segunda-feira, 19 de maio de 2014

Race For The Galaxy




Desta feita vou falar do melhor jogo do mundo: Race For The Galaxy. Vá, OK, admito que Strip Poker com cinco Suecas é capaz de ser melhor, mas para efeitos de boardgames fiquemos assim.
Race For The Galaxy é um jogo de cartas para 2 a 5 jogadores. O objectivo de cada jogador é desenvolver o seu sistema planetário de modo a acumular o maior número de pontos de vitória possível. Para fazê-lo dispõe de dois mecanismos: planetas e infra-estruturas.

Parece simples, e no entanto é dos jogos mais brilhantemente complexos que já joguei. As regras demoram a aprender, mas o grande apelativo do jogo é o facto de não haver dois jogos iguais. Existem diferentes estratégias que levam à vitória. A mais comum é a da aposta na “economia intergaláctica”, que passa pela produção de recursos e troca dos mesmos por pontos de vitória. Mas depois há a vertente militar, e o papel das infra-estruturas que podem alterar significativamente o rumo do jogo.
Cada novo jogo implica uma abordagem diferente. Porventura o mais importante (ou o mais decisivo) é o planeta de origem, que é sorteado aleatoriamente, aliado à mão inicial. As primeiras duas ou três rondas são cruciais para determinar o sucesso do jogo. Parece simples, mas cometer erros nas rondas iniciais pode causar um atraso na “corrida” do qual já não se recupera.
O jogo desenvolve-se por rondas, e consoante a “fase activa” escolhida por cada jogador assim é traçado o perfil de cada ronda. Raras vezes há duas rondas iguais. Não é possível explicar isto por palavras, só mesmo observando o jogo. E de ronda em ronda os jogadores vão desenvolvendo os seus planetas produtivos, aumentando a sua pontuação militar para conquistar planetas guerreiros, e desenvolvendo as suas infra-estruturas para colher os bónus da aposta nas mesmas.
É de longe dos jogos mais estimulantes que experimentei até hoje. A jogabilidade é inesgotável, sendo impossível haver dois jogos seguidos que se repitam. No primeiro jogo podemos seguir a estratégia de apostar num tipo de recurso, e montar toda a infra-estrutura de apoio ao mesmo, enquanto no jogo a seguir apostamos na vertente militar tentando forçar que o jogo seja o mais rápido possível, impossibilitando os outros jogadores de acumularem pontos pela via económica.

Depois existem as expansões, que introduzem novas mecânicas de jogo. Apenas conheço a primeira, The Gathering Storm, que introduz no jogo um conjunto de objectivos especiais, que podem ser conquistados, e que mudam completamente a abordagem ao jogo.
Joga-se idealmente com 3 ou 4 jogadores, e cada jogo dura aproximadamente 30 minutos. Viciante, apaixonante, somente recomendado a quem gosta de jogos complexos e que obrigam a pensar exaustivamente. É sem margem para dúvidas o meu jogo de eleição (se bem que o tal das Suecas…).

terça-feira, 13 de maio de 2014

“Un bel di vedremo”, Renata Scotto (Puccini)




O momento supremo da História da Ópera, porventura da Música. A fabulosa “Madama Butterfly” de Puccini é (discutivelmente) o supra-sumo de todas as óperas. É uma das mais trágicas e comoventes histórias alguma vez tratadas em ópera. Butterfly é uma jovem japonesa que vive um romance trágico com um marinheiro americano, com quem tem um filho antes de ele a deixar e voltar para os Estados Unidos. Butterfly passa os dias a ansiar pelo seu regresso. Mas quando Pinkerton volta ao Japão vem acompanhado da sua nova esposa americana, com a intenção de levar o filho consigo de regresso aos EUA. Perante o sofrimento, Butterfly não vê alternativa senão fazer o que os japoneses escolhiam quando confrontados com a desonra…
É uma ópera fortíssima, e que tem no 2º acto uma das árias mais importantes de tudo o que foi feito em ópera, “Un bel di vedremo”. Algo que só está ao alcance das grandes, grandes, grandes sopranos.
Existe uma interpretação, da italiana Renata Scotto, acompanhada pela orquestra dirigida por Sir John Barbirolli, que supera tudo o que artisticamente foi feito. Não há sequer termo de comparação com as outras intérpretes. O trabalho vocal é digno de parar o coração. Nem a orquestra a consegue acompanhar. O minuto final é arrepiante.
Depois disto, não existe mais Arte…

Madama Butterfly, Giacomo Puccini, 1904
Renata Scotto, John Barbirolli

segunda-feira, 5 de maio de 2014

“Trouble Will Find Me” – The National (2013)



Mentiria se dissesse que as probabilidades de vir a conhecer os “The National” eram elevadas se não fosse pelo magnífico “Rains of Castamere”, do não menos magnífico “A Game of Thrones” (ou, mais correctamente, A Song of Ice and Fire).
E o que me leva, assim sem mais nem menos, a vir falar desta banda americana? Por um lado a qualidade da música, por outro lado o facto de o meu cérebro decidir de vez em quando que há algumas noites em que não quer dormir, o que dá imenso jeito para meter os fones nos ouvidos às 4 da manhã e perder-me na boa música.
Não vou falar da história da banda, pois não a conheço. Falarei apenas de “Trouble Will Find Me”, o álbum que foi lançado em 2013 e que numa destas noites me fez companhia lá pelas 5 da manhã. Bem valeu a noite de sono perdida!
Os “The National” têm um estilo muito próprio, que é soberbo. Uma espécie de Rock soturno, lento, que vai entrando melancolicamente no ouvido, enquanto se apodera do nosso âmago. Tem qualquer coisa daquele ar de clube de música pouco frequentado, à meia-luz, onde apenas meia-dúzia de connoisseurs bebem uma cerveja enquanto ouvem as canções plenas de mistério. Há um qualquer romantismo distorcido, quase nostálgico, em cada palavra. E há a fabulosa voz de Matt Berninger, que é 50% da qualidade. Não há muitos vocalistas masculinos com esta categoria. Sempre o registo contido, como se as palavras fossem partilhadas num sussurro, para que mais ninguém as ouça. É tudo fabuloso. O álbum é de uma coerência bonita e segura, nunca explodindo, deixando-nos presos numa languidez que se arrasta ao som cauteloso que acompanha a voz magnífica.
Poderia escrever um artigo sobre cada uma das 13 canções que compõem este sedutor “Trouble Will Find Me”. Mas falarei apenas das três primeiras – qual delas a melhor.
I Should Live in Salt, é a canção que abre o álbum, e logo aí marca o registo do mesmo. Romântica, porventura amargurada, quase chorada. Algo meloso no diálogo entre um par de namorados.

Demons, o que dizer desta obra-prima? Terei palavras para a categorizar? A canção dos vencidos, da tristeza, da depressão. Daqueles dias negros que já todos tivemos, que atravessámos com amargura, e um aperto no coração. É aquele bater no fundo, aquele desesperar, aquele baixar os braços, e aquela voz… Este homem é um portento a cantar.
But I stay down With my demons, But I stay down With my demons

E a seguir entra Don’t Swallow The Cap, a redenção. A Luz que surge logo após Demons. Não é bipolar. A saída das trevas é sempre calma, lenta, com pequenas golfadas de ar.
Estes senhores merecem cuidada atenção. São uma banda pouco conhecida. É óbvio: têm qualidade. Não passa na rádio, não passa na televisão. É aquela música que está reservada para uns quantos selectos, que passa de boca em boca, mas devagarinho, num sussurro, não vá o vento dispersar as palavras…
Passo-a agora dos meus lábios para os vossos ouvidos. Apreciem.
I see a bright white beautiful heaven hangin' over me.

"Trouble Will Find Me", The National, 2013
 

P.S. E se quiserem um bónus, procurem algures aqui no blogue o “Bloodbuzz Ohio”… É do álbum anterior.