terça-feira, 12 de agosto de 2014

Guardiões da Galáxia




Queria começar este artigo como uma frase que dissesse “Este filme é fabuloso! Corram a ir vê-lo!”. Já por aqui comentei que a Marvel Studios se está a tornar no maior gigante do entretenimento cinematográfico de qualidade. Portanto, voltem lá à primeira frase deste parágrafo, e sigam o conselho do mestre!
Quando há cerca de um ano surgiu o trailer deste Guardiões da Galáxia, a minha primeira reacção foi “Ooook, lá vem asneira da grossa!” Apesar de ter consumido doses industriais de comics quando era puto, nunca tinha ouvido falar destes tipos. O facto de o trailer estar povoado por criaturas multicoloridas, um guaxinim falante, e uma árvore andante, no meio de uma data de naves espaciais cheirou-me a “uma qualquer parvoíce do género Transformers, mas ainda pior”. Ainda bem que estava errado. É raro tal acontecer, mas – alas! – até THE PSY é falível.
Este filme marca definitivamente a entrada da Marvel no património intergaláctico das suas histórias. Apesar de “as estrelas da companhia” serem o Homem-Aranha, o Capitão América, os X-Men, e por aí fora, a cosmogonia da Marvel é imensa, e a maioria das suas grandes histórias dos tempos áureos está precisamente associada a esse inesgotável património.
O aparecimento da personagem Thanos na cena final de “Vingadores” já fazia antever este passo, mas uma coisa é ter a intenção, outra é concretizá-la com qualidade. E tendo em conta boa parte das “experimentações” com a overdose de ficção-científica medíocre que tem chegado ao cinema, havia todas as razões para temer o pior. Mas quem está à frente do projecto cinematográfico da Marvel é mesmo muito bom, tem o calendário muito bem estabelecido, e os filmes de qualidade sucedem-se uns aos outros.
Comecemos pela realização, que ficou entregue a James Gunn. A quem? Sim, essa também foi uma das minhas perguntas. Alguém já ouviu falar deste gajo? Nem por isso… Bom, agora é certo que não me esqueço do nome. A realização é magistral. O filme é space opera ao bom estilo de Star Wars, filmado claramente para favorecer o 3D (não, descansem, eu não fui ver o filme em 3D!), e descaradamente inspirado em J. J. Abrams. Os planos, as cores, os próprios lens flares que são a trademark de Abrams estão presentes em cada frame. E o resultado final é magnífico. O próprio J. J. Abrams que se ponha em sentido, e se esmere em 2015 com o Episódio VII da saga Star Wars, porque aqui tem concorrência à altura.
Depois temos o protagonista, Chris Pratt. Outra vez: quem? Alguém já ouviu falar deste gajo? Eu só sei que ele existe porque há dois meses vi o “Her” (parem tudo o que estão a fazer e vão vê-lo, porque é outra coisa fantabulástica). Entregar o protagonismo de um filme destes a um tipo semidesconhecido não é um risco demasiado grande? Não. Não, porque – como já referi – a equipa por detrás do projecto cinematográfico da Marvel é muito boa, e sabe muito bem o que está a fazer. Pratt adequa-se na perfeição à personagem, uma espécie de pateta bonacheirão que aparenta andar sempre aos papéis por todo o lado onde passa. É o anti-herói perfeito, muito diferente dos heróicos Capitão América e Thor, ou do cool Homem-de-Ferro.
Entenda-se que este Guardiões da Galáxia é um filme de super-heróis com comédia para adultos. Isto não é uma coisa para crianças. Aqui as personagens são bardajonas, usam piadas impróprias e fazem gestos obscenos. Todo o filme é pontuado por um extraordinário nonsense, que escapará a muitos dos espectadores que levam estes filmes demasiado a sério. Isto é entretenimento, de elevadíssima qualidade, com um argumento bastante sólido. E é divertido, com humor inteligente, sem aquelas “piadinhas fáceis para idiota perceber”. Há um diálogo brilhante em redor de um thesaurus, e referências à pintura de Pollock! Isto não é habitual num filme de super-heróis. Muitos dos diálogos são inesperadamente longos, desafiando tudo o que à edição de um filme diz respeito para quem segue as regras by the book. E isso contribui para aumentar o nonsense brilhante do filme.
Em termos musicais, os créditos ficam nas mãos do já veterano Tyler Bates, essencialmente conhecido pela sua colaboração com Zack Snyder (de onde resultou aquele que é provavelmente o seu melhor trabalho: “300”). No entanto, a banda sonora original passa em grande parte “ao lado”, dado o enfoque no Awesome Mix Volume 1 (há que ver o filme…). Muito semelhante ao que Snyder já tinha feito em “Watchmen”, aqui existe o domínio de músicas de sucesso antigas, que dão uma dinâmica interessante à maioria das cenas. Tenho sérias dúvidas que alguém saia da sala de cinema sem ser a cantar algo próximo de “ooga-chaka, ooga-chaka, ooga-ooga” (link).
Feitas as contas, são duas horas de space opera ao mais alto nível, que demonstram para quem ainda tinha dúvidas que a Marvel percebeu que o seu futuro não estava na 9ª, mas sim na 7ª Arte. A qualidade visual é irrepreensível, o filme é sólido apesar dos muitos clichés, Rocket (o guaxinim) é divertido sem ser excessivo, e há inclusive grandes momentos cinematográficos. É possível fazer uma comédia espacial para adultos!
Ser geek é definitivamente sexy!

Pelo Melhor
Tudo, e tudo, e tudo! Argumento com pés e cabeça, realização de nível, diversão, comédia, nonsense, nostalgia musical, parvoíce em doses galácticas, alguma lamechice que não deixa de ter piada, e humor inteligente num filme de super-heróis. A Marvel voltou a conquistar-me 20 e tal anos depois. No mesmo ano, consegue apresentar um fabuloso “Capitão América – O Soldado do Inverno”, tratando de temas sérios num filme sério, e um magnífico “Guardiões da Galáxia” que é uma espécie de Star Wars meets Monty Python.

Pelo Pior
Pelo quantas?


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