Como já não ia ver um filme de super-heróis há muito tempo, eis que
decidi ir ver “X-MEN: Dias de Um Futuro Esquecido”. Como o título é demasiado
grande, doravante vou-me referir ao filme como “X5”. Isto porque é o quinto
filme da saga X-MEN. Ou o sétimo, se tivermos em conta os dois Wolverines.
Eu nunca fui particularmente entusiasta dos filmes da saga. Excepto os do
Wolverine, que como toda a gente por aqui sabe considero ambos o “best movie
ever”. Verdadeiramente, somente o “X-MEN: First Class” (2011) me parece um
filme acima da média. Há boas notícias: a minha opinião mantém-se!
Tinha alguma expectativa em relação a este X5. O trailer parecia antever
algo muito bom, juntando um elenco de ultra-luxo, onde se reuniam os actores
dos “dois universos” dos filmes. Infelizmente, fiquei com a sensação que este
foi mais um daqueles casos em que o trailer é melhor do que o próprio filme.
A história não é nada de excitante, contrastando com aquilo que o trailer
fazia crer. Eu sou sempre reticente a estas histórias das viagens no tempo, e o
Passado que altera o Futuro e funhéfunhéfunhé. Mas isso é uma embirração
pessoal. Aqui a premissa é algo mais original. É a mente do Wolverine que é
enviada ao passado para tentar mudar o rumo da História por causa de um evento
em particular. E esta creio ser a principal desilusão do filme. Não temos
verdadeiramente uma interacção entre “os dois elencos”. Temos um cheirinho da
malta do Futuro, à espera de ver o que acontece com a malta do Passado. Talvez
seja coerente, mas sabe a pouco.
A realização do filme (Bryan Singer) não é particularmente entusiasmante,
embora tenha dois pontos que a meu ver se destacam. Dado que boa parte dele é
passado nos anos 70, há uma série de sequências a imitar a gravação da altura,
onde somos transportados para os meios técnicos desse período, com algum
excesso de cor na televisão, e as frames-per-second algo saltitantes. Perdoem
não saber os termos técnicos precisos destas coisas… E depois há a
extraordinária “cena da cozinha”, que é do melhor que vi em cinema
recentemente. Uma sequência com uma personagem (Quicksilver) a mover-se à
velocidade da luz dentro de uma cozinha, enquanto tudo está a mover-se em slow motion ao seu redor vai interagindo
com os vários elementos de uma forma muito cómica. O filme vale quase só por
esta cena.
O desempenho dos actores também não se pode dizer que seja
extraordinário, salvo duas excepções. Muitos destes actores eram
semidesconhecidos quando apareceram nos filmes da saga, caso de Hugh Jackman e
Halle Barry. Os próprios Michael Fassbender e Jennifer Lawrence ainda não
tinham o reconhecimento meteórico destes anos mais recentes. Compreendo que
para alguns voltar a vestir estes papéis 14 anos depois não é muito apelativo.
A grande excepção é mesmo Hugh Jackman, que já deve estar farto de vestir a
pele de Wolverine ao fim de sete filmes, mas que mesmo assim demonstra que é um
profissional muito sério, e até faz um Wolverine um pouco diferente do
habitual, bastante mais maduro, sério e com grande discernimento.
A outra excepção é James McAvoy, que é fabuloso como jovem Professor
Xavier. Aliás, McAvoy é um actor excepcional, mas que infelizmente nunca
atingiu o estrelato. É pena, pois estou seguro que é dos mais talentosos
actores da sua geração. Ainda é novo, pode ser que o tempo lhe faça justiça.
Até hoje não o vi uma única vez a ser menos do que brilhante. A carga emocional
e a expressão facial que coloca em cada cena são dignas de registo.
Quanto aos restantes, Fassbender está a anos-luz do nível com que
participou em “First Class”, os veteranos Ian McKellan e Patrick Stewart pouco
tempo de antena têm, e falta um vilão carismático como existiu em “First Class”
com o magnífico Kevin Bacon.
É de enaltecer o esforço de integrar a história dos X-Men com a História
tal como a conhecemos. No entanto, isso resulta n vezes melhor no “First Class”
com a crise dos mísseis em Cuba. Este filme limita-se a um relance à guerra do
Vietname, e à conferência de paz que se seguiu, assinada em Paris.
Tudo sabe a pouco. As cenas de acção no Futuro, com os Sentinelas (robots
gigantes), estão bem conseguidas, mas têm pouco de original. E já estamos tão
fartos de as ver no cinema… A intriga/trama política não tem dimensão q.b., e a
própria filosofia dos temas abordados já está bastante batida. Não é
verdadeiramente um filme de acção, não é verdadeiramente um filme de drama, nem
é verdadeiramente um filme de super-heróis.
Há algumas dedicatórias extraordinárias no filme – daquelas coisas que os
realizadores gostam de fazer cada vez com mais frequência – como é o caso de um
episódio da série original de Star Trek estar a passar na televisão a dada
altura, e o facto de o Quicksilver usar uma t-shirt com a capa do “Dark Side of
the Moon”.
Não me vou dar ao trabalho de mencionar alguns erros de pormenor que se
detectam no filme, mas vou referir a curiosidade única do local escolhido para
aprisionar o Magneto. Portanto, estamos a falar do vilão mais temido do mundo,
capaz de controlar tudo o que é metal, e que tem que ser preso num bunker
subterrâneo a não-sei-quantos metros de profundidade, cujo único acesso é
através de um elevador que dá para um corredor onde estão 20 guardas. E para
onde é que dá o elevador? Nem mais: para a cozinha do Pentágono. Simplesmente o
sítio onde existem mais facas, garfos, tachos, e objectos de metal…
Pelo Melhor
O filme é competente, surpreende pela reunião do elenco, é diversificado,
e tem cenas muito interessantes (como a da cozinha em slow motion).
Pelo Pior
O sentimento de “isto sabe a pouco” com que saímos da sala de cinema.
Havia aqui tanto potencial, e no fim é apenas um bom filme de entretenimento,
mas que não se destaca por qualquer coisa em particular. Especialmente, revendo
“X-Men: First Class” depois deste é fácil perceber que o filme anterior está
num patamar muito superior.
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