segunda-feira, 9 de maio de 2011

“A Catedral do Mar”, de Ildefonso Falcones


Barcelona, século XIV: Arnau é um jovem “bastaix” que ganha a vida a carregar os portentosos pedregulhos que darão vida a Santa Maria do Mar, a enorme catedral construída pelo povo da cidade. Acompanhamos Arnau desde que nasceu, e que fugiu com o seu pai aos abusos do nobre que governava as terras em que habitavam. Vêmo-lo crescer nas pulsantes ruas de Barcelona, descritas por Ildefonso Falcones (um maldito espanhol!) com uma mestria comovente. As profissões que ganham vida pelos bairros de Barcelona são caracterizadas exaustivamente, mostrando o enorme trabalho de investigação que o autor conduziu para conseguir fazer nascer esta obra grande da literatura. A própria constituição do interior das casas não escapa ao desenho que as palavras formam. As relações entre nobres, membros do clero, povo, judeus, cidadãos, tudo é minuciosamente pintado pelas letras de Falcones. A vida de Arnau é dura – muito dura! – e passamos todo o tempo a torcer pelas pequeninas vitórias desta magnífica personagem que nos enfeitiça com o seu carácter, cheio de falhas, audácia, e, tantas vezes, ingenuidade.

Nunca um livro me conseguiu fazer navegar de forma tão realista pelas ruas de uma cidade, tal como Ridley Scott nos fez navegar por Roma, recriada em 3D no maravilhoso “Gladiador”. Os edifícios, as pessoas, as profissões, as igrejas, a conduta moral muito diferente dos dias de hoje, as regras impostas por nobreza e clero, as ordens profissionais e as suas exigências, o árduo trabalho de um jovem que desde que o sol nasce, até que o sol se põe, carrega blocos de pedra para criar a catedral do povo, e que aguarda pelo momento em que as suas costas descansam apenas para beber um pouco de água, e comer uma malga de arroz.

Para escrever bem, é preciso talento. Para escrever bem ficção histórica, é preciso talento, e muito trabalho de cultura e investigação. Para escrever “A Catedral do Mar”, é preciso tudo isso, e ainda uma dose generosa de dedicação e entrega a um projecto de dimensões proporcionais a uma catedral. Este maldito espanhol está, portanto, autorizado pela minha ilustre pessoa a pedir a nacionalidade Portuguesa.

Ainda vou na página 400, das 818 que o livro oferece (Bertrand, 2010), e não tenho qualquer pressa de o acabar. Quero que este livro seja como o coelhinho da Duracell, que dura, e dura, e dura...

Agradeço ao muy estimado Dom Nuno I por me ter sugerido esta preciosidade. Quando tiverem um amigo que faça anos, ofereçam-lhe “A Catedral do Mar”. Se ele não gostar, partam-lhe os dentes.

Uma pequenina nota final para o condecorável trabalho de tradução por parte de Ana Duarte.

Ide agora, meus caros, pois eu tenho uma catedral para acabar de construir...


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