quarta-feira, 12 de outubro de 2011

“O Homem do Castelo Alto”, de Philip K. Dick


Philip K. Dick é considerado o principal escritor de ficção-científica de todos os tempos. Para esse título terá muito provavelmente contribuído o facto de ter escrito a obra que esteve na base do maior filme da História da HumanidadeBlade Runner –, bem como outras histórias que se traduziram em filmes de sucesso como o “Relatório Minoritário” do Spielberg.
 “O Homem do Castelo Alto”, escrito em 1962, dá a sensação de mais parecer um guião para uma espécie de filme noir psicológico em ambiente de ficção-científica. É um livro muito bem escrito, e de certa forma “intelectual”. Lida com uma premissa deveras simples: o que teria acontecido se os nazis tivessem ganho a guerra? Apresenta-nos um mundo governado pelo Reich e pelos seus aliados nipónicos. O que à primeira vista parece um ponto de partida muito interessante acaba por se revelar numa história sem grande “uau”. Muito do que se passa no livro acaba por ser uma espécie de dia-a-dia de um conjunto de personagens que pouco (ou nalguns casos, nada) têm a ver umas com as outras, numa sociedade que parece até certo ponto obcecada com o I Ching, o Livro das Mudanças. É complicado fazer uma análise crítica a este livro passados 50 anos, e estando desenquadrado da altura.
Há uma atenção especial num lote de personagens que centra as suas atenções na comercialização de artigos Históricos dos EUA, alguns deles provenientes da Guerra Civil, e depois um outro lote de personagens que filosofa em redor de uma obra de ficção chamada “O Gafanhoto Pousa Com Força”, escrita por aquele que é, precisamente, o homem do castelo alto. E o principal ponto de interesse é precisamente este: um livro de ficção, onde os nazis ganharam a guerra, onde o centro da história é um livro de ficção onde os nazis perderam a guerra. Mas tirando isto, e o facto de estar realmente muito bem escrito, pouco mais há a dizer do livro.
Comprei-o numa colecção que o jornal “Público” lançou este ano, intitulada “Não Nobel”. Uma ideia muito gira, de lançar uma colecção de grandes escritores que nunca receberam o prémio Nobel, mas que se assumiram como “colossos da literatura”. Falamos de nomes como F. Scott Fitzgerald, Mark Twain, Tchékov, Tolstói, Kafka, entre outros.
O que é vergonhoso, e inadmissível, é a qualidade paupérrima que o livro apresenta. A tradução, embora boa, foi feita claramente à pressa, e o livro não foi alvo da mais básica revisão. Os erros ortográficos sucedem-se a uma velocidade agonizante. De meio do livro para a frente então é um fartote. Torna-se um desafio encontrar uma página que não tenha pelo menos dois ou três. Depois, há algumas opções verdadeiramente duvidosas, como o facto de haver frases inteiras em alemão que não são alvo de tradução. Não sei como funciona a “convenção das traduções”, se o tradutor traduz o que lhe apetece, ou se o escritor dá algum tipo de indicações para não traduzir algumas coisas, mas é um bocado absurdo. Mais, se as frases em japonês são traduzidas, porque raio não são as frases em alemão? A menos que seja alguma forma de “ambientar o leitor a um mundo em que os alemães mandam” (para isso já nos chega a realidade, obrigado). Até gostaria de deitar uma vista de olhos ao original para verificar se de facto é impressão minha ou o tradutor traduziu “comic book” por “revista cómica”. Eu espero que haja uma “explicação científica” para isto, e que eu a desconheça, pois a haver outra explicação, é tão horrendo que só dá vontade de atirar o homem para uma cela cheia de zombies – aqueles saídos directamente das revistas cómicas. Enfim, darei o benefício da dúvida…
Em suma, todas estas faltas de qualidade já seriam merecedoras de um “torcer do nariz” se o livro fosse oferta, mas num livro pelo qual paguei 7 Euros… é vergonhoso! Depois queixem-se da pirataria… Assim se estraga o que foi uma excelente ideia.
A bem da justiça devo dizer que a minha opinião a respeito do livro difere muito da opinião generalizada. Basta uma pesquisa rápida na net para se encontrarem várias críticas que classificam o livro como a obra-prima de K. Dick, numa abordagem brilhante à distopia que a história apresenta. Assumo que talvez eu não tenha interiorizado “O Homem do Castelo Alto” a 100%, mas também não sou pessoa de alinhar na carneirada de dizer que é genial só porque os outros o dizem.


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