segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Batalha do Pacífico


Pergunta: o que é que espera quem vai ver um filme de robots gigantes à porrada com dinossauros? Resposta: espera ver robots gigantes à porrada com dinossauros! Quem vai à espera de ver outra coisa é porque entrou na sala de cinema errada.
Mas antes de falar deste “Batalha do Pacífico” há que falar de duas coisas.
Coisa Número 1: Filmes de Monstros Gigantes. Desde os primórdios do cinema que os filmes de acção/espectáculo com monstros gigantes fazem parte das obras de culto. São prova disso King Kong (EUA, 1933) bem como Godzilla (Japão, 1954), sem contar com as suas inúmeras sequelas e remakes. A sensação de fragilidade do pequeno humano a enfrentar o monstro gigante sempre foi um aliciante para o cinema-espectáculo. É a oportunidade dos cineastas contarem grandes histórias de coragem e sacrifício face a “impossible odds”. E, ao mesmo tempo, é a oportunidade dos malucos dos efeitos especiais fazerem rebentar todos os cenários e mais alguns sem qualquer contenção ou remorso.
Coisa Número 2: Anime/Animação Japonesa. Os desenhos animados japoneses têm produzido ao longo das últimas décadas as criações mais fantásticas em termos de ficção-científica. A originalidade de séries como “Space Battleship Yamato” (anos 70), seguida de todo o BOOM dos anos 80 e 90, basicamente criou todo o imaginário de quem cresceu nessas décadas (e que faz dos trintões de hoje eternos adolescentes). Os “anime” lançaram centenas de títulos espectaculares onde não escapa obviamente a presença dos robots gigantes que lutam contra monstros igualmente gigantes.
E é aqui que entra Guillermo del Toro. O realizador mexicano tem vindo a cimentar o seu nome entre os ases de Hollywood, muito graças aos dois filmes de Hellboy (dos quais não me confesso particular fã) e ao memorável O Labirinto do Fauno. Este último é, na minha opinião, o filme fantástico por excelência da última década, e digo-o sem receios, e metendo na competição “O Hobbit”, “Prometheus” e tantos outros.
Ora, del Toro quis fazer um filme de robots gigantes à porrada com dinossauros, e conseguiu demonstrar que, hoje-em-dia, já é possível fazer em cinema “ao vivo” todas aquelas sequências de acção alucinantes que estávamos habituados a ver somente em desenhos animados. Batalha do Pacífico é precisamente isso: uma gigantesca obra de espectáculo cinematográfico digital. Há que começar, indiscutivelmente, pelo ritmo do filme. A história não interessa, estamos aqui para usar os nossos robots gigantes e matar dinossauros fluorescentes que vêm do mar. Ponto final. É só isso. Se querem uma história bem estruturada, com personagens bem desenvolvidas, e intensidade dramática, queiram por favor passar para a sala do lado e ir assistir a O Labirinto do Fauno. Aqui temos muitas luzes, muitas explosões, e um ritmo alucinante que não dá espaço para o espectador respirar. E a “coisa” resulta bem. As sequências de acção não são nada aborrecidas (ao contrário do que acontece com grande parte dos filmes deste género), todas as personagens são interessantes e fazem sentido. Nem perdem tempo a apresentar as personagens, ou a explicar a premissa do filme, ou a sustentar o que quer que seja. Os dois minutos iniciais são assim: apareceu uma brecha xpto interdimensional do fim-do-mundo e o diabo-a-sete, de onde começaram a aparecer dinossauros gigantes cheios de cores giras que desataram a atacar as cidades costeiras, e portanto nós agora construímos robots gigantes com pilotos humanos para lhes dar nas fuças. Queiram por favor apreciar as próximas duas horas de puro cinema espectáculo. E sim, até estão autorizados a comer pipocas durante o filme.
Voltando às personagens, estas estão bem enquadradas na história. Até mesmo os dois “cientistas” (atenção às aspas) que servem de comic relief no filme acabam por ter o seu espaço. Todos os pilotos dos robots estão bem pensados, e representam as grandes nações (americanos, chineses, russos… espera lá!!! Onde é que está o Silva?!? Então e o piloto da Lusofonia?!!? Ultraje!!). Os actores, não sendo grandes estrelas, cumprem os requisitos mínimos, exceptuando a japonesa, que é a actriz principal, e que mais parece um peixe morto durante o filme todo – mas enfim, estamos aqui para ver robots gigantes à porrada com dinossauros! O destaque em termos de actores vai mesmo para uma miúda japonesa de 9 anos, Mana Ashida. Está apenas um ou dois minutos em cena e consegue transparecer na perfeição suprema o que é uma criança aterrorizada, conseguindo inclusive mimicar as tradicionais expressões das personagens na animação japonesa.
Como é sabido (pelas 4 ou 5 pessoas que ainda se dão ao trabalho de ler as idiotices que por aqui escrevo), é impossível eu falar de um filme sem falar da sua banda sonora. E este era um dos aliciantes maiores que levava para o filme, pois a música ficou a cargo de Ramin Djawadi. Este irano-alemão é o super-génio responsável por uma das maiores criações musicais dos últimos anos, a banda sonora da série Game of Thrones. Já fiz por aqui algumas referências ao dito cujo, mas sempre no contexto da série (apesar de andar a adiar há bastante tempo um artigo focado exclusivamente nas brilhantes bandas sonoras). Ora, se em Game of Thrones ele faz uma obra puramente clássica, com orquestra, aqui dedica-se ao electro-rock (ou algo parecido, já que eu não sou propriamente perito em classificar estilos musicais). E o resultado é fenomenal. É a música mais-que-perfeita para este filme. Cheio de ritmo, intensidade épica, e a salientar cada uma das cenas de acção. Fixem o nome deste animal, pois é alguém que tem muitas cartas a dar no futuro próximo, e com esta versatilidade… o Mestre tem concorrência à altura!
E no fundo é isto. Quem quer ver um bom entretenimento com robots gigantes à porrada com dinossauros tem aqui um festim. O sentimento de dimensão está bem presente em todo o filme. Del Toro faz um trabalho magnífico de esmagar o espectador com cenários absolutamente magníficos e com uma escala digna de cinema. Ver este filme na televisão não é certamente a mesma coisa, e seguramente perde-se muito do seu impacte. Há ainda que destacar a atenção aos detalhes que o realizador demonstra. Há alturas em que dá vontade de berrar no meio do cinema “carrega no botão de pausa!”, para que possamos ficar meia hora a babar-nos com a riqueza de cada cena. É uma espécie de Avatar, mas com robots e dinossauros (espera lá, mas isso não era a mesma coisa que aparecia no Avatar??).
E a parte boa de escrever uma crítica sobre este filme é que não se corre o risco de fazer spoilers! É simples: não há spoilers! É um filme de robots gigantes à porrada com dinossauros. Adivinhem quem ganha no fim? Não acreditam em mim? Então espreitem aqui: link. Não há spoilers!
E o potencial de merchandise deste filme… ui! Se for feito por gente competente, paga três ou quatro vezes o filme.
Para terminar, fui ver este filme na tal nova sala IMAX do Colombo. Já que andava por aí a ser tão badalada, vamos lá dar uma espreitadela. Começou logo bem, depois de comprar os bilhetes e ao entrar para a sala: Hum? Óculos 3D? … Como assim, o filme é em 3D? Só mesmo um gajo muito bronco é que compra bilhetes para um filme 3D sem dar por isso. Ainda por cima um gajo muito bronco que se assume como o maior cruzado anti-3D no planeta inteiro (e na brecha oceânica de onde vêm os dinossauros). Mas enfim, devo dizer que o 3D até estava muito bom, se bem que, mantenho a minha opinião: nada acrescenta aos filmes.
Mas vamos ao cerne da questão: vale a pena ir à sala IMAX do Colombo? Não! Primeiro, porque o preço do bilhete são 10 Euros, e depois porque as mentes acéfalas que gerem o centro comercial cobram 3,5 Euros para estacionar o carro no interior do Colombo. Se já é estúpido pagar para estacionar num centro comercial onde vamos gastar dinheiro, ainda mais estúpido é praticar preços que nem nas áreas vermelhas de Lisboa os parquímetros cobram. Em suma, pagar quase 15 Euros para ver um filme, o triplo do preço em qualquer outro lugar. Portanto, senhores do Colombo, vão roubar o Godzilla que vos pariu, que eu não estou para sustentar chulos. Há centenas de boas salas de cinema no país todo, dispenso as do Colombo.

Pelo Melhor:
BOOM! CRASH! ZOING! KABOOM! SCREEEEEEK! SMASH! BANZAAAAAAAI! E dinossauros a voar aos pedaços. Cinema-espectáculo de alto nível. Entende-se por que razão Peter Jackson foi buscar del Toro para O Hobbit. Esqueçamos o quotidiano, e dediquemos duas horas a deliciarmo-nos a ver robots gigantes à porrada com dinossauros. A propósito, ficam a saber que nesta crítica escrevi oito vezes robots gigantes à porrada com dinossauros.

Pelo Pior:
Aquele peixe morto que faz de piloto japonesa. Nem num filme de robots gigantes à porrada com dinossauros (ha-ha, e vão nove!) se consegue aturar alguém com tamanha falta de presença no ecrã.

P.S. Só mesmo para que não restem dúvidas: robots gigantes à porrada com dinossauros. E assim chegamos a dez! :)





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