Pergunta: o que é que espera quem vai ver um filme de robots gigantes à
porrada com dinossauros? Resposta: espera ver robots gigantes à porrada com
dinossauros! Quem vai à espera de ver outra coisa é porque entrou na sala de
cinema errada.
Mas antes de falar deste “Batalha do Pacífico” há que falar de duas
coisas.
Coisa Número 1: Filmes de Monstros Gigantes. Desde os primórdios do
cinema que os filmes de acção/espectáculo com monstros gigantes fazem parte das
obras de culto. São prova disso King Kong
(EUA, 1933) bem como Godzilla (Japão,
1954), sem contar com as suas inúmeras sequelas e remakes. A sensação de
fragilidade do pequeno humano a enfrentar o monstro gigante sempre foi um
aliciante para o cinema-espectáculo. É a oportunidade dos cineastas contarem
grandes histórias de coragem e sacrifício face a “impossible odds”. E, ao mesmo
tempo, é a oportunidade dos malucos dos efeitos especiais fazerem rebentar
todos os cenários e mais alguns sem qualquer contenção ou remorso.
Coisa Número 2: Anime/Animação Japonesa. Os desenhos animados japoneses
têm produzido ao longo das últimas décadas as criações mais fantásticas em
termos de ficção-científica. A originalidade de séries como “Space Battleship Yamato”
(anos 70), seguida de todo o BOOM dos anos 80 e 90, basicamente criou todo o
imaginário de quem cresceu nessas décadas (e que faz dos trintões de hoje
eternos adolescentes). Os “anime” lançaram centenas de títulos espectaculares
onde não escapa obviamente a presença dos robots gigantes que lutam contra
monstros igualmente gigantes.
E é aqui que entra Guillermo del Toro. O realizador mexicano tem vindo a
cimentar o seu nome entre os ases de Hollywood, muito graças aos dois filmes de
Hellboy (dos quais não me confesso
particular fã) e ao memorável O Labirinto
do Fauno. Este último é, na minha opinião, o filme fantástico por
excelência da última década, e digo-o sem receios, e metendo na competição “O
Hobbit”, “Prometheus” e tantos outros.
Ora, del Toro quis fazer um filme de robots gigantes à porrada com
dinossauros, e conseguiu demonstrar que, hoje-em-dia, já é possível fazer em
cinema “ao vivo” todas aquelas sequências de acção alucinantes que estávamos
habituados a ver somente em desenhos animados. Batalha do Pacífico é precisamente isso: uma gigantesca obra de
espectáculo cinematográfico digital. Há que começar, indiscutivelmente, pelo
ritmo do filme. A história não interessa, estamos aqui para usar os nossos
robots gigantes e matar dinossauros fluorescentes que vêm do mar. Ponto final.
É só isso. Se querem uma história bem estruturada, com personagens bem
desenvolvidas, e intensidade dramática, queiram por favor passar para a sala do
lado e ir assistir a O Labirinto do Fauno.
Aqui temos muitas luzes, muitas explosões, e um ritmo alucinante que não dá
espaço para o espectador respirar. E a “coisa” resulta bem. As sequências de
acção não são nada aborrecidas (ao contrário do que acontece com grande parte
dos filmes deste género), todas as personagens são interessantes e fazem
sentido. Nem perdem tempo a apresentar as personagens, ou a explicar a premissa
do filme, ou a sustentar o que quer que seja. Os dois minutos iniciais são
assim: apareceu uma brecha xpto interdimensional do fim-do-mundo e o
diabo-a-sete, de onde começaram a aparecer dinossauros gigantes cheios de cores
giras que desataram a atacar as cidades costeiras, e portanto nós agora
construímos robots gigantes com pilotos humanos para lhes dar nas fuças.
Queiram por favor apreciar as próximas duas horas de puro cinema espectáculo. E
sim, até estão autorizados a comer pipocas durante o filme.
Voltando às personagens, estas estão bem enquadradas na história. Até
mesmo os dois “cientistas” (atenção às aspas) que servem de comic relief no filme acabam por ter o
seu espaço. Todos os pilotos dos robots estão bem pensados, e representam as
grandes nações (americanos, chineses, russos… espera lá!!! Onde é que está o
Silva?!? Então e o piloto da Lusofonia?!!? Ultraje!!). Os actores, não sendo
grandes estrelas, cumprem os requisitos mínimos, exceptuando a japonesa, que é
a actriz principal, e que mais parece um peixe morto durante o filme todo – mas
enfim, estamos aqui para ver robots gigantes à porrada com dinossauros! O
destaque em termos de actores vai mesmo para uma miúda japonesa de 9 anos, Mana
Ashida. Está apenas um ou dois minutos em cena e consegue transparecer na
perfeição suprema o que é uma criança aterrorizada, conseguindo inclusive
mimicar as tradicionais expressões das personagens na animação japonesa.
Como é sabido (pelas 4 ou 5 pessoas que ainda se dão ao trabalho de ler
as idiotices que por aqui escrevo), é impossível eu falar de um filme sem falar
da sua banda sonora. E este era um dos aliciantes maiores que levava para o
filme, pois a música ficou a cargo de Ramin Djawadi. Este irano-alemão é o
super-génio responsável por uma das maiores criações musicais dos últimos anos,
a banda sonora da série Game of Thrones.
Já fiz por aqui algumas referências ao dito cujo, mas sempre no contexto da
série (apesar de andar a adiar há bastante tempo um artigo focado
exclusivamente nas brilhantes bandas sonoras). Ora, se em Game of Thrones ele faz uma obra puramente clássica, com orquestra,
aqui dedica-se ao electro-rock (ou algo parecido, já que eu não sou
propriamente perito em classificar estilos musicais). E o resultado é
fenomenal. É a música mais-que-perfeita para este filme. Cheio de ritmo,
intensidade épica, e a salientar cada uma das cenas de acção. Fixem o nome deste
animal, pois é alguém que tem muitas cartas a dar no futuro próximo, e com esta
versatilidade… o Mestre tem
concorrência à altura!
E no fundo é isto. Quem quer ver um bom entretenimento com robots
gigantes à porrada com dinossauros tem aqui um festim. O sentimento de dimensão
está bem presente em todo o filme. Del Toro faz um trabalho magnífico de
esmagar o espectador com cenários absolutamente magníficos e com uma escala
digna de cinema. Ver este filme na televisão não é certamente a mesma coisa, e
seguramente perde-se muito do seu impacte. Há ainda que destacar a atenção aos
detalhes que o realizador demonstra. Há alturas em que dá vontade de berrar no
meio do cinema “carrega no botão de pausa!”, para que possamos ficar meia hora
a babar-nos com a riqueza de cada cena. É uma espécie de Avatar, mas com robots
e dinossauros (espera lá, mas isso não era a mesma coisa que aparecia no
Avatar??).
E a parte boa de escrever uma crítica sobre este filme é que não se corre
o risco de fazer spoilers! É simples:
não há spoilers! É um filme de robots
gigantes à porrada com dinossauros. Adivinhem quem ganha no fim? Não acreditam
em mim? Então espreitem aqui: link.
Não há spoilers!
E o potencial de merchandise
deste filme… ui! Se for feito por gente competente, paga três ou quatro vezes o
filme.
Para terminar, fui ver este filme na tal nova sala IMAX do Colombo. Já
que andava por aí a ser tão badalada, vamos lá dar uma espreitadela. Começou
logo bem, depois de comprar os bilhetes e ao entrar para a sala: Hum? Óculos 3D? … Como assim, o filme é em
3D? Só mesmo um gajo muito bronco é que compra bilhetes para um filme 3D
sem dar por isso. Ainda por cima um gajo muito bronco que se assume como o
maior cruzado anti-3D no planeta inteiro (e na brecha oceânica de onde vêm os
dinossauros). Mas enfim, devo dizer que o 3D até estava muito bom, se bem que,
mantenho a minha opinião: nada acrescenta aos filmes.
Mas vamos ao cerne da questão: vale a pena ir à sala IMAX do Colombo?
Não! Primeiro, porque o preço do bilhete são 10 Euros, e depois porque as
mentes acéfalas que gerem o centro comercial cobram 3,5 Euros para estacionar o
carro no interior do Colombo. Se já é estúpido pagar para estacionar num centro
comercial onde vamos gastar dinheiro, ainda mais estúpido é praticar preços que
nem nas áreas vermelhas de Lisboa os parquímetros cobram. Em suma, pagar quase
15 Euros para ver um filme, o triplo do preço em qualquer outro lugar.
Portanto, senhores do Colombo, vão roubar o Godzilla que vos pariu, que eu não
estou para sustentar chulos. Há centenas de boas salas de cinema no país todo,
dispenso as do Colombo.
Pelo Melhor:
BOOM! CRASH! ZOING!
KABOOM! SCREEEEEEK! SMASH! BANZAAAAAAAI! E dinossauros a voar aos
pedaços. Cinema-espectáculo de alto nível. Entende-se por que razão Peter
Jackson foi buscar del Toro para O Hobbit.
Esqueçamos o quotidiano, e dediquemos duas horas a deliciarmo-nos a ver robots
gigantes à porrada com dinossauros. A propósito, ficam a saber que nesta
crítica escrevi oito vezes robots
gigantes à porrada com dinossauros.
Pelo Pior:
Aquele peixe morto que faz de piloto japonesa. Nem num filme de robots gigantes à porrada com dinossauros
(ha-ha, e vão nove!) se consegue aturar alguém com tamanha falta de presença no
ecrã.
P.S. Só mesmo para que não restem dúvidas: robots gigantes à porrada com
dinossauros. E assim chegamos a dez!
:)
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