segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

200 Anno Wagner


Wilhelm Richard Wagner e Ludwig Van Beethoven não criaram a Música, mas levaram-na à perfeição. Beethoven é o maior criador musical da História. Wagner é o mais importante.
Quando Beethoven morreu tinha Wagner sete anos de vida. Ambos alemães, partilharam a vida com alguns dos maiores criadores musicais da Humanidade, mas é ao “jovem” Wagner que o Século XX deve a evolução musical que viu.
Wagner foi um visionário. Antecipou-se mais de um século a Hollywood. As suas óperas, cujos libretos foram escritos pelo próprio na sua grande maioria, criaram a extensão dramática/épica que somente os grandes filmes do cinema americano vieram muito mais tarde a alcançar. Há pouca coisa épica no cinema que Wagner não tenha feito na ópera. Até mesmo os “efeitos especiais” que tanta maravilha causaram nos cinéfilos foram trabalhados nas encenações dos seus trabalhos.
Esta exuberância foi possível graças, em grande parte, ao mecenato de Luís II da Baviera, rei que estoirou toda a fortuna da família a financiar as produções de Wagner, e a construir o fabuloso castelo Neuschwanstein (no qual eu votei para a lista das novas 7 Maravilhas do Mundo, em 2007), inspirado nas suas obras.
Em 2013 comemoraram-se 200 anos do nascimento do compositor. É triste que isto tenha merecido apenas uma breve notícia de rodapé, e que o ano musical tenha sido marcado por uma badalhoca a lamber martelos e a dançar nua em cima de uma bola. Duzentos anos antes nascia o homem que ganharia a imortalidade com a tetralogia “O Anel do Nibelungo”. Wagner pegou nos heróis da mitologia e do folclore nórdico e criou quatro óperas sem qualquer paralelo. Não há na História da Música outra realização a este nível. O Ouro do Reno, A Valquíria, Siegfried e O Crepúsculo dos Deuses só encontram obras de dimensão similar na literatura de Tolkien e outros génios.
Musicalmente, a tetralogia é de um arrojo assombroso. Não consigo imaginar o que deve ter sido para o público de então ver-se perante uma obra musical com uma pujança destas.
Têm dúvidas? Tentem então colocar-se numa época em que a sociedade estava habituada a ouvir e dançar ao som das valsas de Strauss, e de repente é confrontada com algo como isto:

Erich Leinsdorf "Prelude Act I" Die Walküre


Impressionante, até mesmo nos dias de hoje. Não colocarei aqui aquela que julgo ser a música mais perfeita jamais criada por um ser humano, a famosíssima Cavalgada das Valquírias, pois prefiro aproveitar esta oportunidade para partilhar outras músicas menos conhecidas.
O segredo de Wagner foi criar o leitmotiv, uma técnica de composição que associa um tema em particular a uma das personagens da ópera. Foi isso que os compositores do Século XX aprenderam a fazer, e foi com essa técnica que John Barry desenvolveu o tema de James Bond, e que John Williams (o homem responsável pela minha devoção à Música) desenvolveu a marcha inconfundível de Darth Vader, ou o tema de Indiana Jones. Wagner foi o pai de tudo isso.
O autor está muitas vezes conotado a questões bastante controversas. O facto de ser o compositor de eleição de Hitler levou a que ainda hoje a sua música seja mal recebida em Israel, onde inclusive o maestro Daniel Barenboim recebeu ameaças de morte por conduzir temas de Wagner. Foi um homem muito político, e controverso, mas pretendo falar apenas da sua obra.
A minha paixão pela música clássica começou precisamente com Wagner, há muito anos, quando na minha adolescência comprei, no Jumbo de Cascais, um CD por 800 ou 900 escudos (eu ainda sou desse tempo…) que tinha uma compilação das suas principais obras tocadas pela Royal Philharmonic Orchestra, conduzida por Vernon Handley. Não julguem que referir a orquestra e o nome do maestro é “overdose”. Conduzir Wagner não é para qualquer um. Está somente ao alcance dos grandiosos. Sempre que quiserem inspirar Wagner na sua plenitude, procurem por Erich Leinsdorf.
Para se perceber o porquê da importância de ter o maestro certo, e a orquestra certa:
Wagner Götterdämmerung - Siegfried's death and Funeral march Klaus Tennstedt London Philarmonic


É arrepiante, e comovente, ver Tennstedt a dirigir a Filarmónica de Londres. É porventura a música mais poderosa da História. Um dos prodígios da criação Humana. No final, Tennstedt está exausto. As lágrimas caem-lhe pelo rosto. O suor escorre-lhe da testa. O corpo treme. Isto é dirigir Wagner. Estamos no domínio dos deuses. Depois disto, nada resta…

Sem comentários:

Enviar um comentário