Música. Literatura. Cinema. Banda Desenhada. História. Portugal. Cultura. Sociedade. Uma perspectiva sobre o que a Humanidade faz de melhor. De Beethoven a Jodorowsky. De Dune a SPQR. Gnothi Seauton.
Ontem faleceu o maestro Claudio Abbado, um dos grandes directores
musicais do século XX (e XXI). Não sou profundo conhecedor do seu trabalho, mas
bastará dizer que foi quem sucedeu a Herbert von Karajan enquanto director da
Filarmónica de Berlim.
Numa altura em que o mundo cada vez tem menos cultura a sério, fica aqui
uma breve menção e homenagem a um dos homens grandes da promoção da música
clássica.
“Mas tens um problema, Faulques. Um
problema sério. Nenhuma fotografia pode consegui-lo. Eu sou mais prática e
limito-me a coleccionar elos quebrados: essas ruínas com antecedentes
clássicos, achados dos imbecis literatos românticos e revisitadas por artistas
ainda mais imbecis. Mas não é o aroma do passado o que procuro. Não desejo
aprender, nem recordar, mas largar amarras. Dito na tua gíria psicopata, esses
lugares desertos, mecanismos e objectos quebrados são as fórmulas matemáticas
que indicam o caminho.”
Eis-me de volta ao maldito espanhol. Desta feita para falar d’O Pintor de Batalhas, do qual já
transcrevi um excerto por estas paragens. Antes de se falar deste livro há que
referir que Pérez-Reverte foi durante muitos anos repórter de guerra. Ora, a
personagem central do livro é um repórter de guerra (fotógrafo) na reforma. É,
portanto, impossível dissociar a ficção da própria experiência pessoal do
autor.
A história centra-se na personagem de Faulques, um fotógrafo na reforma
que habita num farol na Costa Espanhola, e passa os tempos a pintar um mural,
que representa uma batalha medieval, no interior do farol. A pacatez e solidão
de Faulques são interrompidas pela chegada de Ivo Markovic, uma espécie de
“fantasma do passado” que vai levar “o pintor de batalhas” a um exercício de
memória, recordando boa parte da sua vida, das suas fotografias, e dos cenários
de guerra por onde passou. E é nesse “recordar é viver” que surge a fortíssima
personagem de Olvido Ferrara, colega fotógrafa com quem Faulques viveu uma
intensa paixão. E este é o ponto alto do livro, pois a relação entre as duas
personagens é quase mágica. Daquelas relações que só podem existir na
literatura ou no cinema, entre duas personagens tão magnéticas que é difícil
não as ver com o espelho uma da outra. Não sei até que ponto é que esta relação
é mera ficção, e não fruto de algo vivido pelo próprio escritor há muitos anos,
pois a força que caracteriza as personagens é impressionante. É um escritor
magnífico, sem dúvida, mas custa-me a crer que escreva sobre uma paixão com
tanta vivacidade sem se ter vivido (e morrido) algo semelhante.
Depois disso, Pérez-Reverte faz aquilo que faz melhor: avassala o leitor
com pormenores ricos do tema que aborda no livro em questão. Neste caso é a
fotografia e a pintura. São longos os parágrafos a descrever a forma como o
pintor prepara as tintas, os materiais que usa, os pintores em quem se
inspirou. Igualmente longos são os parágrafos a descrever a máquina com que
tirou “aquela fotografia”, e toda a parafernália técnica que envolve um simples
disparo.
Algo que salta à vista é a profunda revolta da personagem (do autor) com
a idade. Alguém que está na meia-idade e já não gosta de si, do seu corpo, do
seu quotidiano, e recorda com tremenda nostalgia os tempos da juventude. Este é
um livro, também, sobre o não gostar de envelhecer, embrulhado em fortes doses
de uma filosofia melancólica que emerge dos diálogos que Faulques e Markovic
mantêm durante o seu encontro.
E não há muito mais a dizer sobre o livro. É um livro pequeno, e não é
dos melhores de Pérez-Reverte. Não deixa de ser uma boa leitura, mas está
bastante longe de uma Tábua de Flandres
ou de um Cemitério dos Barcos Sem Nome.
Mas, como sempre, o maldito espanhol não falha ao servir-nos uma galeria de
personagens cativantes, cheias de vida e experiências que merecem ser
partilhadas.
Os posts de Balanço Anual aqui
no blogue costumam ser dos mais populares. Tendo em conta esse património,
acresce o peso que tenho sobre os ombros de escrever algo com pés e cabeça.
Quanto ao ano em si, foi igual a todos os outros, com coisas boas e coisas más.
Mas, acima de tudo, foi o ano da Gata Telma!
Vou observando esporadicamente alguns indicadores estatísticos relativos
ao blogue. Quais os dias onde geralmente há mais visitas (segundas-feiras),
qual o número médio de visualizações de cada artigo, quais os artigos mais
vistos no mês que passou, etc. E a Gata Telma rebentou com a escala. Para
termos uma ideia, um artigo normal, por exemplo uma crítica de cinema, atrai
cerca de 16 a 18 visualizações nas primeiras 48 horas. A Gata Telma, no mesmo
espaço de tempo, atraiu mais de 60. Está cientificamente comprovado: gatos e
internet são uma combinação de sucesso.
Mas comecemos então pelos “mais” e “menos” do blogue. Pois bem, dos
artigos aqui colocados no ano de 2013, os mais populares foram:
1º A Gata Telma e os Telminhos (2)
2º Django Libertado
3º Batalha do Pacífico
4º Da Corrupção à Crise – Que Fazer?
É uma distribuição interessante e atípica. O cinema continua a ser o tema
que mais visitantes atrai, mas ter um livro a disputar os primeiros lugares é
algo interessante.
Quanto aos artigos menos populares, foram eles “História da Segunda
Guerra Mundial”, “Emperor – The Gates of Rome” e “200: Anno Wagner”. E devo
dizer que isto me deixa com uma profunda depressão, pois foram precisamente os
três artigos que mais trabalho me deram a compor, pois inclusive dei-me ao
trabalho de fazer uma pesquisa mais abrangente em termos de História para
acrescentar algo mais a cada um dos temas. É inglório constatar que aquelas
peças que mais empenho tiveram da minha parte, foram as que menos interesse
despoletaram na audiência. No caso do artigo sobre os 200 anos de Wagner,
apenas 4 pessoas tiveram interesse em abri-lo. Fico triste, mas - alas! – c’est la vie!
Em relação às restantes estatísticas, houve alguns dados curiosos.
Durante uns largos meses eu entendi não escrever sobre os livros que lia, pois
o interesse que esses artigos recebiam era manifestamente diminuto. No entanto,
a meio do ano reparei numa coisa curiosa. Os artigos mais antigos sobre livros
tinham um crescimento sustentado e constante. Ou seja, um artigo sobre um
filme, ou um qualquer outro tema, atrai muita gente durante uma semana ou duas,
mas depois disso cai no esquecimento, enquanto uma crítica a um livro tem muito
poucas visualizações no momento, mas continuamente vai crescendo, e crescendo,
e crescendo. Notei isto graças a “O Segredo de Afonso III, de Maria Antonieta
Costa”, sobre o qual escrevi em Janeiro de 2012, e que neste momento, no
histórico do blogue, ocupa a 5ª posição dos artigos mais lidos desde que iniciei
o blogue. Se olhar para a lista dos 10 artigos mais populares, cinco deles são
ocupados por livros. Isto é excelente! Foi essa constatação que me levou a
voltar a escrever sobre livros. Juntar o útil ao agradável é como juntar gatos
e internet…
Resta referir que, a título de curiosidade, em Agosto houve um inesperado
afluxo de 16 visitas vindas do Brasil direitinhas ao artigo do “Cloud Atlas”,
que na altura até nem tinha tido grande êxito, e que com esta avalancha entrou
na lista do Top 10.
Feita esta introdução, vamos então às distinções mais importantes da
blogosfera e arredores. Preparem os Oscars, preparem os Nobel, preparem as
medalhas Olímpicas, eis os Prémios Psy 2013:
2013: Uma Música
É pena que 2013 fique para a História como o ano da badalhoca nua a
lamber martelos, porque de facto foi um ano com muita coisa boa a passar-se em
termos musicais. Confesso que poderia escolher metade das canções do álbum de
lançamento dos Imagine Dragons, sendo que tenho um fraquinho especial pelo
“Demons” (link).
Apesar de não ter gostado do novo álbum dos Arcade Fire, o single de lançamento, “Reflektor” (link), também fica entre
os melhores do ano. No entanto, fãs do Prodigioso Psy, tenho a dizer-vos que
este ano o galardão fica em casa. E até podia ficar em casa duas vezes, porque
a música Portuguesa continua a dar cartas. Não apenas cartas, mas ases de
trunfo. Poderia ter ficado a versão da “Canção de Engate” (link) feita pelo Tiago
Bettencourt em acústico, mas por mais 0,0000001 na pontuação, este ano o troféu
vai para o deslumbrante “Desfado” da Ana Moura.
2013: Um Filme
Sem hesitações: The Wolverine! Best Movie Ever!!!
Hmmm, não engano ninguém segunda vez, pois não? Hehehe!
2013 teve muitos bons filmes. Desde “Django Libertado”, passando pelo
emocionante “A Gaiola Dourada”, ou o próprio “O Hobbit: A Desolação de Smaug”.
Mas, como o prémio só pode calhar a um, este ano fica nas mãos de um mexicano
de nome Alfonso Cuáron, responsável pelo fenomenal “Gravidade”. Apesar de todas
as fragilidades que tem em termos de argumento é uma coisa única em termos
cinematográficos, de uma perfeição aterradora, e com a capacidade de
surpreender num mercado de cinema que já pouca originalidade consegue trazer.
2013: Um Livro
Pois é, lá passou mais um ano onde li menos de metade do que gostaria de
ter lido. Mesmo assim, da cerca de uma dúzia de livros que consegui folhear,
inclino-me para escolher o “Emperor – The Gates of Rome”. Nem mais, o de há
bocado. Aquele sobre o qual ninguém leu. Esse mesmo. E sabem que mais? Agora,
por vingança do Chinês, também não falo mai
nada sobre o livro. Tenho dito!
2013: Um Comentário Político
2013: O Momento Mr. Bean do Ano
THE PSY é uma pessoa importante, e como tal de vez em quando tem reuniões
importantes, com gente superimportante, e tal. Em Janeiro, THE PSY mete-se no
Psymobile (que, aproveito para informar, completou 100 000 km mesmo no final do
ano – sai uma taça de champanhe para todas as pessoas cool que já partilharam uma viagem no Psymobile), e segue direito a
Olisipo, capital do Muy Nobre e Sempre Leal Império Psy. Mas, pormenor
engraçado, o Prodigioso detesta conduzir em Lisboa, em particular na zona da
Av. da Liberdade. EM PARTICULAR no dia em que se lembram de alterar todos os
sentidos das vias por causa das alterações na rotunda do Marquês (meu primo)!
Escusado será dizer que depois de ter dado 473 voltas a ruas que nem devem
constar no mapa, o tic tac do relógio
começa a stressar o Prodigioso. Encontrado um lugar para estacionar, vou a
correr ao parquímetro, e saio disparado rua acima em direcção ao local da
reunião. A mais de meio da rua, olho casualmente para a mão e dou por mim a
pensar “Hum? Por que raio venho com um papelinho na mão? Ah, espera! É o talão
do estacionamento! Hã? Mas por que é que o tenho na mão? E agora que penso
nisso… ONDE ESTÁ A MINHA CARTEIRA?!?!?!”
Conclusão: o Prodigioso Psy atirou a carteira para cima do tabelier, fechou a porta do carro, e
desatou a correr rua acima com um papel de estacionamento na mão…
Senilidade precoce? Não, não, nada disso, estava tudo planeado…
2013: Um Momento
Ora bem, meus infantes, é chegado O
Momento. Até aqui é apenas aquecimento e entretenimento. Na realidade, o
que o pessoal quer é chegar à rubrica mais importante de todas. Aquela que nos
brinca com a nostalgia, e faz recordar todos os bons momentos do ano que
passou. Desta vez, por motivos de ordem técnica, THE PSY não levanta a sua taça
de champanhe, mas sim uma de limoncello,
a todos aqueles que: me fizeram crumble
de maçã (pelo menos um deles, já que o outro era com o objectivo de me partir
os dentes); me apelidaram de “Prodigioso” e “Senhor dos Cascos”; me ofereceram
o “Twilight” (versão B.C.); derreteram numa churrascada de Verão com 40º C e má
sangria (culpa do puto surfista que também me estraga a comida); correram o
Algarve de uma ponta à outra para que eu pudesse saciar a fome de choco
grelhado (adoro-vos com cada um dos meus tentáculos); me arrastaram para ver os
The Gift ao vivo, no meio de vacas, bezerros e algodão doce; perderam os jogos
todos contra mim no Arkham, no Zombicide, no Race for the Galaxy, e em tudo o
resto, porque eu sou um gajo buéda cheio de power
e ganho os jogos todos (mesmo aqueles que são cooperativos); me levaram a ver
coisas bonitas no MNAA, e depois no Miradouro do Arco da Rua Augusta, e que ao
descer as escadas riram que nem galinhas histéricas com a senhora do “ATENÇÃO!
Eu vou a passar!”; e que dias depois repetiram a dose, mas desta vez ficámos
como galinhas histéricas à conta do careca que espetou a tromba na porta
transparente do restaurante, soltando um genuíno e poético “foda-se” (aposto
que a marca ainda hoje lá está na porta); trocaram comigo mails e artigos para
debater as Alterações Climáticas e o fracking
(não, não estou a falar de Battlestar Galactica); conseguiram pôr-me a falar
sobre BD de qualidade aqui no blogue (olha que o teu irmão correu Roma inteira
à procura de uma prenda para ti! Trata-o bem!); me levaram a ver um espectáculo
fenomenalístico com águias, corujas, e outros bichos assassinos com bicos e
garras, e até me deixaram fotografar ao lado de uma gaja toda boa, cheia de
pêlo e penas; sufocaram de tanto rir com o jogo “A Odisseia de Pedro” (a
propósito, sabem que o orientador de estágio dele foi o Relvas? – ahahaha, eu
disse que o punha no blogue!).
E para não dizerem que saem daqui de mãos a abanar, guardei uma prenda
para este Balanço. Tomem lá uma foto dos Telminhos junto ao Psymobile. Quem é
amigo? Quem é?
E, como o melhor guarda-se para o fim, ergo uma taça de limoncello, uma
de vodka, uma de champanhe, três de Guinness, e outras tantas do que vos
apetecer, aos meliantes que quase por acaso me levaram a passar o fim-de-ano à
minha Cidade Eterna. Roma é, e será sempre, o meu coração. É a cidade a que
anseio regressar mal acabo de a deixar. É o único sítio do mundo que já visitei
onde sinto as lágrimas a cair pelo rosto enquanto caminho pelas ruas. Onde
sinto o peito apertado ao contemplar cada estátua, cada coluna. Não quero trair
a minha Lisboa, mas por cá não me acontece a voz falhar enquanto estou a falar
de um quadro a outra pessoa, ou a contar o (muito pouco) que sei da História da
cidade. Há uma magia qualquer que me seduz naquelas pedras, uma serenidade
imortal e intemporal que me embarga a voz e humedece os olhos. Roma será sempre
o meu destino, a minha chama e a minha alma. Voltei lá passados sete anos (um
por cada uma das suas colinas). Daqui a outros sete quero lá voltar.
Estátua de S. Pedro,
Basílica de San Giovanni in Laterano, 1711
(Foto do Prodigioso Psy)
Está feito, e está dito! Tratem de garantir que têm um excelente 2014, e
que arranjam uma série de Momentos para recordarmos daqui por um ano. Despeço-me
com amizade, e dizendo… MONKEY BALLS!