segunda-feira, 5 de maio de 2014

“Trouble Will Find Me” – The National (2013)



Mentiria se dissesse que as probabilidades de vir a conhecer os “The National” eram elevadas se não fosse pelo magnífico “Rains of Castamere”, do não menos magnífico “A Game of Thrones” (ou, mais correctamente, A Song of Ice and Fire).
E o que me leva, assim sem mais nem menos, a vir falar desta banda americana? Por um lado a qualidade da música, por outro lado o facto de o meu cérebro decidir de vez em quando que há algumas noites em que não quer dormir, o que dá imenso jeito para meter os fones nos ouvidos às 4 da manhã e perder-me na boa música.
Não vou falar da história da banda, pois não a conheço. Falarei apenas de “Trouble Will Find Me”, o álbum que foi lançado em 2013 e que numa destas noites me fez companhia lá pelas 5 da manhã. Bem valeu a noite de sono perdida!
Os “The National” têm um estilo muito próprio, que é soberbo. Uma espécie de Rock soturno, lento, que vai entrando melancolicamente no ouvido, enquanto se apodera do nosso âmago. Tem qualquer coisa daquele ar de clube de música pouco frequentado, à meia-luz, onde apenas meia-dúzia de connoisseurs bebem uma cerveja enquanto ouvem as canções plenas de mistério. Há um qualquer romantismo distorcido, quase nostálgico, em cada palavra. E há a fabulosa voz de Matt Berninger, que é 50% da qualidade. Não há muitos vocalistas masculinos com esta categoria. Sempre o registo contido, como se as palavras fossem partilhadas num sussurro, para que mais ninguém as ouça. É tudo fabuloso. O álbum é de uma coerência bonita e segura, nunca explodindo, deixando-nos presos numa languidez que se arrasta ao som cauteloso que acompanha a voz magnífica.
Poderia escrever um artigo sobre cada uma das 13 canções que compõem este sedutor “Trouble Will Find Me”. Mas falarei apenas das três primeiras – qual delas a melhor.
I Should Live in Salt, é a canção que abre o álbum, e logo aí marca o registo do mesmo. Romântica, porventura amargurada, quase chorada. Algo meloso no diálogo entre um par de namorados.

Demons, o que dizer desta obra-prima? Terei palavras para a categorizar? A canção dos vencidos, da tristeza, da depressão. Daqueles dias negros que já todos tivemos, que atravessámos com amargura, e um aperto no coração. É aquele bater no fundo, aquele desesperar, aquele baixar os braços, e aquela voz… Este homem é um portento a cantar.
But I stay down With my demons, But I stay down With my demons

E a seguir entra Don’t Swallow The Cap, a redenção. A Luz que surge logo após Demons. Não é bipolar. A saída das trevas é sempre calma, lenta, com pequenas golfadas de ar.
Estes senhores merecem cuidada atenção. São uma banda pouco conhecida. É óbvio: têm qualidade. Não passa na rádio, não passa na televisão. É aquela música que está reservada para uns quantos selectos, que passa de boca em boca, mas devagarinho, num sussurro, não vá o vento dispersar as palavras…
Passo-a agora dos meus lábios para os vossos ouvidos. Apreciem.
I see a bright white beautiful heaven hangin' over me.

"Trouble Will Find Me", The National, 2013
 

P.S. E se quiserem um bónus, procurem algures aqui no blogue o “Bloodbuzz Ohio”… É do álbum anterior.

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