John Ferrier esperava receber
alguma mensagem ou admoestação da parte de Young quanto à sua conduta; e
realmente recebeu-a, mas de modo imprevisto. Ao levantar-se na manhã seguinte,
encontrou, com grande surpresa, um pequeno rectângulo de papel preso por um
alfinete nas cobertas da sua cama, exactamente à altura do peito. Em letras de
imprensa, grandes e tortas, podia ler-se:
«Restam vinte e nove dias para que
te emendes, antes de…»
Uma palavra, em alemão, escrita com sangue numa parede parece ser a
principal pista que o consulting
detective Holmes tem para se guiar na procura do responsável por um
assassinato atroz.
Um Estudo em Vermelho foi o
primeiro livro que Arthur Conan Doyle escreveu sobre as aventuras daquele que
viria a tornar-se o mais famoso detective de todos os tempos. É neste livro que
Holmes e Watson se conhecem e iniciam a sua longa amizade e colaboração.
O detective é-nos apresentado pelos olhos do Dr. Watson como uma pessoa
deveras estranha. Obcecada e ao mesmo tempo fascinante. Há uma ligeira
incoerência no texto, uma vez que Watson refere-se a Sherlock como alguém sem
conhecimentos de Grande Literatura, e algumas páginas à frente deparamo-nos com
Sherlock a falar de Edgar Allan Poe. Não se pode dizer que seja propriamente
“literatura de cordel”, mas admito que na época, e contexto, em que o livro foi
escrito (1887) eu possa estar equivocado na minha leitura (provavelmente
explica-se pelo interesse de Holmes em jornais de crime).
Certo é que Sherlock Holmes nos fascina desde o momento em que surge. O
génio meio louco que recorre ao seu método dedutivo para juntar as peças do
puzzle que escapam aos detectives banais.
Achei bastante curioso verificar que a história deste livro é quase igual
à d’O Vale do Terror, do qual falei
aqui há precisamente um ano (link),
e que corresponde ao último livro de Sherlock. Em ambos, a chave para desvendar
o crime reside numa sociedade secreta opressiva, localizada décadas antes na
América. Se no outro livro as referências à Maçonaria eram subtis, neste quem
arca com o papel de vilão são os Mórmones. De resto, toda a história é muito
semelhante.
Não se pode dizer que seja um livro emocionante. É importante para os fãs
da personagem, pois é onde tudo começa, e onde se estabelecem as premissas que
deram vida à lenda. Mas, com apenas 175 páginas (edição de bolso da colecção
1117), a história acaba pouco depois de começar. Praticamente são-nos
apresentadas as duas personagens principais, é descrito o cenário do crime,
Holmes desvenda-o quase de imediato, e depois boa parte da acção situa-se no
passado, nas raízes que levaram ao trágico desfecho.
Poderá ser uma leitura ligeira para quem não goste muito de livros
complexos e “pesados”, mas para leitores mais exigentes não se pode dizer que
seja obra que fique na memória. É, no
entanto, uma leitura agradável, bastante acessível, que serve de excelente
companhia numa tarde de Verão (ou num dia de chuva e nevoeiro, dependendo dos
gostos de cada um).
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