A História é o tema mais fascinante que existe.
E a História de Portugal é um tema mais do que fascinante. Sou apaixonado por
História desde miúdo pequeno, embora me confesse um gigantesco leigo na
matéria. Boa parte da culpa deve-se ao meu livro da 4ª classe sobre a História
de Portugal, já não me lembro da editora, mas recordo que tinha as páginas
decoradas a cor-de-laranja e na capa uma fotografia da estátua de Dom Afonso
Henriques que se encontra junto ao Castelo de Guimarães. Foi esse o livro que
me deu a conhecer a História de Portugal, e dos reis que atravessarem as suas
três dinastias mais uma.
Já li muitos livros de História, com
particular enfoque no Império Romano, o meu fétiche, mas como tenho uma memória
digna de uma batata, ou de um peixinho-dourado, metade do que leio esvanece-se-me
da memória...
Ora, justifica-se este pseudo-artigo a
propósito da iniciativa do jornal Expresso de editar uma espécie de colecção de
bolso com o livro “História de Portugal”, escrito por Rui Ramos, Nuno Gonçalo
Monteiro e Bernardo Vasconcelos e Sousa (Esfera dos Livros, 2009). Decidi adquirir
os livros um pouco com aquele espírito de “talvez um dia destes venha a ter
vontade de os ler”. Interesse nunca falta, obviamente, mas convenhamos que nem
sempre é fácil ler livros de História, os quais são por vezes escritos numa
linguagem pouco direccionada para o comum dos mortais. Decidir ler um livro de
História é um investimento considerável. Requer disposição, tempo, e na maioria
dos casos disponibilidade para procurar outras fontes/elementos (seja imagens
específicas, mapas, ou referências diversas).
Peguei então no primeiro volume “apenas para
dar uma vista de olhos e tentar tomar o pulso ao estilo”… e ainda não o consegui
largar. Há já muito tempo que não me caía nas mãos uma coisa tão bem escrita. É
deslumbrante. A facilidade na escrita é desarmante, acompanhada por um ritmo
estimulante, e que à medida que vai desenvolvendo “os episódios” faz alusões a
outros temas cronologicamente posteriores, e que aos poucos acabam por se ir
entrelaçando.
Que surpresa tão agradável.
Além de ser um tremendo estímulo à leitura,
conjuga uma diversidade magnífica de áreas, aliando muitas vezes a geografia ao
enquadramento religioso, e até a ciência pura e dura, ou a própria etimologia.
É difícil ser mais completo. E sempre claro, objectivo, directo, e
direccionando para novas fontes que têm surgido do trabalho de investigação que
se tem feito no país, mas também lá fora. Um primor.
Por exemplo, ficamos a saber que “Na
Península Ibérica, em média, os homens apresentam 69,6% de ascendência ibérica
(«nativa»), 19,8% sefardita e 10,6% berbere”. Portanto, eu tenho 1/10 de sangue
berbere dentro de mim. Pensem duas vezes antes de me chamar nomes…
Nem de propósito, sendo hoje dia 25 de Julho
(Batalha de Ourique), transcrevo um excerto do extraordinário texto que
desvenda aquela que é a figura maior da História da nação.
“No seguimento da batalha e do triunfo nela
alcançado, Afonso Henriques passou a intitular-se rei dos portugueses (portugalensium rex). Este título, que
surge nos diplomas então elaborados na corte de Afonso Henriques, remete para
uma soberania sobre os indivíduos que se identificavam como sendo portugueses
(ou que o autoproclamado rei identificava como tal) e não tanto sobre um
território perfeitamente delimitado ou já estabilizado. Antes de ser «rei de
Portugal» Afonso Henriques era rei dos portugueses (…)”
Antes de ser rei de Portugal era rei dos portugueses. Uma frase destas tem peso.
Pouco mais me resta acrescentar a esta obra,
excepto talvez referir o bom gosto de usar os painéis de São Vicente de Fora
para capa da mesma. Trata-se, sem margem para discussão, da mais importante
obra da História da pintura portuguesa.
É uma triste partida da ironia que esta
colecção surja precisamente na semana em que morreu José Hermano Saraiva, um
dos homens a quem este país mais deve o descobrir e partilhar da sua História.
Dito isto, para terem ideia do quão facilmente
se devora este(s) livro(s) posso dizer que até na praia o tenho lido. Termino,
em tom de manifesto agrado, com uma frase que quando a li me fez chorar a rir,
e que transcrita aqui, fora do contexto, ainda mais piada tem.
“É provável que Portugal tenha sido um dos últimos
refúgios dos neandertais”.
Yup… quanto a isso estamos de acordo!
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