Wilhelm Richard Wagner e Ludwig Van Beethoven não
criaram a Música, mas levaram-na à perfeição. Beethoven é o maior criador
musical da História. Wagner é o mais importante.
Quando Beethoven morreu tinha Wagner sete anos de
vida. Ambos alemães, partilharam a vida com alguns dos maiores criadores
musicais da Humanidade, mas é ao “jovem” Wagner que o Século XX deve a evolução
musical que viu.
Wagner foi um visionário. Antecipou-se mais de um
século a Hollywood. As suas óperas, cujos libretos foram escritos pelo próprio
na sua grande maioria, criaram a extensão dramática/épica que somente os
grandes filmes do cinema americano vieram muito mais tarde a alcançar. Há pouca
coisa épica no cinema que Wagner não tenha feito na ópera. Até mesmo os
“efeitos especiais” que tanta maravilha causaram nos cinéfilos foram
trabalhados nas encenações dos seus trabalhos.
Esta exuberância foi possível graças, em grande
parte, ao mecenato de Luís II da Baviera, rei que estoirou toda a fortuna da
família a financiar as produções de Wagner, e a construir o fabuloso castelo
Neuschwanstein (no qual eu votei para a lista das novas 7 Maravilhas do Mundo,
em 2007), inspirado nas suas obras.
Em 2013 comemoraram-se 200 anos do nascimento do
compositor. É triste que isto tenha merecido apenas uma breve notícia de
rodapé, e que o ano musical tenha sido marcado por uma badalhoca a lamber
martelos e a dançar nua em cima de uma bola. Duzentos anos antes nascia o homem
que ganharia a imortalidade com a tetralogia “O Anel do Nibelungo”. Wagner pegou
nos heróis da mitologia e do folclore nórdico e criou quatro óperas sem
qualquer paralelo. Não há na História da Música outra realização a este nível. O Ouro do Reno, A Valquíria, Siegfried e O Crepúsculo dos Deuses só encontram
obras de dimensão similar na literatura de Tolkien e outros génios.
Musicalmente, a tetralogia é de um arrojo
assombroso. Não consigo imaginar o que deve ter sido para o público de então
ver-se perante uma obra musical com uma pujança destas.
Têm dúvidas? Tentem então colocar-se numa época
em que a sociedade estava habituada a ouvir e dançar ao som das valsas de
Strauss, e de repente é confrontada com algo como isto:
Erich Leinsdorf "Prelude Act I" Die Walküre
Impressionante, até mesmo nos dias de hoje. Não colocarei aqui aquela que
julgo ser a música mais perfeita jamais criada por um ser humano, a famosíssima
Cavalgada das Valquírias, pois
prefiro aproveitar esta oportunidade para partilhar outras músicas menos
conhecidas.
O segredo de Wagner foi criar o leitmotiv,
uma técnica de composição que associa um tema em particular a uma das
personagens da ópera. Foi isso que os compositores do Século XX aprenderam a
fazer, e foi com essa técnica que John Barry desenvolveu o tema de James Bond,
e que John Williams (o homem responsável pela minha devoção à Música)
desenvolveu a marcha inconfundível de Darth Vader, ou o tema de Indiana Jones.
Wagner foi o pai de tudo isso.
O autor está muitas vezes conotado a questões bastante controversas. O
facto de ser o compositor de eleição de Hitler levou a que ainda hoje a sua
música seja mal recebida em Israel, onde inclusive o maestro Daniel Barenboim
recebeu ameaças de morte por conduzir temas de Wagner. Foi um homem muito
político, e controverso, mas pretendo falar apenas da sua obra.
A minha paixão pela música clássica começou precisamente com Wagner, há
muito anos, quando na minha adolescência comprei, no Jumbo de Cascais, um CD
por 800 ou 900 escudos (eu ainda sou desse tempo…) que tinha uma compilação das
suas principais obras tocadas pela Royal Philharmonic Orchestra, conduzida por Vernon
Handley. Não julguem que referir a orquestra e o nome do maestro é “overdose”.
Conduzir Wagner não é para qualquer um. Está somente ao alcance dos grandiosos.
Sempre que quiserem inspirar Wagner na sua plenitude, procurem por Erich
Leinsdorf.
Para se perceber o porquê da importância de ter o maestro certo, e a
orquestra certa:
Wagner
Götterdämmerung - Siegfried's death and Funeral march Klaus Tennstedt London
Philarmonic
É arrepiante, e
comovente, ver Tennstedt a dirigir a Filarmónica de Londres. É porventura a
música mais poderosa da História. Um dos prodígios da criação Humana. No final,
Tennstedt está exausto. As lágrimas caem-lhe pelo rosto. O suor escorre-lhe da
testa. O corpo treme. Isto é dirigir Wagner. Estamos no domínio dos deuses.
Depois disto, nada resta…
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