O mundo
civilizado assistiu repugnado, na semana passada, às imagens difundidas por um
determinado grupo onde era visível a destruição de monumentos e obras de arte
com vários séculos. Este artigo podia ser um longo texto a destilar ódio
perante o sucedido. Felizmente, sou Português, e Europeu, o que muito me honra
e orgulha, mesmo com todas as coisas erradas que possam existir na nossa
sociedade. Como tal, responderei da forma que mais se coaduna nesta minha
condição: fazendo o esforço possível para enaltecer e fazer perdurar a memória
que o referido grupo procura apagar.
Muitas das
estátuas destruídas no Museu de Mosul (Iraque) provêm da civilização Assíria,
tendo entre 2500 a 3000 anos. Falar do Império Assírio num único artigo de
blogue seria uma tarefa inconcebível, dada a sua extensão, a sua importância, e
o que significou para a História da Humanidade. Não tenho a pretensão de dar
lições de História a ninguém, mas tentarei fazer um enquadramento, enquanto
leigo, daquilo a que estou a aludir.
Tal como todos
os grandes impérios, atravessou inúmeros séculos, teve períodos de grande domínio,
e entrou, eventualmente, em declínio. Para termos uma rápida noção da
importância da civilização Assíria, esta é uma das que incorpora aquilo que é
geralmente conhecido como o “berço da civilização”, localizado no Crescente
Fértil da Mesopotâmia (toda a região desde o sudeste da Turquia até ao Golfo
Pérsico). Ainda Roma mal acabara de nascer (753 AC) quando o Império Assírio
via os seus últimos dias, marcados por séculos de luta contra o Egipto, a
Babilónia, e restantes vizinhos.
No seu apogeu,
a civilização Assíria foi um marco do Conhecimento, com amplas bibliotecas, e
um portento cultural em termos arquitectónicos e artísticos. Muitos de nós
reconhecerão facilmente os baixos-relevos, em alabastro, com guerreiros de
barba encaracolada montados em carros de combate puxados por cavalos,
geralmente representando cenas de guerra com arqueiros, e caçadas a leões.
Igualmente, reconhecemos facilmente os touros alados com cabeça de homem,
criaturas míticas que eram colocadas a proteger os magníficos portões, e
muralhas, das cidades. Estes touros alados são conhecidos como lamassus – porventura os aficionados de
jogos de computador já se terão cruzado com referências a estas criaturas em
alguns jogos como o Diablo, e outros
do mesmo género. Um destes touros alados encontrava-se nos portões de Nergal, nas
muralhas da cidade de Nineveh, umas das mais gloriosas cidades Assírias.
Se reconhecemos
facilmente estas obras é graças ao Museu Britânico, que alberga uma
impressionante colecção de artefactos Assírios. Tive o distinto prazer de as visitar
há pouco mais de seis meses. E o que me levou a escrever este artigo foi
precisamente a vontade de combater esta intenção de apagar a memória que nos
liga aos nossos antepassados. Hoje, somos o que somos graças à nossa História,
à evolução constante das nossas civilizações, às lições que fomos aprendendo,
aos erros que fomos cometendo, aos fracassos e sucessos que alcançámos. O pouco
que posso fazer é partilhar, enquanto grande apaixonado por História e Arte, as
fotografias que tirei no Museu Britânico dos artefactos Assírios. Porque esta é
a única resposta que os homens dignos e civilizados podem dar. Espero que
possam apreciar estas imagens, e se um dia forem a Londres, por favor reservem
uma manhã para ir ao Museu Britânico visitá-las.
(Nota: clicando nas imagens é possível aumentá-las)
Museu Britânico - Galeria Assíria
Museu Britânico - Galeria Assíria
Colossal statue of a winged lion from the North-West
Palace of Ashurnasirpal II, 883-859 BC
Legenda retirada do site do Museu Britânico: link
Panel of Ashurnasirpal
II, 883-859 BC
Legenda retirada do site do Museu Britânico: link
Panel of Ashurnasirpal
II, 883-859 BC
Legenda retirada do site do Museu Britânico: link
Museu Britânico - Galeria Assíria
Caso não tenham
possibilidade de visitar o Museu Britânico, então um salto ao Museu Calouste
Gulbenkian, em Lisboa, permite ter um breve relance daquilo a que me refiro: link
Para quem, tal
como eu, se interessa por História, e quer aprender um pouco mais sobre esta
civilização, sugiro um passeio pelo deslumbrante “Ancient History
Encyclopedia”: http://www.ancient.eu/assyria/
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