quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Uma aventura do Psy no Banco Alimentar

Não, tenham calma, não se trata de mais um livro da popular série juvenil co-escrita pela antiga Ministra da Educação. Trata-se, isso sim, de um breve relato na primeira pessoa de um dia como voluntário no Banco Alimentar Contra a Fome.
Ora, tudo começou quando uma criatura astróloga me convidou para participar na campanha de recolha de alimentos. Sendo eu uma pessoa cuja generosidade (e humildade) extravasa por todo o lado, aceitei o convite.
Não vou utilizar este espaço para descrever todo o processo, pois acho que já toda a gente sabe mais ou menos como funciona. Vou antes aproveitar para partilhar alguns “momentos de ouro”, daqueles que vale a pena testemunhar e que são fortes candidatos ao Prémio Nobel da Estupidez Humana.
Toda a gente sabe qual o trabalho que os milhares de voluntários (só nesta campanha foram mais de 38.000) que colaboram com o BA fazem, e para o que serve. Igualmente, todos sabem que a gentinha mesquinha que nada faz, nunca fez, e jamais fará, arranja sempre maneira de criticar e deitar abaixo o trabalho dos outros. É impressionante ver a natureza Humana a funcionar em termos de consciência social e ajuda ao próximo. Se por um lado há aquelas pessoas pobres e humildes, que vivem com os tostões contados, mas que mesmo assim colocam uma lata de atum dentro do saco, e ainda pedem desculpa por não poderem dar mais, por outro lado temos aquelas pessoazinhas de coração grande que desafiam a própria criatividade ao evitar a todo o custo, ao bom estilo esperteza saloia, contribuir com o que quer que seja. Posto isto, tive o distinto prazer de testemunhar algumas das “pérolas”…
“Já dei ontem, já dei ontem!”
Portanto, presumo que haja uma larga quantidade de pessoas que tem como passatempo ir ao hipermercado dois dias seguidos. Compreendo a excitação! Eu também fico deslumbrado cada vez que conduzo o carrinho do supermercado pelos vários corredores! Todas aquelas luzes, aquelas cores, aquelas… coisas! Assim que saio dou por mim a pensar “tenho que cá voltar, e já amanhã! Ou ainda hoje mesmo!!!”
“Ah, eu vou só buscar uma coisa!”
Aqui eu compreendo. É importante não perturbar o raciocínio mono-sináptico destas pessoas. Devem ter passado a semana toda a concentrar-se. “No domingo vou ao hipermercado comprar… UM ANANÁS! Mas só posso pensar no ananás! Não posso olhar sequer para o lado! É melhor fazer uma lista onde escrevo dez vezes «trazer O ananás»! Só um! Apenas um! Se forem dois já fico todo baralhado! E isso não pode acontecer!”
E como tal, compreende-se que a pessoa não possa trazer um pacote de arroz para colocar no carrinho da recolha. Quer dizer, sejamos compreensivos… a pessoa agarrava no ananás com uma mão, agarrava no pacote de arroz com a outra… e depois como é que pagava? Precisaria de um terceiro braço!
“Grrrrrrrrr!!”
Hum… aqui não tenho nada a dizer. Dado que não fala canídeo. Algumas pessoas rosnam! É interessante.
- Bom dia, pode colaborar com a campanha de recolha de alimentos?
- Grrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr!
- É só colocar o que puder dar. Arroz, massa, leite…
- GRRRRRRRRRRRRRRRRRR!!!!!
- Mas… desculpe, desculpe… era só… Hum…. Desculpe?
- GRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR RRRRR RRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR RRRRRRR #&@#@@###!!!
Nestes casos os veterinários municipais aconselham a não insistir e/ou perturbar as espécies endémicas transeuntes.
“Para quê? Para ficar a apodrecer num armazém? Isso é que era bom!”
Nem mais. Estas pessoas são visionárias. Mereciam um lugar de destaque como comentadores televisivos. Daqueles que nos bafejam com a sua sapiência diariamente nos canais de televisão. Porque obviamente, toda esta campanha do BA é apenas um gigantesco jogo de paródia! A malta passa meses a preparar uma gigantesca operação de recolha de alimentos, mobilizando trinta e tal mil pessoas que não têm nada melhor que fazer a um fim-de-semana do que acartar sacos, para depois colocar as três toneladas de comida num armazém daqueles muito grandes… e pronto! É só isso! O verdadeiro objectivo disto tudo é apenas encher um barracão com latas de feijão para as formigas irem degustando ao longo da estação seguinte. De onde é que vocês pensam que vem a fábula da cigarra e da formiga? Nem mais!
Abençoadas pessoas visionárias!

E posto isto, chegamos ao “Prémio IgNobel” do ano. A concorrência não teve qualquer hipótese. Até mesmo os cordatos senhores do “GRRRRRRRRRRRRRRRRRRR!!!” ficaram a anos-luz de distância. Eu guardo a vencedora deste prémio num lugarzinho especial do meu coração… chuif, chuif… desculpem este meu momento de fraqueza, pois até fico emocionado a relembrar o episódio. Foi logo à chegada, para começar bem o dia. Mal estacionamos a carrinha vem uma das voluntárias falar connosco. Conversa puxa conversa e questionamos como está a correr. “Epá, está a correr muito bem. Já temos ali uns carrinhos cheios de sacos. Elas há bocado até estavam a falar que estavam com medo por causa daquela entrevista da Isabel Jonet… eu não vi, mas dizem que ela deu um tiro no pé!” E neste momento passa junto a nós uma senhora toda finória, assim com estilo Cinha Jardim, que comenta para o ar: “Um tiro, e de que maneira… Da minha parte não leva nem um tostão!”. Ficamos assim um pouco constrangidos, mas optamos por não responder. Mas o melhor estava ainda para vir. Esta muy distinta cidadã entra no seu BMW Série 3 Coupé, cuja matrícula indicava ter menos seis meses, e arranca…
Latinha de atum… BMW Série 3 Coupé…
Trinta cêntimos versus trinta mil euros…
Esta senhora inspirou-me. De tal maneira que não resisto a fazer-lhe uma dedicatória. Assim estilo “carta aberta”, ou algo que o valha.

Prezado Estupor,
Venho pela presente apresentar-lhe os meus mais sinceros votos de que um bandalho qualquer lhe rasgue os quatro pneus do carro em simultâneo. E que nesse dia não tenha bateria no(s) seu(s) telemóvel(eis). E ainda que esteja a chover a potes. Por último, espero que quando esse dia chegar coincida com uma ida de Vexa. a um restaurante indiano, onde o cozinheiro tenha usado e abusado da condimentação, de modo a dar-lhe a caganeira da sua vida. Daquelas em que se desfaça em cocó liquefeito.
O meu amigo “astrólogo” diz que eu sou uma péssima pessoa, mau como as cobras, vingativo e isso tudo. Defeitos de ser escorpião. Mas eu acredito que tenho um coração generoso, e por isso, para juntar aos votos prévios, espero que no dia D (sendo D de diarreia) esteja a usar as suas botas Prada de cano alto, daquelas em que dá para entalar os jeans. Assim a caganeira ficará devidamente acondicionada, não lhe causando transtorno adicional.

P.S. Bardamerda para si e para a gentalha como Vexa. que devia ser proibida de respirar o mesmo ar do que eu. Mas sabe que mais? Felizmente este mundo é maioritariamente composto por pessoas melhores que Vexa., sendo isso inclusive visível no facto de algumas pessoas colocarem nos sacos com as ofertas de comida, outros artigos como fraldas de bebé, e produtos de higiene pessoal, demonstrando que entre nós há quem tenha consciência social, e perceba que mais importante do que o mediatismo de sarjeta que a nossa imprestável comunicação social tanto promove, é o objectivo final de todo este trabalho, onde se procura algo tão «irrelevante» como dar comida a quem não a tem. Num dos sacos houve inclusive quem tenha colocado uma caixa de bombons. Estes gestos são bonitos, e é desta massa que é feita a maioria dos cidadãos Lusos.
Para terminar, enquanto Vexa. andava a passear a sua cloaca nos seus estofos finórios, isto foi o que nós fizemos:


FELIZ NATAL!

1 comentário:

  1. Muito bem! Fico feliz por saber que gostaste da experiência. Gosto imenso da tua escrita deu para me emocionar, para chorar, para rir... Muito bom! Beijos.

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