quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

“Dragonlance Chronicles”


“What do I see?” he repeated softly. There was great pain and sadness in his voice, not the bitterness she was accustomed to hearing. “I see time as it affects all things. Human flesh withers and dies before my eyes. Flowers bloom, only to fade. Trees drop green leaves, never to regain them. In my sight, it is always winter, always night.”
“And – this was done to you in the Towers of High Sorcery?” Laurana asked, shocked beyond measure. “Why? To what end?”
Raistlin smiled his rare and twisted smile. “To remind me of my own mortality. To teach me compassion.”

A literatura de fantasia pode dividir-se em duas categorias. A fantasia ligeira, onde os elementos fantásticos são um aspecto menor no ambiente, como é por exemplo o caso da história do Rei Artur que engloba o mago Merlin, e a alta fantasia, onde a magia e o fantástico são o elemento dominante. E depois há “Dragonlance”.
Dragonlance é a fantasia levada ao extremo absoluto, com dragões gigantes a digladiarem-se com cavaleiros armados montados nos seus dorsos, cidadelas voadoras, magos com o poder de controlar o Tempo, e deuses que caminham ao lado dos mortais.
 Não se trata apenas de um livro, ou de uma saga de livros. Dragonlance foi criado por Margaret Weis e Tracy Hickman nos anos 80 para integrar o jogo de fantasia mais famoso de sempre, Dungeons & Dragons. Desde então foram escritas dezenas de livros, e outros tantos suplementos de jogos (essencialmente de role-play). Mas concentremo-nos na obra. Dragonlance é o género de fantasia épica, onde as forças do Bem e do Mal se entrechocam para decidir os destinos do Universo, blablabla já vimos isto setecentas vezes. Só que ao contrário das outras obras épicas, aqui não temos os grandes e poderosos heróis a defrontar os senhores das trevas. Aqui não há um Obi-Wan Kenobi e um Yoda a lutarem contra um Darth Vader. Longe disso. As personagens de Dragonlance são os estereótipos mais distantes daquilo que consideramos heróis de fantasia.
Tanis é um half-elf, fruto do cruzamento de um humano com uma elfa, envergonhado pela sua origem “mestiça”, que é visto como o líder do grupo, embora não se considere tal, pois é apenas um simples arqueiro, com o coração dividido entre duas mulheres. É hesitante, inseguro, está longe de ser um grande guerreiro, e sente-se constrangido com as responsabilidades que lhe são colocadas em cima, sem ele pedir.
Flint Fireforge é o melhor amigo de Tanis. Um anão já muito velho, veterano de várias guerras, que passa o tempo todo a rezingar e a amaldiçoar tudo o que se mexe, e que cada vez que entra num barco fica lívido, convencido que é afligido por uma doença mortal.
Tasslehoff Burrfoot é um kender. Não é fácil explicar o que é um kender. Trata-se de uma “pessoa pequenina” que é extremamente curiosa, irresponsável, e que não tem consciência do que é sentir medo. A semelhança com a palavra alemã “kinder”, que significa criança, não deve ser por acaso. Os kenders são o tipo de criaturas que, perante uma avalanche, enquanto toda a gente foge, eles correm alegremente na direcção dela para ver o quão excitante deve ser senti-la de perto. Junte-se a isto o facto de os kenders acharem que o mundo é uma enorme comunidade que partilha todos os bens, que inadvertidamente conseguem sempre inexplicavelmente vir parar aos seus bolsos, e temos a receita para o desastre.
Sturm Brightblade é um cavaleiro frustrado. Age como um Cavaleiro da Ordem de Solamnia, mas na realidade não o é. O Código e a Honra são o mais importante na sua vida.
Laurana é uma jovem princesa élfica, que contrariou a sua linhagem nobre e fugiu em busca do seu grande amor, Tanis, apenas para o encontrar apaixonado por outra mulher, e descobrir que o mundo fora dos palácios dos elfos é algo bastante menos idílico do que esperava.
E por fim temos os gémeos, se bem que de gémeos só têm o nome.
Caramon é um gigante musculado, com a força de cinco homens, mas de compreensão lenta, e que vive quase exclusivamente com a preocupação de proteger o irmão, que o trata com desprezo, pois é um egoísta ganancioso.
Raistlin é um mago com olhos em forma de ampulheta e saúde débil, que passa grande parte do tempo a tomar poções para curar os seus violentos ataques de tosse. A saúde foi o preço que pagou para dominar as artes mágicas. O que poucos sabem é que Raistlin é o feiticeiro mais poderoso do mundo.
E são estas santas alminhas (com mais uma série de personagens secundárias que fazem Dragonlance ter um elenco do tamanho de uma telenovela) que um dia dão por si num mundo onde o desaparecimento de duas constelações anuncia a chegada dos exércitos de Tiamat, a Deusa-Dragão-de-Cinco-Cabeças, e dos seus cavaleiros que comandam legiões de homens-dragão e cidadelas voadoras. Até aqui nada de novo. O interesse de Dragonlance reside no percurso único que os “companheiros” vão fazendo, enquanto tentam travar o avanço das forças de Tiamat. Entenda-se que a maior parte do tempo esse percurso envolve eles estarem a fugir a sete pés, no meio de tareias colossais que apanham, enquanto o mundo desaba ao seu redor. Obviamente, quanto mais episódios destes acontecem, mais o kender Tasslehoff se sente excitado. Esta é uma história de amizade e sacrifício que tenta mostrar que mesmo perdendo a maioria das batalhas é possível ganhar a guerra.
As relações entre as personagens são muito bem trabalhadas, com inúmeros momentos de ruptura e conflito, ao contrário de grande parte das obras onde os heróis são sempre amigos e estão quase sempre de acordo e de mãos dadas.
Este mundo ficcional arrancou com a trilogia “Chronicles”, composta pelos livros Dragons of Autumn Twilight, Dragons of Winter Night e Dragons of Spring Dawning. Actualmente o “universo Dragonlance” conta com quase 200 livros, escritos quase ininterruptamente por dezenas de autores ao longo de mais de um quarto de século. Um volume tão considerável de obras só é possível pela ligação que existe ao jogo Dungeons & Dragons. Apesar de estar longe de ser a qualidade literária de Tolkien a popularidade da obra é enorme, e a qualidade em nada desilude. E digo-o convictamente, agora que leio pela segunda vez estes livros. Os cenários de fantasia que as personagens percorrem ao longo das suas aventuras são memoráveis, variados, cheios de criatividade e intimistas.
Dragonlance não é aconselhado a pessoas que se levam demasiado a sério. Caso contrário, poderão ter um ataque cardíaco ao tomar contacto com os gully dwarves, como Bupu, a curandeira que tem um lagarto morto ressequido que faz magia poderosa, ou os gnomos engenhosos que habitam o Monte Nevermind. Vemos algumas das personagens terem um fim dramático, e deixamo-nos facilmente transportar para este mundo de sonhos, onde não nos importaríamos de vestir uma armadura, agarrar numa lança, montar um dragão, e voar em direcção ao crepúsculo…

Raistlin coughed. “Your brains are in your sword-arm, my brother,” the mage whispered caustically. “Look upon Tarsis, legendary seaport city. What do you see?”
“Well…“ Caramon squinted. It’s one of the biggest cities I’ve seen. And there are ships –just like we heard–“
“The white-winged ships of Tarsis the Beautiful,“ Raistlin quoted bitterly. “You look upon the ships, my brother. Do you notice anything peculiar about them?”
“They’re not in very good shape. The sails are ragged and – “ Caramon blinked. Then he gasped. “There’s no water!”

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