Philip K. Dick é considerado o principal escritor de
ficção-científica de todos os tempos. Para esse título terá muito provavelmente
contribuído o facto de ter escrito a obra que esteve na base do maior filme da História da Humanidade – Blade Runner –, bem como outras
histórias que se traduziram em filmes de sucesso como o “Relatório Minoritário”
do Spielberg.
“O Homem do
Castelo Alto”, escrito em 1962, dá a sensação de mais parecer um guião para uma
espécie de filme noir psicológico em
ambiente de ficção-científica. É um livro muito bem escrito, e de certa forma
“intelectual”. Lida com uma premissa deveras simples: o que teria acontecido se
os nazis tivessem ganho a guerra? Apresenta-nos um mundo governado pelo Reich e pelos seus aliados nipónicos. O
que à primeira vista parece um ponto de partida muito interessante acaba por se
revelar numa história sem grande “uau”. Muito do que se passa no livro acaba
por ser uma espécie de dia-a-dia de um conjunto de personagens que pouco (ou
nalguns casos, nada) têm a ver umas com as outras, numa sociedade que parece
até certo ponto obcecada com o I Ching,
o Livro das Mudanças. É complicado
fazer uma análise crítica a este livro passados 50 anos, e estando
desenquadrado da altura.
Há uma atenção especial num lote de personagens que
centra as suas atenções na comercialização de artigos Históricos dos EUA,
alguns deles provenientes da Guerra Civil, e depois um outro lote de
personagens que filosofa em redor de uma obra de ficção chamada “O Gafanhoto
Pousa Com Força”, escrita por aquele que é, precisamente, o homem do castelo alto. E o principal ponto de interesse é
precisamente este: um livro de ficção, onde os nazis ganharam a guerra, onde o
centro da história é um livro de ficção onde os nazis perderam a guerra. Mas
tirando isto, e o facto de estar realmente muito bem escrito, pouco mais há a
dizer do livro.
Comprei-o numa colecção que o jornal “Público” lançou
este ano, intitulada “Não Nobel”. Uma ideia muito gira, de lançar uma colecção
de grandes escritores que nunca receberam o prémio Nobel, mas que se assumiram
como “colossos da literatura”. Falamos de nomes como F. Scott Fitzgerald, Mark
Twain, Tchékov, Tolstói, Kafka, entre outros.
O que é vergonhoso, e inadmissível, é a qualidade
paupérrima que o livro apresenta. A tradução, embora boa, foi feita claramente
à pressa, e o livro não foi alvo da mais básica revisão. Os erros ortográficos
sucedem-se a uma velocidade agonizante. De meio do livro para a frente então é
um fartote. Torna-se um desafio encontrar uma página que não tenha pelo menos
dois ou três. Depois, há algumas opções verdadeiramente duvidosas, como o facto
de haver frases inteiras em alemão que não são alvo de tradução. Não sei como
funciona a “convenção das traduções”, se o tradutor traduz o que lhe apetece,
ou se o escritor dá algum tipo de indicações para não traduzir algumas coisas,
mas é um bocado absurdo. Mais, se as frases em japonês são traduzidas, porque
raio não são as frases em alemão? A menos que seja alguma forma de “ambientar o
leitor a um mundo em que os alemães mandam” (para isso já nos chega a
realidade, obrigado). Até gostaria de deitar uma vista de olhos ao original
para verificar se de facto é impressão minha ou o tradutor traduziu “comic
book” por “revista cómica”. Eu espero que haja uma “explicação científica” para
isto, e que eu a desconheça, pois a haver outra explicação, é tão horrendo que
só dá vontade de atirar o homem para uma cela cheia de zombies – aqueles saídos
directamente das revistas cómicas.
Enfim, darei o benefício da dúvida…
Em suma, todas estas faltas de qualidade já seriam
merecedoras de um “torcer do nariz” se o livro fosse oferta, mas num livro pelo
qual paguei 7 Euros… é vergonhoso! Depois queixem-se da pirataria… Assim se
estraga o que foi uma excelente ideia.
A bem da justiça devo dizer que a minha opinião a
respeito do livro difere muito da opinião generalizada. Basta uma pesquisa
rápida na net para se encontrarem várias críticas que classificam o livro como
a obra-prima de K. Dick, numa abordagem brilhante à distopia que a história
apresenta. Assumo que talvez eu não tenha interiorizado “O Homem do Castelo
Alto” a 100%, mas também não sou pessoa de alinhar na carneirada de dizer que é
genial só porque os outros o dizem.
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