Pompeia. Todos conhecemos a sua história. Bom, todos menos os gajos
envolvidos na criação deste filme, pois aparentemente esses acham que a
história de Pompeia é a história do filme “Gladiador”, mas com um vulcão lá
pelo meio.
O realizador, Paul W. S. Anderson, é conhecido por ser o responsável
pelos filmes da saga “Resident Evil”. Acreditem quando vos digo que isso não é
uma boa razão para se ser conhecido, porque esses filmes estão entre o que pior
se faz no cinema. Tendo em conta este curriculum
invejável, não fui ver o filme com as expectativas muito elevadas. Este filme
consegue ser o exemplo perfeito de tudo o que está mal com o cinema de
hoje-em-dia (Michael Bay, estás-me a ouvir?).
Comecemos pelo protagonista. É o Jon Snow, do Game of Thrones, também conhecido por Kit Harington. E basicamente
é isso… Ele faz de Jon Snow, mas no meio de Romanos. Até acredito que a culpa
não seja do rapaz. Quase aposto que foram ter com ele e lhe disseram “olha, é
para fazeres de Jon Snow, ok?”. E pronto, ele fê-lo na perfeição. Exactamente a
mesma voz cavernosa, o mesmo olhar de cachorrinho mimado, e o mesmo cabelo! Mas
eu aqui vou perder alguns minutos para elogiar o cabelo do rapaz. A sério, vale
a pena. Não me recordo, em toda a minha vida de cinéfilo, de ver um cabelo com
maior protagonismo do que o próprio protagonista. É uma maravilha. O moço é um
escravo, tratado abaixo de cão e à chicotada, e tem o cabelo mais bonito e
arranjado do que as nobres damas Romanas. O moço leva porrada que se farta na
arena, vai ao chão enquanto lhe esmurram as trombas, e logo de seguida
levanta-se com o cabelo perfeitamente arranjado e sem um grão de areia. Não há
um fio de cabelo fora do sítio. Melhor, quando começa a erupção, é cinza e
calhaus a cair por todo o lado, e o cabelo do Sr. Snow permanece mais limpo do
que num anúncio da Linic. Até a giraça que se apaixona por ele vê os seus
longos e sedosos cabelos a ficarem cheios de cinza, enxovalhados, cheios de
caca, enquanto o cabelo do seu apaixonado permanece protegido por um escudo invisível
que nem a Enterprise do Capitão Kirk
consegue ter.
Mas vamos à história. Vou presumir que toda a gente viu o “Gladiador” do
Ridley Scott (caso contrário, não sei o que andaram a fazer com as vossas vidas
nos últimos 14 anos). Pois bem, então vejam lá se isto vos é vagamente familiar...
Há um gajo que é feito escravo e levado para uma escola de gladiadores. Hummm, onde é que eu já vi este filme…
Enquanto gladiador, está sempre de trombas, e quando entra na arena mata tudo o
que lhe põem à frente em menos de trinta segundos sem a mínima expressão
facial. Hummm, onde é que eu já vi este
filme… Na escola de gladiadores, faz amizade com outro escravo-gladiador,
que por acaso é africano e a quem os Romanos mataram a família. Hummm, onde é que eu já vi este filme… A
dada altura, são levados para a arena, onde é encenada uma grande vitória das
legiões Romanas contra um qualquer inimigo revoltoso. Os escravos-gladiadores,
com armas inferiores, e contra trinta vezes mais gajos, conseguem vencer os adversários.
Hummm, onde é que eu já vi este filme…
O antagonista, perante o resultado, comenta “Não é assim que eu me recordo
desta história...” Hummm, onde é que eu
já vi este filme… BOOOM! Explodiu um vulcão! Ah, pronto, então assim já não
é uma cópia descarada do Gladiador!
E sabem qual é a parte mais engraçada? A parte boa do filme é aquela que
se limita a copiar o Gladiador. Daí
para a frente é o “Armageddon” do tal Michael Bay de quem eu tanto gosto… Só
que ainda mais estúpido! Eu não sei o que esta malta de Hollywood toma ao
pequeno-almoço, mas claramente têm alguma dificuldade em perceber o conceito de
“exagerar até à estupidez”. Como se a erupção de um vulcão não fosse uma coisa
suficientemente “bombástica”, toca de mandar em simultâneo um tsunami contra a cidade, no preciso
momento em que as pessoas estão a fugir para as docas para tentar apanhar um
navio. E esse tsunami que varre a
cidade é tão “especial” que até conduz uma trirreme a direito pela rua
principal da cidade. Woohoo! Muita fixe! Mas, esperem, temos que tornar isto
ainda mais épico! E que tal fazermos um dos vários calhauzorros expelidos pelo
Vesúvio acertar em cheio no meio de um dos navios que conseguiu sair das docas
a tempo, e que – SÓ POR ACASO – leva no seu interior uma das personagens
secundárias do filme? Mais! Mais! Queremos mais! Ok, ok, tive outra ideia
brutal! BruuuuuuTAL! Então e que tal: estão a ver a tal giraça nobre Romana?
Então, ela tem uma escrava que é, tipo, assim, prútantos, tipo, buéda amiga
dela, e no momento em que o herói vai, tipo, salvar a giraça, o penhasco onde
se situa a villa em que habitam
desaba, arrastando metade da casa consigo, e pelo meio a escrava é engolida?
Mas, tipo, a casa só desaba até ao sítio onde estão o herói e a amada. Aí nesse
sítio há uma “razão de força maior” para parar o desabamento. Não é uma ideia
muita fixe? Claro que é!
Que sorte tiveram os Romanos de não terem descoberto o Urânio enriquecido
em 79 DC, caso contrário está-se mesmo a ver que o reactor nuclear que se
situava mesmo por baixo da arena dos gladiadores começava a ter uma fuga
naquele preciso momento. Bem, mas assim ao menos tínhamos a sorte de aparecer o
Godzilla na Baía de Nápoles, e isso era muita fixe, porque depois o gajo
começava a dar cabo das trirremes todas, e a matar as pessoas, e… Ah, não,
espera, isso depois era copiar o Pacific
Rim, e isso assim já não podia ser. Vá, pessoal, guardem lá o Godzilla para
o próximo Transformers. Raios, ia
ficar tão fixe um Godzillus Imperatus…
Creio já ter dado uma boa ideia do que é o filme… É pena, mas a “cultura
da estupidificação de massas” é nisto que se traduz. A banalização de
praticamente tudo acaba por destruir toda e qualquer coisa. Ainda mais pena é
porque tanto Emily Browning como Kiefer Sutherland têm desempenhos muito bons.
O “Senhor 24” é um actor fabuloso (digo-o há anos), e dá-se inclusive ao luxo
de procurar fazer um trejeito vocal na personagem, dando-lhe uma pronúncia com
um toque muito subtil (fez-me recordar a personagem dele no Dark City, de 1997, onde faz algo
semelhante).
Não há muito mais a dizer do filme. É “cinema espectáculo” de má
qualidade, com escrita medíocre, realização medíocre, clichés medíocres, e onde
o melhorzinho até é a banda sonora (difícil de distinguir no meio de tanta
banhada), de Clinton Shorter (não conheço), que merecerá da minha parte alguma
atenção quando tiver oportunidade, em particular as peças corais que me ficaram
no ouvido.
Em suma: o WS Anderson e o Michael Bay podem ir os dois fazer filmes
apocalípticos para o lado negro da lua, porque já paravam de chatear a malta.
Pelo Melhor:
O cabelo do Jon Snow. Acreditem em mim. Nem os efeitos especiais do Gravidade conseguem fazer aquilo. Acho
que devíamos começar uma campanha para o cabelo do moço ser nomeado ao Oscar
para “best actor in a supporting role”.
Pelo Pior:
A banalização da cultura de merda. Assim, dito sem papas na língua.
Quando existe tecnologia capaz de fazer planos aéreos deslumbrantes de uma
cidade dos tempos áureos do Império, quando existem bons actores, quando
existem todos os meios possíveis e imaginários para se criar cinema de
qualidade, porquê, porquê, porquê, porquê insistir em fazer coisas tão
medíocres? Chega ao ridículo de uma das personagens citar o tão famoso “Why so
serious?”, só para “ter piada”. Que tristeza se tornou este século XXI que
promove ad nauseum toda esta cultura
banal do mastiga-deita-fora…
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