Durante os últimos 10 anos (ou mais) a Música Portuguesa
definhou às mãos de uma série de “artistas” medíocres (alguns que ainda por aí
andam). Longe iam os tempos dos anos 90 em que bandas como os Resistência ou os
Xutos & Pontapés nos brindavam com temas inesquecíveis.
Muita gente criticou o público Português, catalogando-nos
como uma espécie de ingratos que apenas ouviam o que vinha lá de fora. Os anos
recentes provaram que afinal o público Português é muito mais inteligente e
exigente, e não “absorve” qualquer lixo que as editoras lhe tentam impingir.
Após este longo período de marasmo, onde apenas alguns
“dos velhotes” nos brindaram com canções dignas do repertório nacional (Rui
Veloso, Xutos e mais um ou dois estiveram sempre presentes), eis que nos
últimos dois anos surgiram uma série de artistas que aos poucos estão a
reconciliar o público Português com a sua música.
Bandas como “Deolinda”, “Virgem Suta” ou aquela que ouço
enquanto escrevo estas linhas, “Amor Electro” estão a encabeçar um movimento
que faz prova de uma qualidade verdadeiramente assombrosa. Neste momento, temos
artistas que foram recuperar as raízes da sonoridade popular Portuguesa. Os
Deolinda têm um génio a escrever as letras, e uma Ana Bacalhau com uma voz
apaixonante. Os Virgem Suta, num estilo mais boémio, e com uma identidade muito
própria da cultura Portuguesa. Os Amor Electro apresentam uma qualidade de
produção fascinante, associada à voz deslumbrante de Marisa Liz. “A Máquina
(acordou)” é a prova do potencial da qualidade nacional.
Outro fenómeno curioso passou pelo renascimento de alguns
estilos que se pensavam mortos, nomeadamente o Fado. Confesso que não me conto
entre os grandes apreciadores de Fado. Adoro algumas coisas da Amália, algumas
do Carlos do Carmo, e não passo muito disso. Mas ouvir Mariza (com Z),
precisamente uma das responsáveis pelo renascer do Fado, é um prazer único. Não
deixa igualmente de ser interessante ver artistas novos a recuperar canções da
Amália e a actualizá-las para o público contemporâneo. Os “Amália Hoje” fizeram
a canção perfeita ao pegar n’A Gaivota e colocar a voz da Sónia Tavares ao lado
da música do Nuno Gonçalves. Não espanta, sendo ambos dos “The Gift”, uma das
poucas bandas que foi sobrevivendo e dando cartas entre o tal período de
marasmo. Que me perdoem os fanáticos da Amália Rodrigues, mas “A Gaivota” era
uma música deslumbrante nas suas mãos, mas nas dos Amália Hoje tornou-se a
canção perfeita.
E depois deste paleio todo chegamos “à revelação”: Aurea.
Tem passado semi-despercebida nesta verde terra, o que é constrangedor. Lá
fora, esta mulher estaria a discutir os tops com a Adele. Tem uma voz
poderosíssima, um estilo deslumbrante, para além de ser linda de morrer e toda
boa!
Sim, É PORTUGUESA!
Nota: eu não falo
dos “Moonspell”, que muita gente aponta como a banda mais bem-sucedida do país,
porque abomino o estilo de música deles, e é raro aguentá-la mais do que vinte
segundos.
E por fim tivemos nos anos mais recentes o regresso de alguns
veteranos, como o Jorge Palma que lançou o brilhante “Encosta-te a mim”. Não há
muitas palavras para descrever uma canção com uma letra e uma música como esta.
Divina. E o videoclip (podem vê-lo no Youtube) é um testemunho digno daquilo
que é “a vida” aos olhos do Jorge Palma (que eu não conheço assim tão bem, mas
que aos poucos tenho tentando descobrir).
É também justo fazer uma menção honrosa ao David Fonseca,
que tem feito coisas extraordinárias.
Longe vão os tempos dos “Madredeus” e dos “Resistência”,
esquecidos por mais de uma década de trampa medíocre, muita dela obscenamente
promovida pelos objectivos comerciais das “novelas juvenis” e pelos programas
de televisão de “gente talentosa”, que a troco das audiências causaram danos
irreparáveis à música Portuguesa.
É um facto que gostos
não se discutem, e que a uma série de artistas de que eu gosto muita gente
torce o nariz (e vice-versa), mas fico satisfeito por ver que estamos numa
altura em que “o que é nosso” tem qualidade, não nos envergonha, e até por
vezes nos emociona.
Obrigado a todos os músicos Portugueses a quem “o engenho
e a arte” ajudaram a erguer muito acima da comum mediocridade.
Obrigado “Xutos & Pontapés”, por mais de 30 anos a
mostrar o quão bom pode ser o Rock cantado em Português. “Os Contentores”, “Não
Sou o Único”, “Para Ti Maria”.
Obrigado “Rui Veloso”, por seres um Senhor, e mostrares a versatilidade de um artista que não se deixou
envaidecer pelo título de “Pai do Rock Português”, e nos teres oferecido temas
como “Nunca me esqueci de ti”, “A Paixão” e “Todo o Tempo do Mundo”.
Obrigado “Pedro Abrunhosa”, pois apesar de teres feito
muito lixo – e de eu achar que se não procurasses tanto o mediatismo poderes
ser um artista muito melhor – conseguiste coisas inesquecíveis como “Quem me
leva os meus fantasmas”, “Momento” e “Se Eu Fosse Um Dia o Teu Olhar”.
Obrigado “Madredeus” e “Pedro Ayres de Magalhães”, pois a
música erudita, apesar de passar “por outros circuitos”, é também o que faz
elevar o nosso orgulho.
E quanto a todos os “mais novos”… Se não se estragarem
pelo caminho, agradeço-vos daqui por mais uma década. Combinado?
P.S. Se alguém estava à espera que eu falasse do Tony
Carreira… está claramente a ler o blogue errado.
P.P.S. A todos os piratas que por aí andam: não pirateiem
a Música Portuguesa. Não é pelo que custam os CD (comprei Deolinda por 6
Euros), e os nossos artistas merecem o nosso apoio, a menos que tenham saído
das infames novelas juvenis e afins. Nesse caso merecem somente os nossos
tomates podres, untados com água de demolhar bacalhau!
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