Imaginemos que eu era um estudante de Erasmus e que tinha vindo a Portugal
para fazer um estágio. Logo à chegada a Lisboa, nos primeiros dias de Agosto,
fico a saber que um banco desapareceu durante um fim-de-semana.
Pelos vistos, por agravada trafulhice, isto leva a uma série de
consequências, entre as quais a insolvência de várias empresas espalhadas por
esse mundo fora. Ao que tudo indica, o tal banco estava cheio de buracos,
apesar de dias antes o Governo, o Presidente da República, e o Governador do
Banco de Portugal assegurarem a toda a gente que podiam investir à vontade no
banco, porque este era inteiramente sólido.
Não bastando o referido, a 2ª ou 3ª maior empresa do país leva um tiro no porta-aviões porque
aparentemente decidiu emprestar 900 milhões de Euros ao dito banco, sem ninguém
perceber exactamente porquê.
Dias depois, tomo conhecimento que há uma tempestade qualquer na Justiça,
pois os tribunais “mudaram de sítio”, e uma coisa chamada Citius impede o
acesso a uma catrefada de processos judiciais durante uma data de tempo.
A ministra diz que houve sabotagem.
O Ministério Público diz que não houve.
Em simultâneo, dá-se a abertura do ano lectivo. Mas afinal não se dá,
porque os professores parece que não foram colocados. Ah, afinal já foram
colocados. Não, pelos vistos foram agora descolocados. Esperem, agora foram
colocados cem vezes em sítios diferentes.
O ministro explica. É tudo uma questão gramatical: “Mantêm-se é diferente
de manter-se-ão!”
Passou-se um mês, e ainda não há aulas. Acho tudo isto absurdo, mas pode
ser que os nativos estejam habituados e achem isto normal.
Decido dar um salto até à Assembleia da República. Vejo um ministro a
fazer figuUUUUUURA de paAAAAARVO, e um secretário de estado quase à estalada
com um deputado em acesa disputa por – imagine-se! – um microfone. Parece haver
uma espécie de “inconseguimento” nesta gente eleita por este povo.
Ainda meio atordoado, fico a saber que há suspeitas de corrupção ao mais
alto nível, à conta de uns tais “visto gold”, que envolvem presidentes de
institutos, directores da polícia, secretarias de estado, arrasta onze pessoas
aparentemente de elevada importância em instituições públicas para a prisão, e
provoca a queda de um dos três ministros mais importantes do governo. Pelo
meio, o vice-primeiro-ministro faz publicidade à REMAX.
Já completamente sem saber para que lado me virar, eis senão quando um
ex-primeiro-ministro é detido à saída do avião, tendo as televisões cá fora a
filmar a saída do aeroporto. Passam três dias de total estupefacção, com carros
da polícia a entrar e a sair de garagens como se o mundo estivesse a acabar,
enquanto alguns tipos agitam bandeiras do PNR. O Campus da Justiça tem a
interessante particularidade de permitir às câmaras de televisão filmar os
interrogatórios a partir do exterior, o que é algo deveras suis generis.
Passados três dias com uma guerra civil quase a irromper no país, é
decretada a prisão preventiva do ex-primeiro-ministro, estando anunciada a
comunicação para as seis da tarde, que depois passa para as sete, esperem,
afinal é às oito, olha está atrasada, talvez lá pelas dez e meia…
Pego nos jornais do dia seguinte para tentar perceber o que se está a passar,
mas as notícias em destaque o que me dizem é que o ex-primeiro-ministro está
detido na aula feminina da prisão, e que almoçou cozido à Portuguesa, tendo pedido
livros de Filosofia em francês à ex-mulher.
Espera-se a qualquer momento que a Teresa Guilherme pare de dirigir este reality show em que este país mergulhou
nos últimos quatro meses.
E agora, que estou prestes a terminar o meu estágio, e a voltar ao meu
país de origem, apresento-vos o título da minha tese: Ainda acham estranho que os únicos que metem dinheiro neste país sejam
chineses, angolanos e russos?
NOTA: Este trata-se, OBVIAMENTE, de um trabalho ficcional. Qualquer
semelhança com a realidade é, OBVIAMENTE, pura coincidência.
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