segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A Música Portuguesa Recente


Durante os últimos 10 anos (ou mais) a Música Portuguesa definhou às mãos de uma série de “artistas” medíocres (alguns que ainda por aí andam). Longe iam os tempos dos anos 90 em que bandas como os Resistência ou os Xutos & Pontapés nos brindavam com temas inesquecíveis.
Muita gente criticou o público Português, catalogando-nos como uma espécie de ingratos que apenas ouviam o que vinha lá de fora. Os anos recentes provaram que afinal o público Português é muito mais inteligente e exigente, e não “absorve” qualquer lixo que as editoras lhe tentam impingir.
Após este longo período de marasmo, onde apenas alguns “dos velhotes” nos brindaram com canções dignas do repertório nacional (Rui Veloso, Xutos e mais um ou dois estiveram sempre presentes), eis que nos últimos dois anos surgiram uma série de artistas que aos poucos estão a reconciliar o público Português com a sua música.
Bandas como “Deolinda”, “Virgem Suta” ou aquela que ouço enquanto escrevo estas linhas, “Amor Electro” estão a encabeçar um movimento que faz prova de uma qualidade verdadeiramente assombrosa. Neste momento, temos artistas que foram recuperar as raízes da sonoridade popular Portuguesa. Os Deolinda têm um génio a escrever as letras, e uma Ana Bacalhau com uma voz apaixonante. Os Virgem Suta, num estilo mais boémio, e com uma identidade muito própria da cultura Portuguesa. Os Amor Electro apresentam uma qualidade de produção fascinante, associada à voz deslumbrante de Marisa Liz. “A Máquina (acordou)” é a prova do potencial da qualidade nacional.
Outro fenómeno curioso passou pelo renascimento de alguns estilos que se pensavam mortos, nomeadamente o Fado. Confesso que não me conto entre os grandes apreciadores de Fado. Adoro algumas coisas da Amália, algumas do Carlos do Carmo, e não passo muito disso. Mas ouvir Mariza (com Z), precisamente uma das responsáveis pelo renascer do Fado, é um prazer único. Não deixa igualmente de ser interessante ver artistas novos a recuperar canções da Amália e a actualizá-las para o público contemporâneo. Os “Amália Hoje” fizeram a canção perfeita ao pegar n’A Gaivota e colocar a voz da Sónia Tavares ao lado da música do Nuno Gonçalves. Não espanta, sendo ambos dos “The Gift”, uma das poucas bandas que foi sobrevivendo e dando cartas entre o tal período de marasmo. Que me perdoem os fanáticos da Amália Rodrigues, mas “A Gaivota” era uma música deslumbrante nas suas mãos, mas nas dos Amália Hoje tornou-se a canção perfeita.
E depois deste paleio todo chegamos “à revelação”: Aurea. Tem passado semi-despercebida nesta verde terra, o que é constrangedor. Lá fora, esta mulher estaria a discutir os tops com a Adele. Tem uma voz poderosíssima, um estilo deslumbrante, para além de ser linda de morrer e toda boa!

Sim, É PORTUGUESA!
Nota: eu não falo dos “Moonspell”, que muita gente aponta como a banda mais bem-sucedida do país, porque abomino o estilo de música deles, e é raro aguentá-la mais do que vinte segundos.
E por fim tivemos nos anos mais recentes o regresso de alguns veteranos, como o Jorge Palma que lançou o brilhante “Encosta-te a mim”. Não há muitas palavras para descrever uma canção com uma letra e uma música como esta. Divina. E o videoclip (podem vê-lo no Youtube) é um testemunho digno daquilo que é “a vida” aos olhos do Jorge Palma (que eu não conheço assim tão bem, mas que aos poucos tenho tentando descobrir).
É também justo fazer uma menção honrosa ao David Fonseca, que tem feito coisas extraordinárias.
Longe vão os tempos dos “Madredeus” e dos “Resistência”, esquecidos por mais de uma década de trampa medíocre, muita dela obscenamente promovida pelos objectivos comerciais das “novelas juvenis” e pelos programas de televisão de “gente talentosa”, que a troco das audiências causaram danos irreparáveis à música Portuguesa.
É um facto que gostos não se discutem, e que a uma série de artistas de que eu gosto muita gente torce o nariz (e vice-versa), mas fico satisfeito por ver que estamos numa altura em que “o que é nosso” tem qualidade, não nos envergonha, e até por vezes nos emociona.
Obrigado a todos os músicos Portugueses a quem “o engenho e a arte” ajudaram a erguer muito acima da comum mediocridade.

Obrigado “Xutos & Pontapés”, por mais de 30 anos a mostrar o quão bom pode ser o Rock cantado em Português. “Os Contentores”, “Não Sou o Único”, “Para Ti Maria”.
Obrigado “Rui Veloso”, por seres um Senhor, e mostrares a versatilidade de um artista que não se deixou envaidecer pelo título de “Pai do Rock Português”, e nos teres oferecido temas como “Nunca me esqueci de ti”, “A Paixão” e “Todo o Tempo do Mundo”.
Obrigado “Pedro Abrunhosa”, pois apesar de teres feito muito lixo – e de eu achar que se não procurasses tanto o mediatismo poderes ser um artista muito melhor – conseguiste coisas inesquecíveis como “Quem me leva os meus fantasmas”, “Momento” e “Se Eu Fosse Um Dia o Teu Olhar”.
Obrigado “Madredeus” e “Pedro Ayres de Magalhães”, pois a música erudita, apesar de passar “por outros circuitos”, é também o que faz elevar o nosso orgulho.
E quanto a todos os “mais novos”… Se não se estragarem pelo caminho, agradeço-vos daqui por mais uma década. Combinado?

P.S. Se alguém estava à espera que eu falasse do Tony Carreira… está claramente a ler o blogue errado.
P.P.S. A todos os piratas que por aí andam: não pirateiem a Música Portuguesa. Não é pelo que custam os CD (comprei Deolinda por 6 Euros), e os nossos artistas merecem o nosso apoio, a menos que tenham saído das infames novelas juvenis e afins. Nesse caso merecem somente os nossos tomates podres, untados com água de demolhar bacalhau!






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