Diz que esta coisa das Feiras Medievais está na moda… Não há terrinha
para lá do Sol-posto onde não haja agora uma destas feiras. A experiência
anterior que tinha não era muito convincente, dado que tinha ido a uma
minifeira onde apenas havia meia-dúzia de tendas a vender “coisas”. Andava, no
entanto, há já algum tempo com vontade de ir espreitar a de Óbidos (mais
correctamente: o Mercado Medieval), dado ser a mais badalada. E assim, no Ano
da Graça do Senhor, MMXIV, lá peguei no meu cavalo, na minha bolsa cheia de
reais, e rumei à mui nobre e sempre leal
Vila d’Óbidos acompanhado por um bando de ébrios peregrinos…
Aos visitantes é dada a possibilidade de pagar um pouco mais pelo bilhete
e com isso alugar um traje. Obviamente, chulo capitalista como sou, vesti-me de
Cavaleiro Templário. Sim, aqueles que eram conhecidos por ter dinheiro a
jorros, e cobrar juros de usura, e que foram os fundadores do actual sistema
bancário (já agora, uma vez que estão a ler isto, aproveitem para estudar um
pouco de História – faz sempre bem! – e descobrir uma série de elementos
extraordinários relacionados com a Ordem dos Templários. Por exemplo: sabem que
a superstição da sexta-feira 13 está-lhes associada?).
A localização do mercado é extraordinária, pois brota em redor do
castelo, que de qualquer ponto surge imponente a olhar para os visitantes. Não
há muitos sítios onde a cenografia funcione tão perfeitamente. Há um cuidado
grande por parte da organização em manter a tónica medieval. Nos vários sítios
de “comes e bebes” não há talheres ou copos de plástico. Quase tudo é servido
em louça de barro: a cerveja, as sopas, o café, a bela da ginja (!!!). O
problema é que isso acaba por encarecer o produto final. Pagas o café e o
copinho de barro, que depois acabas por levar para casa. É giro, mas ao fim do
dia vim para casa com uma caneca de barro, um copo de shots de ginja, e uma
“coisa qualquer esquisita” onde bebi o café. Tal como disse uma das nobres
damas que ia no nosso grupo: “devem achar que a malta quer fazer um enxoval”.
Espero que ao menos estas coisas sejam feitas para animar as fábricas de
artesanato local, e que não sejam importadas da China… Senão, da próxima vez
que lá for pego fogo ao castelo.
Ainda falando de comes e bebes, a comida é barata e (geralmente) boa.
Paguei 6€ por uma espetada de fazer lamber as beiças, acompanhada por açorda
(ou migas), azeitonas, e bem regada com jarros de cerveja!
Para além dos sítios onde se pode gastar dinheiro, há também alguma
oferta de animação cultural. Temos sempre as “Brízidas Vaz” que piscam o olho
aos visitantes (até aos guerreiros santificados, veja-se o desplante!), os
soldados cordiais que se passeiam pelas ruas a berrar “SAIA DA FRENTE!” a quem
não dá pela sua chegada, e um sem-fim de bandas que tocam música de inspiração
medieval. Estas últimas, ao fim de algumas horas, tornam-se cansativas, porque
tocam quase todas a mesma coisa, e são geralmente compostas por 4 ou 5
elementos, onde um ou dois tocam gaita-de-foles, e os restantes tocam tambores.
Tenho pena que a oferta musical não ofereça, por exemplo, trovadores que
cantem algumas das canções da época. Temos tantos cancioneiros… Podiam, também,
aumentar a oferta de teatro. Algumas peças inspiradas nos tempos medievais iam
certamente ser muito bem recebidas pelo público, e é algo que não falta por aí.
No dia em que lá fui, houve apenas uma encenação do confronto entre os homens
de D. Sancho II e os de D. Afonso III, mas que foi verdadeiramente mais uma
demonstração de luta de espadas do que propriamente teatro.
Depois há o cortejo, duas vezes ao dia, que reúne todos os figurantes num
passeio pela vila, desde a zona do mercado até aos portões, atravessando aquela
maravilhosa rua tão Portuguesa, de piso irregular, cheia de casas baixinhas, de
cor clara, e varandas cheias de flores. Portugal é maravilhoso!
E não podiam faltar as aves de rapina. Os falcões, as águias, e os
apaixonantes bufos sempre com o seu adorável ar de “tocas-me nas sobrancelhas,
levas um pontapé no focinho”. Tive pena que não tivessem direito a maior
destaque. Estavam apenas confinados a uma tenda onde as pessoas os podiam ver,
e ao fim do dia pudemos ver uma águia de Harris a fazer uns voos rasantes sobre
as cabeças dos transeuntes. Mas queria mais! Não chegou sequer a arrancar uma
única orelha aos espectadores…
E como o melhor se guarda para o fim, venham os torneios! Só pelo que já
referi vale a pena dedicar um dia a visitar este Mercado Medieval de Óbidos, em
especial se for em boa companhia (gente que goste de cerveja e ginja – ai a
ginja!!!!!), mas os torneios – liças – são a ginja em cima do bolo. Todos os
dias, duas ou três vezes, são feitos torneios a cavalo com toda a pompa e
circunstância. E aquele pessoal não brinca. Usam os cavalos a sério, não
hesitando em fazer investidas a toda a velocidade. É um espectáculo lindo, em
especial o Grande Torneio que é feito ao pôr-do-Sol. Tudo é feito com direito a
cicerone que apresenta os contendentes ao som de Game of Thrones e… Transformers.
Até têm um bufão para animar o pessoal, que joga muito bem com um dos cavalos
que gosta de chegar ao fim de cada corrida e sentar-se no meio do chão. Muito
giro.
Pelo meio há um cavaleiro negro, a fazer de mau da fita, e que trata mal
o público, não tem respeito pelas regras, faz batota, usa golpes baixos… e no
fim é o preferido dos miúdos! Estou assustado com a cambada de psicopatas de 10
anos que este país está a criar, que apupa os cavaleiros virtuosos, e berra que
nem bezerros cada vez que entra em cena o mauzão. Já depois de terminado o
torneio, os cavaleiros bonzinhos retiraram para os estábulos, e o Darth Vader medieval teve que ficar para
trás porque todos os miúdos queriam tirar fotografias com ele. Fujam deste
planeta enquanto podem!
Concluindo: muito giro, cheio de animação, com muito potencial para
melhorar. E quem quiser saber mais: http://mercadomedievalobidos.pt/