segunda-feira, 2 de março de 2015

O Legado da Civilização Assíria


O mundo civilizado assistiu repugnado, na semana passada, às imagens difundidas por um determinado grupo onde era visível a destruição de monumentos e obras de arte com vários séculos. Este artigo podia ser um longo texto a destilar ódio perante o sucedido. Felizmente, sou Português, e Europeu, o que muito me honra e orgulha, mesmo com todas as coisas erradas que possam existir na nossa sociedade. Como tal, responderei da forma que mais se coaduna nesta minha condição: fazendo o esforço possível para enaltecer e fazer perdurar a memória que o referido grupo procura apagar.
Muitas das estátuas destruídas no Museu de Mosul (Iraque) provêm da civilização Assíria, tendo entre 2500 a 3000 anos. Falar do Império Assírio num único artigo de blogue seria uma tarefa inconcebível, dada a sua extensão, a sua importância, e o que significou para a História da Humanidade. Não tenho a pretensão de dar lições de História a ninguém, mas tentarei fazer um enquadramento, enquanto leigo, daquilo a que estou a aludir.
Tal como todos os grandes impérios, atravessou inúmeros séculos, teve períodos de grande domínio, e entrou, eventualmente, em declínio. Para termos uma rápida noção da importância da civilização Assíria, esta é uma das que incorpora aquilo que é geralmente conhecido como o “berço da civilização”, localizado no Crescente Fértil da Mesopotâmia (toda a região desde o sudeste da Turquia até ao Golfo Pérsico). Ainda Roma mal acabara de nascer (753 AC) quando o Império Assírio via os seus últimos dias, marcados por séculos de luta contra o Egipto, a Babilónia, e restantes vizinhos.
No seu apogeu, a civilização Assíria foi um marco do Conhecimento, com amplas bibliotecas, e um portento cultural em termos arquitectónicos e artísticos. Muitos de nós reconhecerão facilmente os baixos-relevos, em alabastro, com guerreiros de barba encaracolada montados em carros de combate puxados por cavalos, geralmente representando cenas de guerra com arqueiros, e caçadas a leões. Igualmente, reconhecemos facilmente os touros alados com cabeça de homem, criaturas míticas que eram colocadas a proteger os magníficos portões, e muralhas, das cidades. Estes touros alados são conhecidos como lamassus – porventura os aficionados de jogos de computador já se terão cruzado com referências a estas criaturas em alguns jogos como o Diablo, e outros do mesmo género. Um destes touros alados encontrava-se nos portões de Nergal, nas muralhas da cidade de Nineveh, umas das mais gloriosas cidades Assírias.
Se reconhecemos facilmente estas obras é graças ao Museu Britânico, que alberga uma impressionante colecção de artefactos Assírios. Tive o distinto prazer de as visitar há pouco mais de seis meses. E o que me levou a escrever este artigo foi precisamente a vontade de combater esta intenção de apagar a memória que nos liga aos nossos antepassados. Hoje, somos o que somos graças à nossa História, à evolução constante das nossas civilizações, às lições que fomos aprendendo, aos erros que fomos cometendo, aos fracassos e sucessos que alcançámos. O pouco que posso fazer é partilhar, enquanto grande apaixonado por História e Arte, as fotografias que tirei no Museu Britânico dos artefactos Assírios. Porque esta é a única resposta que os homens dignos e civilizados podem dar. Espero que possam apreciar estas imagens, e se um dia forem a Londres, por favor reservem uma manhã para ir ao Museu Britânico visitá-las.
(Nota: clicando nas imagens é possível aumentá-las)

 Museu Britânico - Galeria Assíria

 Museu Britânico - Galeria Assíria

Colossal statue of a winged lion from the North-West Palace of Ashurnasirpal II, 883-859 BC

Legenda retirada do site do Museu Britânico: link

 Panel of Ashurnasirpal II, 883-859 BC
Legenda retirada do site do Museu Britânico: link

 Panel of Ashurnasirpal II, 883-859 BC
Legenda retirada do site do Museu Britânico: link

Museu Britânico - Galeria Assíria


Caso não tenham possibilidade de visitar o Museu Britânico, então um salto ao Museu Calouste Gulbenkian, em Lisboa, permite ter um breve relance daquilo a que me refiro: link
Para quem, tal como eu, se interessa por História, e quer aprender um pouco mais sobre esta civilização, sugiro um passeio pelo deslumbrante “Ancient History Encyclopedia”: http://www.ancient.eu/assyria/