Quando anunciaram que iam lançar um reboot do Homem-Aranha dei por mim a
bater com a cabeça na parede e a pensar: mas esta gente é parva? Esta parvoíce
dos reboots anda na moda, e ao que
parece Hollywood tem dinheiro a mais para queimar nestas idiotices. E
basicamente “desliguei”. Não me dei ao trabalho de seguir as notícias relativas
ao filme, nem sequer de ver os trailers. Acontece que o filme estreia e dou por
mim inadvertidamente a caminho do cinema para o ver, rezando a todos os
santinhos para que não fosse um barrete demasiado grande, mas sem muitas
esperanças…
Acrescente-se a isto o facto de eu não ser fã
dos filmes anteriores do Homem-Aranha, e estar mais do que enjoado desta moda
actual de filmes de super-heróis a estrear a cada mês.
E portanto vamos ao que interessa: foi um
grande barrete, daqueles de fazer arrancar cabelos com o desespero? Nope. Nada
disso. Foi uma das maiores surpresas que o cinema me trouxe nos últimos anos.
Fiquei completamente rendido ao filme. É extraordinário. Tão espectacular como
o próprio Homem-Aranha.
Os filmes de super-heróis, para convencerem,
necessitam essencialmente de protagonistas fortes, carismáticos, e que consigam
perceber porque razão é que estas personagens ficcionais são tão importantes
para as legiões de fãs que há décadas os adoram. Grande parte do falhanço dos
anteriores filmes do Homem-Aranha deve-se a meu ver à escolha de Tobey Maguire
para interpretar o super-herói mais querido pelo público de todos os tempos
(ok, o Super-Homem talvez conteste este título). Tobey Maguire é uma nódoa, o
maior erro de casting da história do cinema. É assim uma espécie de Mathew
Broderick, mas dez vezes pior. Felizmente, em boa hora, alguém se lembrou de ir
buscar Andrew Garfield para interpretar a personagem da história mais conhecida
do universo dos super-heróis. Não me lembro de alguma vez ter visto este tipo
em algum filme (ainda não vi “A Rede Social”), mas pelo menos aqui ele está
perfeito. Compreende quem é Peter Parker, e como enquadrá-lo no mundo actual.
Faz um geek inteligente, divertido, problemático, e que consegue transparecer
muito bem o deslumbramento que alguém sentiria se um dia acordasse e tivesse os
poderes do Homem-Aranha.
A realização ficou a cargo de Marc Webb (sim,
irónico que o nome do realizador do Homem-Aranha seja “Teia”), um tipo sem
qualquer currículo no mundo do cinema, e que é famoso (?) por fazer videoclips
dos Green Day. No entanto, apresenta uma realização sólida, forte e cheia de
dinâmica, mantendo o filme a fluir a um ritmo que nunca deixa perder a
adrenalina, e que mesmo nas partes mais paradas não se torna aborrecido. Há um
momento particularmente épico no filme, já próximo do final, que envolve gruas
de construção, e que é simplesmente extraordinário, focando uma componente
muitas vezes esquecida, mas essencial no cerne das histórias de super-heróis: a
população de Nova Iorque. O momento é muito bem conseguido, e altamente
inspirador.
Um outro momento muito bem conseguido é o da
morte do Tio Ben, episódio fulcral na criação do super-herói. A forma como é
introduzido no filme é excepcional, categórica, e muito enquadrada com a
sociedade actual. Era impossível fazer melhor.
Para vilão do filme foi escolhido o Lagarto,
um dos mais conhecidos inimigos do Aranha, e que à primeira-vista não suscita
grande interesse, mas que acaba por conferir ao filme um realismo muito maior
do que a maioria das “tristes e estapafúrdias criaturas que compõem as galerias
de inimigos da maioria dos super-heróis”.
O veterano James Horner assina a banda
sonora, fazendo um trabalho muito bom, e refrescante, fugindo ao seu estilo
muito repetitivo e por vezes auto-plagiável.
Como não podia deixar de ser, Stan Lee faz um
cameo no filme. E talvez o mais
divertido de todos os que fez até aqui. Também, como em todos os filmes da
Marvel, há uma cena escondida após os créditos finais, e que revela um pouco do
que virá para o próximo filme.
Resumindo: “O Fantástico Homem-Aranha” é um
excelente filme que não vai desiludir os fãs de super-heróis, ou de filmes de
acção, e que eu aconselho vivamente. É talvez o único filme do género que se
aproxima da perfeição dos Batman de Christopher Nolan, e que foge à
mediocridade com que repetidamente os filmes de super-heróis nos têm fustigado
(quem achou que os “Vingadores” é um bom filme é porque só reparou na Scarlett
Johannson durante as duas horas, e esqueceu-se de tudo o resto).
Para terminar, devo acrescentar que foi uma
enorme satisfação ver o filme em Português genuíno, não seguindo o esterco do
aborto ortográfico. Obrigado a quem quer que tenha tomado essa decisão.
Pelo Pior:
“Com grande poder vem grande
responsabilidade”, esta é a frase-chave da história do Homem-Aranha, e optaram
por a deixar de fora do filme. É certo que trocaram-na por um discurso com algo
muito semelhante, mas uma frase tão icónica não podia ficar fora de cena.
Pelo Melhor:
Andrew Garfield, que sendo um puto com pouca
experiência no cinema consegue captar na perfeição o espírito da personagem, e
ressuscitar um herói que merecia a dignidade no grande ecrã que não lhe tinha
sido dada anteriormente.
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