terça-feira, 15 de julho de 2014

O Mercado Medieval de Óbidos



Diz que esta coisa das Feiras Medievais está na moda… Não há terrinha para lá do Sol-posto onde não haja agora uma destas feiras. A experiência anterior que tinha não era muito convincente, dado que tinha ido a uma minifeira onde apenas havia meia-dúzia de tendas a vender “coisas”. Andava, no entanto, há já algum tempo com vontade de ir espreitar a de Óbidos (mais correctamente: o Mercado Medieval), dado ser a mais badalada. E assim, no Ano da Graça do Senhor, MMXIV, lá peguei no meu cavalo, na minha bolsa cheia de reais, e rumei à mui nobre e sempre leal Vila d’Óbidos acompanhado por um bando de ébrios peregrinos…

Aos visitantes é dada a possibilidade de pagar um pouco mais pelo bilhete e com isso alugar um traje. Obviamente, chulo capitalista como sou, vesti-me de Cavaleiro Templário. Sim, aqueles que eram conhecidos por ter dinheiro a jorros, e cobrar juros de usura, e que foram os fundadores do actual sistema bancário (já agora, uma vez que estão a ler isto, aproveitem para estudar um pouco de História – faz sempre bem! – e descobrir uma série de elementos extraordinários relacionados com a Ordem dos Templários. Por exemplo: sabem que a superstição da sexta-feira 13 está-lhes associada?).

A localização do mercado é extraordinária, pois brota em redor do castelo, que de qualquer ponto surge imponente a olhar para os visitantes. Não há muitos sítios onde a cenografia funcione tão perfeitamente. Há um cuidado grande por parte da organização em manter a tónica medieval. Nos vários sítios de “comes e bebes” não há talheres ou copos de plástico. Quase tudo é servido em louça de barro: a cerveja, as sopas, o café, a bela da ginja (!!!). O problema é que isso acaba por encarecer o produto final. Pagas o café e o copinho de barro, que depois acabas por levar para casa. É giro, mas ao fim do dia vim para casa com uma caneca de barro, um copo de shots de ginja, e uma “coisa qualquer esquisita” onde bebi o café. Tal como disse uma das nobres damas que ia no nosso grupo: “devem achar que a malta quer fazer um enxoval”. Espero que ao menos estas coisas sejam feitas para animar as fábricas de artesanato local, e que não sejam importadas da China… Senão, da próxima vez que lá for pego fogo ao castelo.
Ainda falando de comes e bebes, a comida é barata e (geralmente) boa. Paguei 6€ por uma espetada de fazer lamber as beiças, acompanhada por açorda (ou migas), azeitonas, e bem regada com jarros de cerveja!
Para além dos sítios onde se pode gastar dinheiro, há também alguma oferta de animação cultural. Temos sempre as “Brízidas Vaz” que piscam o olho aos visitantes (até aos guerreiros santificados, veja-se o desplante!), os soldados cordiais que se passeiam pelas ruas a berrar “SAIA DA FRENTE!” a quem não dá pela sua chegada, e um sem-fim de bandas que tocam música de inspiração medieval. Estas últimas, ao fim de algumas horas, tornam-se cansativas, porque tocam quase todas a mesma coisa, e são geralmente compostas por 4 ou 5 elementos, onde um ou dois tocam gaita-de-foles, e os restantes tocam tambores.
Tenho pena que a oferta musical não ofereça, por exemplo, trovadores que cantem algumas das canções da época. Temos tantos cancioneiros… Podiam, também, aumentar a oferta de teatro. Algumas peças inspiradas nos tempos medievais iam certamente ser muito bem recebidas pelo público, e é algo que não falta por aí. No dia em que lá fui, houve apenas uma encenação do confronto entre os homens de D. Sancho II e os de D. Afonso III, mas que foi verdadeiramente mais uma demonstração de luta de espadas do que propriamente teatro.
Depois há o cortejo, duas vezes ao dia, que reúne todos os figurantes num passeio pela vila, desde a zona do mercado até aos portões, atravessando aquela maravilhosa rua tão Portuguesa, de piso irregular, cheia de casas baixinhas, de cor clara, e varandas cheias de flores. Portugal é maravilhoso!
E não podiam faltar as aves de rapina. Os falcões, as águias, e os apaixonantes bufos sempre com o seu adorável ar de “tocas-me nas sobrancelhas, levas um pontapé no focinho”. Tive pena que não tivessem direito a maior destaque. Estavam apenas confinados a uma tenda onde as pessoas os podiam ver, e ao fim do dia pudemos ver uma águia de Harris a fazer uns voos rasantes sobre as cabeças dos transeuntes. Mas queria mais! Não chegou sequer a arrancar uma única orelha aos espectadores…

E como o melhor se guarda para o fim, venham os torneios! Só pelo que já referi vale a pena dedicar um dia a visitar este Mercado Medieval de Óbidos, em especial se for em boa companhia (gente que goste de cerveja e ginja – ai a ginja!!!!!), mas os torneios – liças – são a ginja em cima do bolo. Todos os dias, duas ou três vezes, são feitos torneios a cavalo com toda a pompa e circunstância. E aquele pessoal não brinca. Usam os cavalos a sério, não hesitando em fazer investidas a toda a velocidade. É um espectáculo lindo, em especial o Grande Torneio que é feito ao pôr-do-Sol. Tudo é feito com direito a cicerone que apresenta os contendentes ao som de Game of Thrones e… Transformers. Até têm um bufão para animar o pessoal, que joga muito bem com um dos cavalos que gosta de chegar ao fim de cada corrida e sentar-se no meio do chão. Muito giro.



Pelo meio há um cavaleiro negro, a fazer de mau da fita, e que trata mal o público, não tem respeito pelas regras, faz batota, usa golpes baixos… e no fim é o preferido dos miúdos! Estou assustado com a cambada de psicopatas de 10 anos que este país está a criar, que apupa os cavaleiros virtuosos, e berra que nem bezerros cada vez que entra em cena o mauzão. Já depois de terminado o torneio, os cavaleiros bonzinhos retiraram para os estábulos, e o Darth Vader medieval teve que ficar para trás porque todos os miúdos queriam tirar fotografias com ele. Fujam deste planeta enquanto podem!
Concluindo: muito giro, cheio de animação, com muito potencial para melhorar. E quem quiser saber mais: http://mercadomedievalobidos.pt/