anos seguidos, até que a guerra lhes bateu à porta.
Todos nós temos uma dívida que jamais poderemos pagar a todos aqueles que, tal como disse Churchill, deram o seu sangue, suor e lágrimas para que a ameaça nazi fosse parada (e não extinta, ao contrário do que muitos ingénuos pensam). Não é por falta de informação disponível. Não existe seguramente uma lista de livros sobre a 2ªGM, pois tal lista seria uma biblioteca em si mesma. Deve haver poucos temas com tantos livros publicados. E todos nós fazíamos bem em saber um pouco mais sobre o que se passou, não nos limitando às visões românticas (e muitas vezes vergonhosamente adulteradas) de Hollywood. Há muitos livros para ler sobre o mais importante acontecimento da História dos últimos 500 anos. A eficácia do fascismo na Europa do pós-Primeira Guerra; o poder da propaganda; a cobardia de alguns povos, por oposição à coragem inesgotável de outros; o horror incompreensível do Holocausto; ou a fragilidade da palavra e do compromisso em tempos de desespero. A Segunda Guerra Mundial acaba por se tornar um vício. Quanto mais estudamos sobre ela, mais queremos saber. No final, permanece sempre a eterna questão: como foi possível?
O livro não é isento de falhas. Mesmo tratando-se de um pequeno livro, com o objectivo de ser uma breve penada sobre a 2ªGM, não há razão para serem completamente ignorados tópicos como a kristallnacht, a Noite das Facas Longas, ou a Insurreição de Varsóvia (este, para mim, um dos episódios mais dignos de memória – pela sua coragem – de toda a guerra).
Não obstante, é uma leitura recomendada, essencialmente expondo de forma muito clara os passos políticos e militares que marcaram o dia-a-dia do conflito. É curioso verificar que o autor passa um pouco ao lado das questões ligadas ao Holocausto (propositadamente), e é meticuloso a, por exemplo, quantificar as toneladas de aço de navios afundados em determinado conflito naval. E este é o principal atractivo do livro: o enfoque na “máquina de guerra” no seu ponto de vista mais mecânico. Conhecer os tanques, os aviões, os couraçados, e até os submarinos. Conhecer os generais, e os principais palcos do confronto. E, acima de tudo, perceber bem o que foi a estratégia da blitzkrieg, e concluir que, felizmente, Hitler cometeu o mesmo erro de Napoleão.
Nunca se ataca a Rússia.

Nota: a imagem que ilustra o artigo não corresponde à da edição do livro que li, mas sim a de uma edição anterior. Isto porque nem no blogue da própria editora existe a imagem do meu livro.