A Segunda Guerra Mundial é um dos temas que mais fascina o mundo. Aqui se
viu o melhor e o pior da Humanidade. Quer em termos políticos, quer em termos
militares, quer em termos sociais. Os temas que orbitam em redor da 2ªGM são,
cada um deles, um colosso académico. Todo o avanço industrial e militar, todas
as estratégias, a ascensão do fascismo, o ódio religioso e racial, a bomba
atómica, a hipocrisia, a indiferença. O momento em que nos esquecemos de ser
Humanos.
Este foi, verdadeiramente, o único confronto na História entre o Bem e o
Mal.
Este livro de Claude Quétel (Edições Texto & Grafia, 2010 – que
obscenamente o publica com o acordo ortográfico…) pretende ser uma pequena
introdução a todo o tema, fazendo-o desde as suas raízes até ao término da
guerra em apenas 100 páginas. Cronologicamente, somos conduzidos pelos principais
momentos do ocorrido.
É extraordinariamente eficaz na sua organização. Lê-se com uma facilidade
deslumbrante (li-o em 3 dias, alternando com outros livros), e nunca se perde o
fio à meada. É o livro perfeito para quem quer ter um conhecimento ligeiro
sobre o tema. Foca os acontecimentos essenciais, de forma muito bem
estruturada, encadeado na perfeição, sem perder tempo com palha ou informação
supérflua. É uma perspectiva abrangente, que permite entender – essencialmente
do ponto de vista político-militar – o que se passou nos cerca de 15 anos que
englobam este período (porque, obviamente, isto não se limitou a 39-45).
O livro ajuda nomeadamente a recuperar alguns pontos que foram
branqueados ao longo dos anos, como por exemplo o facto de Hitler e Estaline
serem aliados no início da guerra (hoje em dia toda a gente acha que os russos
sempre estiveram do lado dos bons). Ou o facto de a Suécia ter sido o principal
fornecedor de minério dos nazis. Ou ainda as inúmeras facções apoiantes dos
nazis que existiram em muitos dos países ocupados. Não esquecendo, obviamente,
a indiferença com que os americanos olharam para a destruição a que a Europa
esteve sujeita durante anos seguidos, até que a guerra lhes bateu à porta.
Todos nós temos uma dívida que jamais poderemos pagar a todos aqueles
que, tal como disse Churchill, deram o seu sangue, suor e lágrimas para que a
ameaça nazi fosse parada (e não extinta, ao contrário do que muitos ingénuos
pensam). Não é por falta de informação disponível. Não existe seguramente uma
lista de livros sobre a 2ªGM, pois tal lista seria uma biblioteca em si mesma.
Deve haver poucos temas com tantos livros publicados. E todos nós fazíamos bem
em saber um pouco mais sobre o que se passou, não nos limitando às visões
românticas (e muitas vezes vergonhosamente adulteradas) de Hollywood. Há muitos
livros para ler sobre o mais importante acontecimento da História dos últimos
500 anos. A eficácia do fascismo na Europa do pós-Primeira Guerra; o poder da
propaganda; a cobardia de alguns povos, por oposição à coragem inesgotável de
outros; o horror incompreensível do Holocausto; ou a fragilidade da palavra e
do compromisso em tempos de desespero. A Segunda Guerra Mundial acaba por se
tornar um vício. Quanto mais estudamos sobre ela, mais queremos saber. No
final, permanece sempre a eterna questão: como foi possível?
O livro não é isento de falhas. Mesmo tratando-se de um pequeno livro,
com o objectivo de ser uma breve penada sobre a 2ªGM, não há razão para serem
completamente ignorados tópicos como a kristallnacht,
a Noite das Facas Longas, ou a Insurreição de Varsóvia (este, para mim, um dos
episódios mais dignos de memória – pela sua coragem – de toda a guerra).
Não obstante, é uma leitura recomendada, essencialmente expondo de forma
muito clara os passos políticos e militares que marcaram o dia-a-dia do
conflito. É curioso verificar que o autor passa um pouco ao lado das questões
ligadas ao Holocausto (propositadamente), e é meticuloso a, por exemplo,
quantificar as toneladas de aço de navios afundados em determinado conflito
naval. E este é o principal atractivo do livro: o enfoque na “máquina de guerra”
no seu ponto de vista mais mecânico. Conhecer os tanques, os aviões, os
couraçados, e até os submarinos. Conhecer os generais, e os principais palcos
do confronto. E, acima de tudo, perceber bem o que foi a estratégia da blitzkrieg, e concluir que, felizmente,
Hitler cometeu o mesmo erro de Napoleão.
Nunca se ataca a Rússia.
Nota: a imagem que ilustra o artigo não corresponde à da edição do livro
que li, mas sim a de uma edição anterior. Isto porque nem no blogue da própria
editora existe a imagem do meu livro.
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